Os luxos escondidos para além das praias do Algarve

Texto de Sara Dias Oliveira

Um barco, uma ilha, aves, ostras, vinho. Paulo Gonçalves criou a Algarve WOW com atividades marítimo-turísticas na costa algarvia. Um passeio de barco, cerca de três horas, de Faro até à Ilha da Culatra, para grupos até oito pessoas, custa entre 480 e 520 euros.

“Vamos até à vila piscatória da Culatra, temos uma degustação de ostras acompanhada de vinho rosé, no caminho para lá observamos aves”, conta o empresário, skipper do barco, guia dos passeios que incluem ainda uma explicação da cultura das ostras e dos bivalves. E algum tempo livre para conhecer os cantos à ilha. O que Paulo Gonçalves pretende é que o visitante “parta com um sabor inesquecível na boca e vontade de voltar.”

Abrir o apetite de voltar ao Algarve que não abre mão dos atributos dados de mão beijada pela mãe natureza – sol, mar, praias – e que, entretanto, espreguiçou os braços do mar às serras, investiu em ofertas de luxo, em experiências irrepetíveis que absorvem o melhor que esse pedaço de terra, na confluência do Atlântico e do Mediterrâneo, tem para dar e mostrar.

O Algarve é a única região do país com dois restaurantes com duas estrelas Michelin. O Vila Joya em Albufeira e o Ocean em Porches, Lagoa, com prémios nacionais e internacionais. Um luxo gastronómico. Cada refeição é uma explosão de sabores e texturas, um regalo para olhos e estômagos, com aquele toque especial que um chef que conhece o potencial de cada peça sabe dar.

O chef austríaco Hans Neuner cuida da cozinha do Ocean, onde um menu de quatro pratos custa 155 euros por pessoa sem bebidas, seis pratos ficam por 195. A recomendação de vinhos é à parte e pode chegar aos 135 euros, ou mais, dependendo da vontade e da carteira. Está aberto ao jantar, exceto à segunda e à terça-feira.

O Ocean é um dos restaurantes do resort de cinco estrelas Vila Vita instalado no topo de uma falésia com vista de mar e 21 hectares de jardins. A oferta de alojamento é luxuosa, há serviço de mordomo disponível por telefone, uma noite de suíte pode custar mais de três mil euros. O preço mais barato anda pelos 210 euros a noite em quarto duplo.

O Vila Joya Hotel Restaurant também transpira luxo por todos os poros. No restaurante do chef austríaco Dieter Koschina, aberto todos os dias ao almoço e ao jantar, o menu de degustação de quatro pratos ao almoço custa 135 euros por pessoa, e ao jantar o menu de seis pratos fica por 210 euros, sem bebidas. O serviço à carta, que muda diariamente, atinge outros preços. Quanto à estadia, com 22 quartos disponíveis, uma noite com tudo a que se tem direito pode chegar aos 2 500 euros.

Em 2015, o belga Frank Persyn abriu o Farmhouse of The Palms no interior algarvio, em São Brás de Alportel, uma quinta com mais de 200 anos restaurada “com muito amor” com cinco suítes, a mais pequena com 32 metros quadrados, a maior com 65. Espaço não falta, tranquilidade também não, a decoração é minimalista, ares de modernidade, apenas o essencial. Acaba de ser eleita a melhor unidade de alojamento de turismo rural do país, pela bitola dos Publituris Trade Award 2019. Frank Persyn está contente com a distinção.

O seu “monte” tem 750 metros quadrados de área habitável, jardim e piscina ao ar livre, redes e cadeiras de praia, quartos com camas no telhado, pequeno-almoço servido à mesa sem repetir pratos durante uma semana. “Temos cinco salas de estar, o que dá uma sensação de espaço, liberdade e tranquilidade. Estamos perto de Tavira e de Faro. Estamos longe da confusão e perto das praias”, destaca Frank, que condensa o Algarve em vários atributos: praias, colinas, natureza, tranquilidade com o mar ao pé. Na sua casa, os preços variam entre os 115 e os 190 euros a noite com pequeno-almoço.

