Texto de Sofia Teixeira
No momento, parece que se pisou uma concha, uma pedra pontiaguda ou um vidro. Mas o engano dura pouco: um a três minutos depois da picada, vem a dor – aguda e violenta -, muitas vezes acompanhada de edema no pé. “Há muita gente, e não estou a falar só de crianças, que chora com a dor”, revela Diogo Marques, nadador-salvador que já tratou muitas picadas, primeiro em Monte Gordo, agora no Guincho.
O peixe-aranha existe desde o sul do Mar do Norte até ao Mediterrâneo. Pode encontrar-se ao longo de toda a costa portuguesa, mas existe em maior quantidade em águas mais quentes e calmas. Por isso, são mais vulgares os acidentes nas praias da costa alentejana ou do Algarve.
No litoral algarvio, por exemplo, no ano passado, em julho e agosto, dos 5 268 atendimentos realizados nos 31 Postos de Saúde de Praia disponibilizados pela Administração Regional de Saúde do Algarve e pela Cruz Vermelha Portuguesa, 782 foram devido a picadas de peixe-aranha e insetos, informa o gabinete de comunicação da ARS-Algarve.
Agir depressa
O primeiro passo, caso tenha ficado um dos picos do peixe no pé, deve ser retirá-lo. Depois, o tratamento da picada passa sobretudo pelo alívio da dor, sendo que convém agir o mais rapidamente possível. Como o veneno do peixe-aranha é termolábil, ou seja, decompõe-se e degrada-se com temperaturas altas – acima dos 40 graus centígrados -, a solução passa por mergulhar o pé em água quente durante cerca de meia hora.
“A água deve estar mesmo o mais quente possível, tão quente quando a pessoa consiga aguentar – tendo apenas o cuidado de evitar queimaduras”, precisa Diogo Marques. Para isto, na praia, a solução passa quase sempre por ir buscar água aquecida ao café ou restaurante mais próximo.
Caso se esteja numa praia isolada, sem estruturas de apoio que possam fornecer a água a temperatura elevada, as duas soluções improvisadas devem ser, de acordo com o nadador-salvador, caminhar sobre a areia quente – que pode custar, mas acaba por aliviar a dor – ou aproximar, com cuidado, um cigarro acesso do pé. “O objetivo é sempre aplicar calor na zona afetada, para degradar o veneno.”
O que nunca se deve fazer é colocar gelo no pé – mesmo que este esteja um pouco inchado – ou usar sprays analgésicos de cloreto de etilo. Apesar de proporcionarem um alívio momentâneo causado pelo frio, dura pouco e prolonga o problema: as temperaturas baixas promovem a vasoconstrição dos vasos sanguíneos, deixando o veneno “fixo” no local da picada. Quando o efeito do frio passa, as toxinas permanecem lá e de boa saúde, prontas para continuar a causar dor.
Na maioria dos casos, a dor vai-se atenuando, deixando de incomodar passadas umas horas, e não há outros sintomas. Assim, basta vigiar e desinfetar o local da picada ao longo dos dias seguintes para prevenir uma infeção, sobretudo quando a pessoa picada tem doenças crónicas que afetam a cicatrização.
As virtudes de arrastar os pés
Menos frequentemente, a pessoa picada pode desenvolver uma hipersensibilidade ao veneno e sentir um mal-estar generalizado, febre, tonturas, vómitos e dores de cabeça, situação que a deve levar a uma unidade hospitalar para observação por um médico. Em situações ainda mais excecionais pode ser necessário ligar o 112. “Se a pessoa apresentar sintomas de reação alérgica grave”, destaca o nadador-salvador. Sintomas como falta de ar (dispneia), perda de consciência, erupção cutânea intensa ou dor no peito.
A melhor forma de evitar a picada do peixe-aranha é usar sapatos de andar na água, com solas de plástico. Uma opção que não agrada à maioria. Mas há outra coisa que se pode fazer, diz Diogo Marques: “Em vez de dar passadas dentro de água, o ideal é andar arrastando um pouco os pés. Como os picos do peixe estão no dorso, isso pode evitar o contacto com eles”.
E se na praia este peixe é de evitar, o mesmo não se aplica à mesa: é usado no Algarve para caldeiradas e fritadas, sendo muito apreciado por alguns.