Isabel Duarte Paulo: Muito senhora das suas funções

Texto de Alexandra Tavares-Teles

“A Isabel é uma mulher de fibra, muito senhora de si no exercício da autoridade, mas capaz de manter uma relação de proximidade, sempre frontal, com os presos.” O ex-diretor-geral dos Serviços Prisionais, Celso Manata, “descobriu-a” em 2016, numa visita ao Estabelecimento Prisional junto da Polícia Judiciária, então dirigido por Isabel Duarte Paulo.

“Percebi que tinha pela frente alguém muito informado, capaz de responder a todas as questões na hora, alguém com uma rara visão de conjunto.” Impressionado, à despedida, deu o sinal: “Sabe, acho que tenho diretora a mais para este lugar”. Cumpriu: pouco depois, nomeá-la-ia para a prisão de Braga, “desafio importante”, desde logo “pela má relação existente entre o estabelecimento prisional (EP) e a Câmara da cidade”.

Em Braga (2016-2019), Isabel Duarte Paulo estreitou laços com a edilidade, resolveu parte da sobrelotação da cadeia, reduzindo o número de presos de 170 para cerca de 80, criou salas para as visitas íntimas. Mas a nomeação para Braga, segundo Manata, tinha também importância tática, assim resumida: “O presidente do sindicato é lá funcionário”.

Ao telefone, pressente-se um sorriso em Jorge Alves. A relação entre a diretora e o líder do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional nem sempre foi fácil. (ex: desacordo quanto ao horário de trabalho levaria à marcação de uma greve local). “Tem pulso e qualidade, mas…” Explica: “Ouve sobretudo as chefias e não soube estar do lado do pessoal e dos seus problemas. Foi a maior falha dela em Braga”. Com resposta no jantar de despedida, marcado “pela ausência da maioria dos guardas”.

Despedida de Braga a caminho de Paços de Ferreira, EP problemático pela indisciplina dos reclusos e pelas suspeitas sérias de corrupção entre os guardas. “Nesse combate, que ninguém duvide, vai entrar de peito feito e arrumará para canto quem for preciso”, reconhece o sindicalista.

Já se nota a diferença, garante quem trabalha na casa e que pede o anonimato. “Começou por despachar os processos disciplinares que estavam acumulados e que podiam prescrever”, criando desde logo “muita tensão em alguns guardas”, diz um funcionário para quem a nomeação de Isabel Duarte Paulo, por contraste com a anterior diretora, é “um alívio”.

Agora, se um recluso desrespeitar uma ordem, sabe que haverá consequências. Descreve a diretora: “Imagem austera, de mandona, mas parece muito empenhada e humilde”. No discurso de tomada de posse, “conciliadora, pediu a ajuda de todos”.

Imagens de Isabel Duarte Paulo são raras. Dela pouco se sabe. Nasceu em Torres Vedras, há quase 59 anos, é licenciada em Direito, exerceu atividade privada como advogada e notária em Macau (1991 a 2002). Ganhou experiência na direção dos serviços de execução das medidas privativas da liberdade, coração da área prisional. Para este perfil não aceitou falar nem se deixou fotografar.

“Senhora das suas funções, gosta de mandar”, diz Celso Manata. Numa prisão o poder não cai no chão. Se o diretor não manda, alguém manda. Guardas ou presos. E com Isabel Duarte Paulo não existe esse perigo.

Cargo:
Diretora do Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira

Nascimento: 22/04/1960
(58 anos)

Nacionalidade: Portuguesa
(Torres Vedras)