Vista de mar, vista de ria, a praia Barra Velha, a ilha da Fuseta, a praia do Homem Nu. Tudo isto diante dos olhos, ou para visitar e explorar, a partir de um barco-casa atracado na Ria Formosa, uma das sete maravilhas naturais de Portugal, com um barco mais pequeno à disposição de voltas e voltinhas, das vontades mais tranquilas ou mais arrojadas dos hóspedes.

Dormir com os peixes e com as estrelas, mergulhar nas águas de azul-turquesa que não existem apenas nos postais, apanhar sol numa ilha deserta e ficar instalado num barco com suíte panorâmica, kitchenette, terraço, solário e jacúzi com capacidade para seis adultos e quatro crianças. Um luxo que custa entre 175 a 450 euros a noite, dependendo da época do ano. A empresa Passeios na Ria quer que a beleza de uma reserva natural seja absorvida com tempo, de dia e de noite, em barcos que se tornam hotéis com vista para um pedaço de paraíso.

Helicópteros, Porsches, clássicos, golfe

A oportunidade de dar uma tacada no melhor campo de golfe de Portugal, segundo os World Golf Awards 2018, só é possível no Algarve, em Monte Rei, resort de luxo, encaixado nas colinas do sotavento algarvio, em 800 hectares de paisagens tal como vieram ao Mundo, sem dedo humano, em Vila Nova de Cacela, a 40 minutos de carro de Faro e a 90 de Sevilha.

A experiência no campo de golfe de 18 buracos, com a assinatura de Jack Nicklaus, o jogador americano que venceu o maior número de torneios de todos os tempos, entre o Atlântico e a Serra do Caldeirão, custa 220 euros por pessoa com uma hora de prática antes do jogo. Depois é desfrutar desse campo de buggy com árvores, lagos e lagoas, na “joia da coroa” do golfe nacional.

No próximo verão, arranca a construção de um segundo campo de golfe, também de 18 buracos, que colocará Monte Rei no restrito leque de resorts do mundo com dois campos de golfe desenhados por Jack Nicklaus. Mas Monte Rei é mais do que golfe, tem moradias de luxo, apartamentos e vilas, refúgios de alta privacidade, com jardins e terraços, piscinas, em que uma noite não custa menos de 500 euros.

O chef Rui Silvestre, o mais jovem chef português com uma estrela Michelin, também anda por lá, aos comandos dos jantares do restaurante Vistas com uma ementa que reúne sabores do Mundo apresentada como “um banquete para a alma e os sentidos.” Uma refeição custa, no mínimo, 100 euros. Os preços neste empreendimento exclusivo descem quando combinados com várias ofertas.

Andar pelos ares do Algarve não é para todos, mas as vistas são de cortar o fôlego, e o que os olhos guardam é para toda a vida. O mar e as praias, as montanhas, a ria, o Guadiana, ir e vir a Sagres pela costa, esticar o horizonte até ao Alentejo. A HTA Helicópteros tem base em Loulé, mas vai a todo o lado pelo céu. O passeio de helicóptero, numa frota de dez veículos à disposição, dura o mínimo de meia hora, no máximo duas e meia a três horas, com cinco passageiros no limite. O mínimo anda pelos 927 euros por grupo, mas pode chegar aos 1 750 para ver de cima as tonalidades que o Algarve tem para oferecer.

Pelo ar, há também passeios de balão que a Wind Passenger colocou no mapa para sobrevoar um outro Algarve de aldeias históricas e serras, a montante das praias num passeio de hora e meia, com dois viajantes, por 775 euros. A empresa especialista em voos de balão promete andar pelo ar “onde o verde garrido se mistura com os tons da terra e dos montes floridos, onde os campos se espreguiçam cobertos de laranjais e de pomares de figos, alfarroba e amêndoa”.

