Camuflagem de estrias começa a ganhar força em Portugal

Texto de Filomena Abreu

As agulhas cheias de tinta picam a pele. Seguem as linhas brancas cravadas no corpo. Desta vez, ao contrário do que é habitual, o resultado não pretende ser visível aos olhos dos outros.

Tatuar as estrias não é um método recente, mas pode começar a ganhar fama em Portugal. A brasileira Fernanda Noyma, fisioterapeuta que trabalha nesta área há 12 anos, tem ajudado a trazer a técnica para cá.

Quando o tatuador Rodolpho Torres, o pai do processo, ganhou fama internacional ao colocar a camuflagem de estrias na lista dos métodos para disfarçar as cicatrizes, Fernanda procurou-o para fazer formação. “A camuflagem de estrias é um procedimento de dermopigmentação, em que realizamos a tatuagem da mesma cor da pele da cliente sob as estrias, tornando-as impercetíveis.”

A profissional conta que “aprimorou e aperfeiçoou” o processo aprendido, dando origem à “Stretchink by Fernanda Noyma” que, refere, “é muito mais que uma tatuagem estética”. Além da referida pigmentação, “realiza o microagulhamento, estimulando a produção de fibras colágenas e melhorando o aspeto e textura das estrias”.

Mas a especialista alerta que, “como em qualquer tatuagem, são necessários retoques”. Por se tratar de zonas não íntegras, “o número de sessões irá depender do tipo de pele e do organismo do ou da cliente”.

“A camuflagem de estrias é um procedimento de dermopigmentação, em que realizamos a tatuagem da mesma cor da pele da cliente sob as estrias, tornando-as impercetíveis.”

Adeus à elasticidade

As estrias são “rachaduras” que aparecem quando as fibras elásticas se rompem, devido a um estiramento na pele. As lesões destas fibras acabam por formar uma cicatriz interna que origina a estria. A forma como se apresentam depende do estágio inflamatório em que se encontram, podendo por isso ser mais avermelhadas ou brancas.

Tudo acontece quando a pele estica muito num curto período de tempo. Exemplos: quando se está em crescimento, quando se dá um aumento de peso acentuado ou durante a gravidez. O que faz com que o colagénio e a elastina, que sustentam a nossa pele, se rompam.

Por norma, as estrias surgem onde o corpo armazena mais gordura, como barriga, quadris, coxas, seios e nádegas. Mesmo não sendo dolorosas ou prejudiciais à saúde, causam quase sempre incómodo em quem as tem. Principalmente porque, para já, não há nada que as faça desaparecer de vez. Embora existam muitos produtos no mercado que garantam prevenir estas marcas, há pouca evidência científica sobre essa eficácia.

Sabemos que uma estria se pode formar quando na pele surgem linhas rosadas, avermelhadas ou roxas. Nessa altura, ainda pode ser atenuada com cremes. Quando passa a branca já não existe inflamação. É só neste estado que pode ser tatuada. Fernanda atesta os efeitos. “O tratamento dá um percentual de resultado maior num curto espaço de tempo. Ou seja, na primeira sessão a técnica pode melhorar as estrias até 80%.”

Estas marcas afetam ambos os sexos. E, embora predominando no feminino, a preocupação com as estrias é, cada vez mais, um problema que assombra o sexo masculino. “Muitos homens têm quebrado o tabu e procurado clínicas de estética, para melhorar o aspeto das suas estrias.”

“Muitos homens têm quebrado o tabu e procurado clínicas de estética, para melhorar o aspeto das suas estrias.”

O sol não é amigo

Marta Patrício, diretora da Clínica do Pigmento, já disponibiliza este tratamento no seu espaço do Parque das Nações, em Lisboa. “E no próximo semestre chega ao Porto”, assegura. No seu ponto de vista, “a aplicação nas estrias de pigmento com o tom idêntico ao da pele promove a melhoria visual substancial das mesmas, tanto na cor como no aspeto e textura”. O tratamento não é doloroso. “Existe apenas um ligeiro desconforto, que poderá ser eliminado com a aplicação de um creme anestésico antes do procedimento.”

O custo do tratamento dependerá da extensão da zona a intervencionar. “No mínimo, o valor ronda os 350 euros.” Os resultados dependem “do metabolismo do paciente” e, em média, “atingem a máxima eficácia ao fim de 90 dias”. Pode ser feito em todos os tons de pele, em qualquer parte do corpo, tanto em mulheres como homens. A duração do procedimento dependerá da extensão da zona a camuflar, podendo prolongar-se por mais de duas horas.

Como após a tatuagem deve evitar-se a exposição solar durante algum tempo, “as melhores alturas do ano para realizar o procedimento são o outono e o inverno”. Ainda assim, poderá ser feito em qualquer altura do ano, “desde que o paciente cumpra a restrição de não apanhar sol durante o tempo determinado pela clínica”.

Aparentemente, a camuflagem das marcas apenas parece levantar uma dúvida. Se as estrias são pintadas à cor da pele natural, quando o corpo fica mais bronzeado as estrias continuam a notar-se? Sim, confirma Marta Patrício.

“Com a pele mais bronzeada é normal que as estrias pigmentadas possam ficar ligeiramente mais claras do que o tom de pele envolvente.” Ainda assim, frisa, “ficarão sempre menos evidenciadas do que antes do procedimento, pois terão um tom próximo à cor da pele do paciente, comparativamente à cor da estria, que é sempre mais clara que o tom da pele”.

Apesar de serem tão comuns que poderiam ser consideradas normais, há especialistas que pedem para que estas cicatrizes não sejam banalizadas. Em causa poderá estar um impacto psicológico e emocional duradouro, levando ao isolamento e a uma baixa autoestima. Nada como consultar um médico antes que o tempo quente chegue – assim saberá qual o tratamento mais adequado às suas marcas.