Pedro Siza Vieira: perfil de um ministro-adjunto “de fibra” com raízes em Matosinhos

Texto de Alexandra Tavares-Teles

“O Pedro é de fibra”. Enquanto aguardam a resposta do Tribunal Constitucional, que a requerimento do Ministério Público procede à análise das declarações de incompatibilidades e de rendimentos do ministro Adjunto, amigos e colaboradores remetem-se ao silêncio, quebrado apenas num caso, para afirmar o atual estado de espírito de Pedro Siza Vieira: ‘Ele não quebra, é um homem de fibra’, garante à NM alguém do inner circle do governante.

A decisão do Ministério Público foi tomada após o próprio ter reconhecido ‘o lapso’ ao assumir a gerência de uma empresa familiar do ramo imobiliário e consultoria empresarial – a Prática Magenta – , em vésperas de ter iniciado funções no Governo. A tomada da posse teve lugar a 21 da outubro de 2017, numa fase muito difícil. Um pais devastado pelos incêndios que mataram mais de cem portugueses e um governo fragilizado, porque o estado falhou, seriam dificuldades de monta para qualquer um, na ponderação do convite. Porém, a adversidade motiva-o e “só estando motivado aceitaria este cargo”, declarou no dia em que ocupou a cadeira de Eduardo Cabrita, o escolhido para substituir Constança Urbano de Sousa na Administração Interna.

O cargo de ministro Adjunto, mais de que qualquer outro, exige a confiança do primeiro -ministro. Trata-se do primeiro e mais próximo assessor do chefe do governo e de alguém capaz de assumir, numa função muito particular, dossiers prioritários. Pedro Siza Viera parece talhado para a função. Conselheiro há vários anos de António Costa, partilha com este o gosto pelos consensos e uma amizade antiga, que ambos não negam, apesar ‘do exagero em que se caiu’. ” São amigos é verdade, nunca o negaram, mas não andam propriamente a trocar jantares’, observa à NM a mesma fonte.

De uma família com raízes em Matosinhos, este Siza Vieira nasceu em Lisboa. Mas por acaso. Em 1964, António, engenheiro e irmão de Álvaro, o icónico arquiteto, encontrava-se a trabalhar na capital. Precisamente nesse ano, foi pai. Porém, será em Santo Tirso e Matosinhos que Pedro passará a infância e a adolescência, já leitor compulsivo e adepto incondicional do clube do coração- o Leixões. Anos depois, seguiu para Coimbra, onde estudou Direito, curso que terminaria em Lisboa, no ano de 1987. Foi na faculdade que Pedro e António se conheceram e tornaram amigos. Não se sabe se por influência de António é um facto que Pedro se inscreveu no PS, partido que abandonaria em meados dos anos 90, quando a advocacia passou a merecer-lhe dedicação completa.

Nome reconhecido da advocacia portuguesa, “partner” da Linklaters, é especialista em “project finance” nos sectores das infraestruturas, transportes e energia, na área de reestruturações e insolvências e em Direito Público, em especial no capítulo das concessões, PPP e arbitragem comercial. Como advogado, representou os interesses do estado e os da parte contrária. Foi membro da Estrutura de Missão para a Capitalização das Empresas, do grupo de trabalho da reforma da supervisão financeira e no do crédito malparado na banca. A propósito das críticas a este ‘saltitar’, aquele que muitos consideram ‘o verdadeiro ministro da economia’ afirmou: “As coisas não se misturam”. Nem por lapso.