Prémio Pulitzer: do hip-hop se fez história

Texto de Alexandra Pedro | Fotografia Shutterstock

Desde 1943 – ano em que foi criada a cerimónia – que um prémio Pulitzer, na categoria de composição musical, não era entregue a um cantor de rap. Este ano fez-se história: Kendrick Lamar foi o galardoado da noite, com o álbum DAMN, lançado em abril de 2017.

A cerimónia, que se realizou na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, esta segunda-feira, ficou marcada não só pela estreia do hip-hop a vencer, como também por ser a primeira vez que o prestigiado prémio não foi atribuído a um artista de jazz ou música clássica – com exceções apenas para os «prémios especiais» entregues a Bob Dylan (2008) e Hank Williams (2010).

O júri do Prémio Pulitzer descreveu o álbum do rapper como «uma virtuosa coleção de canções, unificadas pela sua autenticidade vernacular e dinamismo rítmico, que cria pequenas histórias comoventes que captam a complexidade da vida afro-americana moderna».

Rihanna e U2 participaram no álbum sucessor de To Pimp a Butterfly, em Loyalty e XXX, respetivamente. DAMN foi muito bem recebido pela crítica e somou vários prémios entre 2017 e 2018, entre eles Álbum do Ano, nos BET Hip Hop Awards, ou Melhor Álbum de Rap, nos Grammys – onde foi ainda nomeado na categoria Álbum do Ano, acabando por perder para 24K Magic, de Bruno Mars.

«Estamos muito orgulhosos por esta seleção. Isto significa que o júri trabalhou como é suposto: o melhor trabalho foi premiado com o Prémio Pulitzer», afirmou Dana Canedy, responsável pela entrega dos prémios, ao The New York Times. E acrescentou: «este é um grande momento para o hip-hop e um grande momento para os Pulitzers».

À Billboard, a jornalista também já premiada com um Pulitzer, afirmou que a decisão do júri foi «unânime», confessando que a ideia de entregar este prémio a um trabalho de hip-hop surgiu depois de uma intensa discussão. «O júri estava a analisar uma obra musical que tinha influências hip-hop e alguém disse: ‘se estamos a considerar [atribuir o prémio] a uma obra com estas influências, porque não dá-lo a alguém do campo do hip-hop?’», revelou Dana Canedy.

O escândalo que envolveu o realizador de Hollywood Harvey Weinstein levou à distinção do The New York Times e da revista The New Yorker, na categoria «Serviço Público». Recorde-se que várias mulheres e homens do mundo do cinema, moda, desporto ou música acabaram por revelar várias histórias de assédio porque passaram. Muitas dessas pessoas foram impulsionadas pelo movimento #MeToo, que pretende denunciar os abusos.

O ator Kevin Spacey e o médico Larry Nassar foram algumas das figuras acusadas de estarem envolvidas nos casos de assédio sexual.