Comida com alma no novo mundo
Crítica de documentário, por Jorge Manuel Lopes.
“High on the hog: Como a cozinha afro-americana transformou os EUA” é, literalmente, uma delícia de série documental. E uma lição de História. Ao longo de quatro episódios de uma hora, disponíveis via Netflix, o chef e escritor Stephen Satterfield aviva múltiplas linhas gastronómicas que unem África, sobretudo a costa ocidental, ao norte da América, do Texas à Carolina do Sul, da Virgínia a Nova Iorque e Filadélfia.
A inspiração de Satterfield reside no livro quase homónimo “High on the hog: A culinary journey from Africa to America”, de 2011, da autoria da historiadora culinária nova-iorquina Jessica B. Harris. Que, de resto, marca presença na série – é vê-la na imagem abaixo, ao lado do autor do programa, num mercado de sábado no Benim, entre montanhas de quiabos (que são a base para uma sopa sumptuosa, dizem eles, sem margem para contestação deste lado).
De um arranque nas origens, no continente africano, “High on the hog” parte depois num périplo americano, desenterrando origens e narrativas em redor da importância da comida com ADN negro. As origens mais terríveis, mais traumáticas.
Comida é cultura, comida é História, comida é o cimento de comunidades e nações. “High on the hog” é uma sucessão irresistível de batata-doce, macarrão e queijo, pés de porco, molhos picantes de múltiplas pimentas, arroz, gengibre, camarão seco, feijão-frade, melancia, couve-galega, cheesecake de framboesa e hibisco crua, costelinhas de porco, caldo de pasta de tamarindo…