Botox para o sorriso, enxaquecas e suor

A primeira vez que Cristiana Silva pensou no assunto foi na adolescência. Os dentes, já de si grandes, eram realçados pela exposição excessiva da gengiva. Os colegas reparavam. Sentia que comentavam. E ela não se sentia bem.

O sorriso sempre funcionou como um poderoso cartão de visita. E, apesar de não existirem modelos perfeitos, a verdade é que uma boca que mostre demasiada gengiva, em que o lábio superior suba muito, é visto como menos estético. Por isso, na idade dos problemas existenciais, Cristiana acabou muitas vezes por conter o impulso natural do sorriso. Ciente do incómodo procurou soluções. Mas, “tinha receio que esses tratamentos alterassem” a cara. Pior do que estava não queria ficar. Foi adiando. Já adulta, “tinha noção que a questão era estética”, não era algo urgente. “Ainda assim, e trabalhando eu na área da saúde, causava-me desconforto, porque estava em constante contacto com o público.”

Um dia, através do Instagram, viu algo que a fez considerar avançar sem medo. “Era um tratamento com botox. Muito menos agressivo do que aqueles que havia à disposição no mercado. Com resultados imediatos, e com a possibilidade de voltar ao que era, caso o resultado não me agradasse.” Foi assim que há dois meses, aos 36 anos, resolveu um problema que a incomodava desde sempre: o sorriso gengival.

“Passado um mês já tinha o resultado total.” Uma das coisas que mais a satisfez foi o sentir-se natural. “O lábio superior baixou quase quatro milímetros”, descreve com entusiasmo. Parece coisa pouca, porém fez grande diferença. Um simples procedimento, de aproximadamente dez minutos, teve um enorme impacto na autoestima. “Antes, de cada vez que sorria, tinha sempre a sensação de ficar com o lábio superior colado ao nariz. Agora, até uso batom com mais confiança. Sinto-me muito mais feliz quando me olho ao espelho.”

O uso do botox serve para muito mais do que engrossar os lábios e preencher rugas. O efeito temporariamente paralisante desta toxina, produzida em laboratório a partir da cultura da bactéria Clostridium botulinum, foi descoberto em 1820, mas a aplicação médica e estética demorou a ser autorizada: só no início dos anos 1990 foi aprovada para tratamentos terapêuticos. E demorou mais uma década até poder ser usada em tratamento estéticos.

Basicamente, o botox consegue bloquear a contração dos músculos e a sua utilização abrange diversos tratamentos, em diferentes zonas do corpo. Além do preenchimento de rugas, pode ser usado, como se escreveu, na correção do sorriso gengival. O músculo elevador do lábio superior e o músculo das asas do nariz são os principais responsáveis pelo sorriso. Se a pessoa tem um sorriso gengival, a aplicação de botox nestes músculos vai descontraí-los e diminuir a subida do lábio, expondo menos gengiva, o que se traduz num sorriso mais equilibrado que pode durar entre quatro a seis meses.

Bendita paralisação temporária

Mas esta não é a única aplicação fora do conhecimento geral. O botox pode ainda, por exemplo, ser utilizado para bloquear a transpiração em zonas como as axilas, virilhas, mãos e pés. Surpreendido? Liliana Sousa, hoje com 35 anos, natural da Guarda, também ficou.

“Sempre transpirei muito das mãos. À medida que fui crescendo senti que a condição piorava.” Quando começou a trabalhar tornou-se muito incómoda. “Sou enfermeira, lido com pessoas o dia todo. Trabalho com as mãos. O calçar luvas, os apertos de mãos, tudo era mau e até constrangedor. Fiquei dependente dos lenços de papel. Sempre a limpar-me. A certa altura já era um trauma.” Até que João Bastos Martins, especialista em Cirurgia e Medicina Estética, lhe disse que podia resolver facilmente a questão. O primeiro tratamento foi há dois anos. Entretanto, já vai no terceiro. “Estou bastante satisfeita, foi sem dúvida a melhor opção. Tenho recomendado a pessoas que sei que suam bastante. Pode não parecer, mas transpirar em demasia pode afetar a nossa vida social.”

Nestes casos, a aplicação de botox ameniza os níveis de sudorese de uma forma simples e pouco intrusiva. “O suor sai pela contração do músculo nas glândulas que o produzem e a toxina vai paralisar essas glândulas, fazendo com que deixem de produzir suor.” É aplicado em vários pontos das zonas afetadas. Um tratamento superficial, sem marcas, que “não afeta o normal funcionamento do corpo”. As melhorias notam-se em 48 horas. O tratamento pode ser feito de seis em seis meses. Contudo, o número de aplicações dependerá sempre “da anatomia e características musculares do paciente”, justifica o especialista.

A maioria dos que procuram João Bastos Martins ignora as propriedades da toxina botulínica. “Vêm preocupados com rugas e acabam depois por perceber que podem resolver outros problemas.” Como as enxaquecas. Dados indicam que 16% da população portuguesa sofre com fortes e crónicas dores de cabeça. Aliás, esta é já a décima doença mais incapacitante do Mundo.

Na cabeça há vários nervos que passam através dos músculos e, quando estes se contraem, os nervos são comprimidos ou demasiado estimulados, provocando dores que para muitas pessoas são insuportáveis.

“A injeção de toxina botulínica em pontos-chave vai paralisar temporariamente os músculos, aliviando a compressão sobre os nervos que provoca essa dor”, explica o médico. “O local onde a toxina é injetada depende do tipo de enxaqueca e da zona onde esta se desencadeia.” Pode ser no músculo junto às sobrancelhas, perto do nariz, nas têmporas, no pescoço ou noutra área. Se a dor for na zona posterior, a aplicação é feita na parte de trás da cabeça. Uma coisa é certa, “as melhorias são evidentes e o resultado de uma única aplicação podem durar entre três a seis meses.”