Areia ou pellets: qual a melhor opção para os gatos?

O ideal será sempre uma caixa aberta, sem tampa e sem porta

Material que serve de matéria-prima a certos aquecedores desperta interesse crescente entre quem tem gatos. Em nome da sustentabilidade, sobretudo. Mas os veterinários avisam que os patudos podem não achar graça.

Numa pesquisa cibernética sobre o melhor material para servir de base ao “wc” dos gatos, há uma opção que vai surgindo com cada vez mais frequência: os pellets. É possível que já tenha ouvido falar deles noutro contexto, mais precisamente como matéria-prima para certos aquecedores. Trata-se de um biocombustível sólido, feito a partir de resíduos de biomassa vegetal, como restos de folhas, serradura, lascas de madeira ou outros.

Voltando aos felinos. No YouTube, por exemplo, é possível encontrar “éne” vídeos sobre a utilização dos pellets como substitutos da areia, sobre vantagens que esta opção encerra – a questão da sustentabilidade, sobretudo, mas também há quem garanta que absorve melhor os cheiros e que, a juntar isso, ainda facilita o processo de limpeza da caixa. Há até várias marcas de produtos para animais a reforçar a aposta neste produto.

Mas será mesmo boa ideia? Ana Sousa, médica-veterinária e criadora do espaço “Essência Vet”, em Vila Nova de Gaia, torce o nariz. “Não sou a favor, pois contraria tudo o que é fisiológico no gato. Eles gostam de esconder bem as suas necessidades. Na Natureza, nunca fariam num tronco, a não ser por marcação de território. Além de que o toque nas almofadas plantares dos gatos não é agradável.

Apesar de ser mais ecológico, é algo que não lhes apraz e alguns podem passar a recusar ir à caixa.” Inês Guerra, veterinária especializada em medicina felina, que integra a Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia, também assume reservas. “É algo que efetivamente está a ser muito divulgado e há cada vez mais gente a aderir. Mas devemos lembrar-nos que os gatos preferem texturas o mais finas possíveis.”

Por isso, no caso de se querer tentar uma mudança, há regras importantes que devem ser respeitadas. “Desde logo, tentar pellets mais macios, como os de tofu, por exemplo. Quase parecem areia, mas são feitos de outros materiais. Também é importante que o material em causa seja aglomerante. E, acima de tudo, se se quiser tentar uma transição, é fundamental que esta nunca seja feita de forma radical. Não podemos ter um gato há cinco anos com areia aglomerante e de repente mudar tudo.” O ideal será, portanto, uma mudança gradual, que respeite os sinais dados pelo animal.

“Mantemos a caixa de areia na zona habitual, pomos uma nova noutra parte da casa e aguardamos duas a três semanas para ver a reação. Caso não entre de todo, está fora de questão forçar.” Até porque isso poderia levar a uma de duas situações: ou o animal começar a fazer as necessidades fora da caixa ou, pior, começar a contê-las, o que por sua vez dá origem às cistites, inflamações de bexiga comuns nos felinos.

Inês Guerra aproveita ainda para deixar outras dicas relevantes no que às caixas de areia (ou similares) diz respeito. O ideal será sempre uma caixa aberta, sem tampa e sem porta, para que o ato de fazer as necessidades não se transforme numa “prova de obstáculos”, mas antes seja algo natural.

Acresce que esta deve ter sempre uma vez e meia o tamanho de gato. Sim, se o seu patudo fica com a cabeça de fora de cada vez que vai urinar está na altura de trocar de caixa. Ah, a sílica é para esquecer. “Tem arestas que picam e são desconfortáveis”, frisa a especialista. Bem como as areias com cheiro. E a limpeza diária da caixa é essencial para assegurar a saúde urinária dos animais.