É uma aflição irracional perante imagens ou objetos com pequenos buracos agrupados ou padrões geométricos, como favos de mel ou esponjas. É uma aversão processada pelo cérebro que provoca suores e arrepios.
É uma sensação desconfortável perante imagens ou objetos que têm buracos ou furos agrupados, padrões irregulares ou geométricos, texturas estranhas. O gatilho pode estar em qualquer lado: num favo de mel, em desenhos circulares, em corais ou romãs, madeiras ou plantas, nos pingos de água, bolhas e manchas na pele, numa simples escumadeira com furos, ou até numa imagem ampliada de um olho de um animal. Não são propriamente essas imagens ou esses objetos que causam aversão, no sentido pleno do termo, mas a forma como o cérebro processa o que vê e remete para o que realmente causa desconforto, com várias sensações pelo caminho.
Quem já sentiu esse desconforto perante uma imagem tipo favo de mel ou padrões geométricos, ao ponto de ter nojo, náuseas, indisposição, suores, confirma que a razão, por si só, não consegue explicar que repulsa é essa que faz desviar o olhar e afeta o corpo. O que incomoda, na verdade, não é a imagem ou o objeto, mas o que tudo isso representa no subconsciente e transmite. Pode ser uma sensação de perigo ou uma ameaça que não existe.
Tripofobia é o nome proposto para esse medo de padrões irregulares ou agrupamentos de pequenos buracos ou saliências. No entanto, a ciência não reconhece isto como uma fobia real que possa ser classificada como um transtorno psicológico. O conceito não está oficializado no mundo da psicologia como uma verdadeira fobia e não é reconhecido no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria. Mas que essa aversão existe, existe, e condiciona maneiras de estar. Há pessoas que se sentem indispostas e que têm sintomas como náuseas, tremores, coceira, suores e, no limite dos limites, um ataque de pânico.
“Há pessoas que sentem essa aflição, essa sensação irracional quando olham para texturas diferentes”, adianta Cláudia Faria, psicóloga clínica. O olhar vê, o corpo sente e há um desconforto perante imagens ou objetos aparentemente inofensivos. O problema está na cabeça. “É uma interpretação cerebral. Não é propriamente das imagens que as pessoas têm medo, mas daquilo que primitivamente lhes desencadeia”, especifica. Os olhos recolhem informações, o cérebro faz associações, o corpo reage. “Há um desencadeamento psicológico e pode haver uma reação desmedida quando, no fundo, se está apenas a olhar para uma imagem com determinados padrões e texturas.”
O cérebro não pára um segundo e uma imagem de favos de mel pode lembrar abelhas e uma colmeia, e o medo é precisamente esse, das abelhas e das suas picadas. Um certo padrão pode lembrar um inseto que não se suporta, uma textura pode remeter para um réptil ou um predador de que se tem nojo. Uma imagem pode fazer lembrar bichos, aranhas, baratas, cobras, sardaniscas – o que quer que provoca repulsa e se queira ver bem longe. Ou também lembrar bactérias, vermes, vírus que provocam doenças.
Imagens de pequenos furos agrupados e superfícies simétricas são apenas o rastilho. “É uma interpretação cerebral”, reforça Cláudia Faria. Não é propriamente uma fobia, mas anda ali à volta do que lhe está subjacente. “É uma aversão e um sentimento de repugnância.”
Conexões através de pensamentos
Não é um transtorno mental, é uma repulsa biológica que associa formas a perigos que são sempre indesejados. Não são conhecidos fatores de risco, não há forma de prevenção, nem medicação específica.
Júlia Machado, psicóloga clínica e de saúde no Hospital Lusíadas Porto, especialista em neuropsicologia, refere que, de acordo com pesquisas, as pessoas com tripofobia associam inconscientemente os buracos ou objetos com padrões irregulares, normalmente relacionados com padrões criados pela natureza, a possíveis situações de perigo. “Essa sensação de perigo é desencadeada sobretudo devido à semelhança entre o aspeto dos buracos com a pele de animais venenosos, como, por exemplo, cobras”, sublinha. “Porque o nosso cérebro ativa conexões através de pensamentos e imagens e, nesse sentido, ele perceciona que está em perigo ou ameaça e daí desencadeia todo um mecanismo de defesa como um estado de alerta”, adiciona. Mesmo que assim não seja.
Se a mente interpreta como uma situação insegura, mesmo não sendo a realidade, o corpo reage à mensagem de perigo enviada da cabeça. Nessas condições, explica, “são ativadas áreas do cérebro que, por sua vez, ativam o sistema nervoso que liberta três hormonas: o cortisol, a noradrenalina e a adrenalina”. E essas hormonas são responsáveis pelas reações fisiológicas no corpo, como suores, taquicardia, náuseas. “Quando ficamos ansiosos, a nossa respiração altera-se e essa alteração desencadeia uma hiperventilação, que pode causar muitos sintomas físicos desagradáveis.”
Seja como for, a tripofobia, que não entra na literatura científica com o rótulo de fobia, depois de alguns estudos, segundo Júlia Machado, “está mais próxima de se encaixar na categoria de fobia específica, ainda que a fobia apresente reações muito mais agressivas do que apenas uma aversão”. Que medo é este? É uma aflição que o cérebro lê a partir do olhar. E o corpo não fica impávido e sereno.
Dez sintomas
• Desconforto
• Arrepios
• Repulsa
• Angústia
• Suores
• Coceira
• Ansiedade
• Náuseas
• Aceleração dos batimentos cardíacos
• Ataque de pânico