Vive com seis gatos que conquistam espaço e perturbam a natureza metódica e organizada do investigador. Música, viagens e mesa são prazeres do novo presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte.
O primeiro emprego foi na discoteca do pai, a loja onde nos anos 1970 os bracarenses compravam vinis. Tem por isso, desde adolescente, uma relação íntima com a música. Elege Rachmaninoff – “o Concerto n.º 2 para piano e orquestra enche-me as medidas”, diz – e Pink Floyd. Ainda hoje revisita The Dark Side of the Moon, lançado em 1973, tinha ele 12 anos, e The Wall, o álbum que celebra o grito “professores, deixem as crianças em paz”, do ano em que cumpriu 18 anos e que o marcaria para sempre.
A docência na Universidade do Minho, instituição de que foi, também, reitor, é parte do percurso de António Cunha. “Irritavam-me os alunos muito calados, mas acredito que nunca me quiseram ver pelas costas”, admite. Na reitoria, dessacralizou o cargo. “Ao contrário da maioria dos reitores, que se levam bastante a sério”, realça o professor e amigo Pedro Camões. “Foi uma rutura”, acrescenta o economista Fernando Alexandre, colaborador nesses anos. Antes dele, quem chegasse aos eventos dirigia-se obrigatoriamente ao reitor. Com ele, o contrário. Andava pela sala a cumprimentar quem ia chegando. “Acabaram os rituais de beija-mão.” Autoridade que resulta, dizem, da competência e não do cargo. “Essa informalidade foi uma mudança enorme.”
Vive com seis gatos (Luna, a preferida, Kika, Preto, Inca, Jota e Fofinha, mais os dois que a filha lhe deixa ao cuidado nos fins de semana), que conquistam espaço e perturbam sempre que lhes dá na gana a natureza metódica e organizada do investigador. Seduzido, permite. Ele que é, define o amigo Pedro Camões, “um sedutor”. Explica: “O António consegue levar-nos com ele, funcionando como trator”. Porém, “quando as pessoas não vão, vai sozinho”.
É um otimista “e ainda que possam tomá-lo por megalómano, acaba por provar que é possível”. E é, também, “um trabalhador incansável”, capaz de um ritmo “esfusiante”, descreve Pedro Camões. “Mais do que lidar bem com o stresse diria que por vezes ele é o stresse.”
Reage mal quando os colaboradores não acompanham “a pedalada”. “Aí pode perder o controlo”, observa o amigo. “Ou então, pior, deixa de interagir. Não destrata, mas passa a não contar com a pessoa.”
Domingos Bragança, presidente da Câmara de Guimarães, confirma. “É difícil acompanhar-lhe o ritmo. Nunca desiste do objetivo.” Trabalharam juntos em vários projetos. “Competência, energia e confiabilidade”, resume o autarca, para concluir: “Com ele na direção regional, todo o Norte ficará a ganhar”.
Licenciou-se em Engenharia de Produção e doutorou-se em Ciência e Engenharia de Polímeros, na Universidade do Minho. Foi investigador. “Tem uma visão cosmopolita e um trabalho de excelência regido por parâmetros internacionais”, salienta Fernando Alexandre. “Uma pessoa com mundo que conhece o que de melhor se faz ao nível da ciência e da inovação. Um académico, mas com conhecimento do tecido económico e industrial. Um trabalho feito a partir do Norte, mas com dimensão nacional e internacional.”
O novo presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte cuida bem das raízes e as dele estão no Minho. Por uma vez, em 59 anos de vida, falhou as festas da Senhora d’Agonia. Este ano, por causa da pandemia, não viu o desfile em que é hábito participarem a mulher e a filha, mas continua inalterada a religiosa visita à tia materna e “perfeitos” os almoços de domingo na casa de família, em Viana do Castelo. Na verdade, o gosto pela música tem paralelo nas viagens e na mesa. Reconhece, lembrando com alguma saudade os anos de ágil andebolista do ABC: “Como um bocadinho demais”.
António Augusto Magalhães Cunha
Cargo: presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte
Nascimento: 21/08/1961 (59 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Braga)