Bill Gates, Waren Buffet e Jeff Bezos valem tanto como a metade mais pobre da população dos Estados Unidos, 160 milhões de pessoas. Quem o diz é a Oxfam, um consórcio de ONG dedicado a estudar os números da miséria global.
No recente relatório, destacou o El País, garante que 2017 foi o ano em que mais bilionários surgiram, um de dois em dois dias, nove homens em cada dez estreantes. Outro dado ajuda a perceber o panorama global: do total da riqueza gerada globalmente no ano passado, 82% acabaram concentrados em 1% da população. O Le Monde traduziu em números: em 2017 o saldo global cresceu mais de 9,2 mil milhões de dólares, 7,6 dos quais escaparam a 99% da população global.
Percentagens assustadoras. Capazes de motivar movimentos cívicos, protestos e juras de reformas. E ainda assim, nem por isso são novidade – nem nos cafés onde «o rico está cada vez mais rico», nem nos estúdios onde alguns lhe dedicam músicas. E essa é uma tradição que entre músicos também não é de agora.
Alguém que não se lembre de Money, o primeiro single de Dark Side of the Moon? Em 1973, os Pink Floyd ainda só estavam em vésperas de se tornarem milionários, mas já sabiam como jogar. Dinheiro? «Agarra com as duas mãos e guarda/Carro novo, caviar, sonho de quatro estrelas/Acho que vou comprar uma equipa de futebol», canta o seu autor Roger Waters.
Anos depois, Waters haveria de reconhecer que a fase da banda foi, ao que o dinheiro dizia respeito, reveladora de uma nova realidade. «Começámos a levar palmadinhas nos ombros, meu rapaz fuma um charuto, vocês vão longe. Na verdade, a partir dali podíamos ter parado, tínhamos conseguido, podíamos dizer adeus. Estou contente que não o tenhamos feito», contou no documentário da VH1 dedicado aos bastidores da gravação do disco.
«O dinheiro, dizem, é a raiz de todo o mal», canta Waters, citando uma passagem bíblica. E se há muito que nenhum dos Pink Floyd tem de pensar no saldo bancário, o vocalista nem por isso perdeu o hábito de ir alertando para as causas que defende. Na recente digressão pelos Estados Unidos, em palco colocou várias imagens anti Trump e ainda recomendou que quem se sentisse incomodado fosse ver «a Kate Perry ou as Kardashians».
Teve um custo – a American Express retirou os 4 milhões de dólares com que apoiava a digressão. Nada que forçasse o cancelamento ou que lhe coloque em risco o lugar entre os mais ricos do mundo.
O DISCO
Pink Floyd
Dark Side of the Moon
7,98€ (Fnac)
5 estrelas
A MINHA ESCOLHA
UM ANIVERSÁRIO REQUINTADO
Em 1966, integrava o quarteto de George Benson, um dos mais famosos guitarristas da história do jazz. Passados mais de cinquenta anos, sentado ao seu órgão, Lonnie Smith celebrou o 75.º aniversário na companhia dos seus parceiros mais regulares – o guitarrista Jonathan Kreisberg e o baterista Jonathan Blake – e ainda da cantora Alicia Olatuja e do baterista Joe Dyson.
Do palco saiu All in My Mind, o segundo disco desde o seu regresso, em 2016, à histórica editora Blue Note. No currículo não faltam distinções – entre elas dez prémios para organista do ano atribuídos pela principal associação de jornalistas de jazz norte americanos –, nem um título de Doutor ganho ao longo dos anos sem nunca precisar de qualquer passagem universitária.
Agora há mais um grande disco. Refinado e melódico a lembrar que cresceu atrás de Benson, Lonnie Smith valeu se de músicos de excelência para a festa de anos. No disco, batizado com o nome de um original de 77 (All in My Mind), tem uma versão do clássico de Paul Simon 50 Ways to Leave Your Lover, uma versão de Juju Wayne Shorte) e para fechar uma balançada versão de Up Jumped Spring, de Freddie Hubbard. Um aniversário no mínimo requintado.
O DISCO
DR. LONNIE SMITH
All in My Mind
Blue Note
13,60€ (Amazon)
4 estrelas