Descendente de agricultores de arroz, a grande vencedora dos Oscars foi “uma criança rebelde”. Aos 14 anos, foi para um internato no Reino Unido, onde aprendeu inglês. “Reaprendi a minha história.” Ao balcão de um bar, descobriu “o gosto pelas pessoas e pelas suas histórias”.
Em 2013, Chloé Zhao tinha 31 anos e já preparava a sua estreia como realizadora. Em entrevista à “Filmaker”, a ainda estudante de cinema antecipava “Songs my brothers taught me” (2015), ou a vida enclausurada de uma jovem índia na reserva de Lakota Pine Ridge, no Dakota do Norte, uma sinopse muito distante, à partida, da história de Chloé, nascida Zhao Ting em Pequim, China, numa família abastada. A fortuna permitiu-lhe frequentar um colégio londrino e o estudo de Ciências Políticas no Mount Holyoke College, Massachusetts, EUA. Porém, à mesma revista, a realizadora revelava que o ambiente opressivo marcante na obra de estreia tinha ressonâncias pessoais. “Remonta ao tempo em que eu era adolescente na China, um lugar onde há mentiras por toda a parte.” E continuou: “Sentia que nunca seria capaz de sair. Muitas informações que recebi quando era mais jovem não eram verdadeiras. Tornei-me muito rebelde em relação à minha família e ao meu passado”.
Oito anos depois, em 2021, estas declarações, recentemente recuperadas, levaram o Governo chinês, e trolls nacionalistas das redes sociais, a boicotarem um feito histórico: Zhao tornou-se a primeira asiática, e a segunda mulher, a vencer o Oscar na categoria de melhor realização, com “Nomadland”, também distinguido há poucos dias com o Oscar de melhor filme.
A imprensa estatal chinesa não fez qualquer menção à cerimónia ou a Zhao. “The Global Times”, jornal do Partido Comunista do país, quebrou o silêncio apenas para aconselhar a realizadora a desempenhar “um papel de mediação” entre a China e os Estados Unidos, em vez de ser “um ponto de atrito”. “Esperamos que ela possa amadurecer cada vez mais”, afirmou-se num editorial publicado apenas em inglês.
A vitória de Zhao não surpreende.”Nomadland” já tinha ganhado o prémio máximo nos festivais de cinema de Veneza e de Toronto. A realizadora tornou-se a segunda mulher a receber o Globo de Ouro para Melhor Realizador, nos 78 anos de história dos prémios da imprensa estrangeira em Hollywood.
Descendente de agricultores de arroz, cresceu “uma criança rebelde”. Aos 14 anos, foi para um internato no Reino Unido, onde aprendeu inglês. “Reaprendi a minha história”, acrescenta. O interesse pela ciência política esmoreceu. A trabalhar ao balcão de um bar, descobriu “o gosto pelas pessoas e pelas suas histórias”. Sem conhecimentos na indústria do cinema, matriculou-se numa pós-graduação em Cinema da Universidade de Nova Iorque. “Gosto de colocar a câmara dentro das personagens.”
“Nomadland” é o drama de uma mulher (Frances McDormand, vencedora do Oscar de Melhor Atriz pela terceira vez) em viagem pelo Oeste norte-americano, uma vida nómada após ter perdido tudo para a grande depressão de 2008.
“Chloé consegue fazer com que nos sintamos especiais com as nossas histórias”, afirmou o marido. Zhao e Joshua James Richards vivem nas Montanhas Topatopa, em Ojai, nos arredores de L.A. Com dois cães, Taco e Galo, e as galinhas Red, Cebe e Lucille. É fascinada pelo Oeste dos EUA. E pelas planícies, da Mongólia ao Dakota. Define-se como uma facilitadora de histórias. “As histórias que são maiores do que eu.”
Chloé Zhao (nascida Zhao Ting)
Cargo: realizadora, argumentista, produtora
Nascimento: 31/03/1982 (39 anos)
Nacionalidade: Chinesa