The Post: o «filme-protesto» de Spielberg

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Texto de Ana Patrícia Cardoso | Fotografia DR

Meryl Streep e Tom Hanks nunca tinham trabalhado juntos. Somam prémios em Hollywood, são dois nomes incontestáveis do cinema americano mas foi preciso Steven Spielberg para finalmente dividirem cena no ecrã.

São três nomes pesados para este que foi um dos maiores escândalos da história política dos Estados Unidos. São ingredientes suficientes para fazer de The Post uma das presenças assíduas nas cerimónias de prémios deste ano.

Num momento em que o presidente Donald Trump questiona diariamente o papel da imprensa, Spielberg escolhe (não por acaso) recriar o escândalo dos Pentagon Papers, um dos episódios mais marcantes do jornalismo norte-americano. Curiosamente, a Casa Branca pediu um visionamento privado do filme.

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O filme volta a 1971 para reproduzir os acontecimentos que antecederam a publicação, no The Washington Post, dos documentos oficiais que revelavam que o governo americano mentiu, durante anos, sobre a evolução e sucesso da prestação das tropas na guerra no Vietname, que duraria vinte anos e acabaria com uma derrota dos EUA.

Hanks interpreta Ben Bradlee, o obstinado editor do jornal, que faz de tudo para que o artigo veja a luz do dia, apesar da pressão por parte do governo para silenciar a fuga de informação.

O presidente Richard Nixon já tinha dado ordem direta para a história ser silenciada no The New York Times (no filme, são usadas as gravações originais dos telefonemas de Nixon). Este foi o primeiro momento da história americana em que um presidente interferiu na publicação de uma investigação.

Resta agora saber o que Trump achou do filme e da prestação de Meryl Streep, que considera «uma atriz sobrevalorizada».

Correndo o risco de ver o jornal de família fechar portas, é Katharine Graham (Streep), a primeira mulher na liderança de um jornal, que decide se cede à pressão governamental ou luta pela liberdade de imprensa defendida na primeira emenda da Constituição dos Estados Unidos.

Num tempo em que as mulheres não ocupavam lugares de poder – ou sequer trabalhavam – esta é também a jornada de uma filha, mãe e esposa que se vê numa posição de poder inesperada e cuja decisão mudaria definitivamente a importância do The Post na imprensa americana.

O filme foi bem recebido pela crítica e candidato a seis categorias nos Globos de Ouro (não levou para casa nenhuma estatueta). Resta agora saber o que Trump achou do filme e da prestação de Meryl Streep, que considera «uma atriz sobrevalorizada».