Sérgio Conceição: o arrebatador

Sérgio Conceição é treinador do F. C. Porto (Ilustração: Mafalda Neves)

O rosto de Sérgio Conceição nunca mente. A jornalistas, a adeptos, a jogadores, ao presidente. Avesso a bluff, corre o risco, por vezes em vernáculo, sempre direto ao osso. “Vai ser um campeonato a três. Acrescento as equipas de arbitragem”, declarou em 2019, para início de conversa.

Conceição, no caso de Sérgio, não rima com dissimulação. Jorge Costa, antigo capitão do F. C. Porto, lembra o rapaz de 20 anos, chegado às Antas para tratar uma lesão. “Estava emprestado ao Felgueiras, mas nesses dias treinava connosco. O facto de não fazer parte do plantel principal não lhe pôs freio. Num lance mal resolvido, ripostou. E logo naquele balneário. Percebi de imediato quem tinha pela frente.”

Estava-se em 1995 e Jorge Jesus treinava o Felgueiras. “O Sérgio era um jovem, mas um jovem com uma personalidade muito vincada. Lembro-me das conversas que tinha comigo, era fã do Figo. A personalidade que tem hoje como treinador já a tinha quando começou a carreira como jogador”, lembrou mais tarde o agora técnico do Benfica.

Nos anos seguintes, o extremo-direito apaixonaria adeptos. Em Itália – no Inter de Milão vestiu a camisola que seria de Figo, pedindo ao colega que a estimasse -, na Bélgica – mostrando muito talento e mau feitio -, na Grécia, onde terminou a carreira de jogador. Na seleção nacional, que ainda hoje recorda o Europeu de 2000 e os três golos que o rapaz de Ribeira de Frades pregou aos alemães. Detestava o banco. “Quando não jogava, o Sérgio tornava-se insuportável”, sublinha Jorge Costa.

Foi treinado por pesos pesados. António Oliveira, Fernando Santos, José Mourinho. Com este desentendeu-se. Em 2007, afirmava ao DN o desassombro de sempre: “Mourinho não foi nem honesto nem frontal comigo e é isso mesmo que lhe tenciono dizer cara a cara mal o encontre”.

Rui Jorge reconhece no amigo vontade de vencer. Mas o antigo internacional, atual selecionador nacional de sub-21, vai além do “evidente”: “O que melhor define o Sérgio está a montante. A exigência com que ele se prepara, de maneira a que a vitória seja possível. Não facilita”. Gostaria, porém, que o amigo tivesse um pouco mais de controlo. “Penso que isso não tocaria nas imensas qualidades que poderão torná-lo num treinador internacional de top.”

Conceição, que acabou de guiar os dragões à dobradinha (vitórias na Liga e na Taça de Portugal), sabe que um emocional cai sempre de mais alto. Mas também aprendeu que é preciso ter cuidado com os que não se irritam. Os amigos sabem-no temperamental, tempestuoso, “teimoso em demasia”, mas também “generoso sem fazer disso alarde, arrebatado pelo futebol e pela vida”. Casou cedo com Liliana, uma paixão de infância. Estão a celebrar as bodas de prata. Da relação nasceram cinco filhos. Todos rapazes: Sérgio, Moisés, Rodrigo, Francisco e José.

Exigente com o vinho quase tanto como com o treino – “com ele, quem não der o máximo está desgraçado”, avisa Costa -, perde-se numa refeição com amigos. “Adora o meu cabrito no formo”, diz o ex-central enquanto prepara um arroz de cabidela. Encontros de “galhofa”. “Aceito tudo menos vê-lo dançar. Dança muito mal.” Ri. “Gozo tanto com ele.”

Fernando Santos treinou-o na Grécia. “Paixão, caráter e família. Paixão pelo trabalho, é um ganhador que procura sempre mais e melhor e que nunca esconde o que sente. Admito que possa haver no futebol quem o adore ou o deteste, fora do futebol é impossível não gostar dele.” Talhado numa família simples, órfão precoce, abriu-se à fé. “A fé é fundamental na vida do Sérgio”, confessa Fernando Santos. Ora Deus ter-lhe-ia posto água nas veias, se o quisesse imperturbável.

Sérgio Paulo Marceneiro Conceição
Cargo:
treinador do F. C. Porto
Nascimento: 15/11/1974 (45 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Ribeira de Frades)