Do ar para terra, a alta velocidade, adrenalina ao rubro, volante nas mãos e um circuito profissional pela frente. Esta experiência não é para quem tem coração fraco. No Autódromo Internacional do Algarve, todos os dias, sábados e domingos inclusive, conforme a disponibilidade do circuito de renome internacional, é possível conduzir um Porsche Cayman S. Tal e qual.

Primeiro uma voltinha de reconhecimento ao lado do instrutor, depois uma volta com o volante por conta e por 165 euros. Num Porsche GT3, a fasquia sobe para os 455 euros. Os preços descem se a viagem for feita num carro desportivo de alta cilindrada como copiloto. E há mais veículos disponíveis como um Honda Civic Type R ou um Mercedes AMG GT C.

Sem motores a roncar, mais na onda de andar na estrada devagar, com tempo, para usufruir das paisagens, de um centro histórico especial, com uma ida a um restaurante típico ou a outros pontos de interesse que se queiram visitar, num carro clássico dos anos 20 ou 30 do século passado no lugar de passageiro e com motorista.

Tanto pode ser num Bentley como numa pão de forma Volkswagen Kombi, a Algarve Classic Cars trata disso, normalmente através de agências e operadores turísticos. Meio dia num belo veículo do passado, com uma rota escolhida a dedo, pode custar de 200 a 300 euros pelo passeio, pela viatura.

Exotismo histórico, clima, recife

O Algarve tem cascatas no interior, serras preservadas, uma vila termal em Caldas de Monchique com cinco hotéis e resort Spa. E na Praia da Rocha, em Portimão, está o maior recife artificial do Mundo, da Ocean Revival que mergulha de pés e cabeça no turismo subaquático.

Todos os dias de manhã, são feitos dois mergulhos para quem queira experimentar ou já perceba da arte. É um mundo submerso com quatro navios de guerra, da marinha portuguesa, a 32 metros de profundidade, e uma multiplicidade de peixes para observar, são mais de 60 espécies diferentes, por 85 euros com material e snack incluídos.

Os números não enganam. Há 40 anos que o Algarve tem o maior número de dormidas de estrangeiros e de portugueses no nosso país. Entre 2012 e 2018, passou de três para 193 empresas de animação turística que trabalham exclusivamente turismo de natureza. Os censos de 2011 davam conta de cerca de 155 mil residências secundárias.

O Algarve é um destino maduro, que não cresce mais em altura, mas que tudo faz para crescer para os lados ao olhar à volta para não se concentrar apenas no mar e nas praias. Aumentar a procura nas épocas intermédias, longe da confusão do verão, tem sido um trabalho que tem vindo a dar frutos. Ou não fosse uma região cheia de condimentos.

João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve, destaca vários ingredientes do destino que sabe receber. “O clima, a beleza natural do interior e das praias, a brisa do mar, a confluência do Mediterrâneo e do Atlântico, o exotismo histórico, a mescla de residentes, a disponibilidade para a tolerância. O Algarve tem estas características multiculturais que casam bem com o turismo”, sublinha.

Mas mudam-se as vontades, mudam-se as ofertas turísticas. “Hoje não se procura tanto o luxo das Arábias, procura-se o luxo autêntico, experiências autênticas, valoriza-se mais a possibilidade de usufruir de coisas únicas do que ficar num hotel de sete estrelas”, revela. Este é o caminho rumo à diferenciação. “Devemos concorrer por este tipo de experiências que não são replicáveis, que são únicas, que marcam as pessoas. E o Algarve tem uma paleta muito vasta de experiências.” Oferta não falta, na verdade.

O Algarve é o que é. Igual a si próprio. Cheio de atitude, bafejado pela natureza, com o peito cheio de orgulho. Um destino de glamour por dentro e por fora. Um luxo, senhoras e senhores.