A menopausa chegou. E agora?

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Mais dia menos dia, ela aparece. Demasiado cedo, demasiado tarde? E o que é que acontece ao corpo e à cabeça das mulheres? Muita coisa. Mas lembre-se de uma coisa: a sexualidade não acaba na menopausa.

A menstruação acaba, a função dos ovários entra em falência, os níveis de estrogénio baixam e os sintomas dão os seus sinais: calores, afrontamentos, fogachos, alterações do humor e do sono, dificuldades de concentração, dores osteoarticulares e perturbações genito-urinárias. A menopausa vai instalar-se. Prepare-se.

“Para 70% das mulheres, há sintomatologia descrita relacionada com a menopausa. Em 50% dos casos, dura mais de cinco anos e em 40% a intensidade dos sintomas é incapacitante”, refere Fernanda Geraldes, médica ginecologista e presidente da secção de Menopausa da Sociedade Portuguesa de Ginecologia.

Além dos calores e afrontamentos, há também a secura vaginal e queixas urinárias

Ocorre habitualmente por volta dos 50 anos. E o que é que acontece? Muita coisa. «Embora seja um acontecimento fisiológico, traz algumas consequências a curto, médio e longo prazo que poderão ser sentidas ou não pela mulher e que exige por parte do médico uma resposta adequada», diz a especialista. Além dos calores, há também a secura vaginal e queixas urinárias como a urgência miccional e incontinência urinária de urgência.

A osteoporose e o aumento de risco cardiovascular são algumas das consequências a longo prazo. “Sabe-se que a perda de massa óssea ocorre de uma forma muito acelerada (cerca de 2 a 4% por ano), nos primeiros anos após a menopausa, e que esta perda acelerada decorre na sequência de um hipoestrogenismo marcado que a menopausa inicial condiciona”, adianta Fernanda Geraldes.

Hábitos de vida saudável ajudam a encarar esta fase. Recomenda-se a prática de exercício físico e evitar o tabaco e o álcool

Em relação ao aumento de risco cardiovascular, é mais difícil dissociar o aumento de risco próprio da idade. “No entanto, sabe-se que a mulher na pré menopausa tem muito menos eventos cardiovasculares que os homens na mesma faixa etária e que o mesmo não se verifica depois da menopausa, o que faz pensar que os estrogénios parecem ter um papel protetor no aparelho cardiovascular”.

O que fazer? “O controlo da sintomatologia é obtido na maioria das mulheres através do tratamento com uma duração de três a cinco anos. Sintomas moderados a graves foram detetados em 42% das mulheres entre os 60 e 65 anos, podendo afetar adversamente a sua saúde e qualidade de vida. O uso da terapêutica hormonal deve ser individualizado e não deve ser descontinuada com base apenas na idade”.

A abordagem terapêutica deve ser aplicada tão cedo quanto possível, na altura em que os sintomas são mais exuberantes. “A terapêutica hormonal é o tratamento mais eficaz no alívio da sintomatologia vasomotora e nas perturbações genito-urinárias. É conhecido e comprovado o papel da terapêutica hormonal na prevenção e mesmo no tratamento da osteoporose, bem como na prevenção do cancro do colón”.

“De reforçar que a sexualidade não acaba na menopausa – não deverá mesmo ser impedimento para iniciar um novo relacionamento”
Fernanda Geraldes
Médica

“De reforçar que a sexualidade não acaba na menopausa – não deverá mesmo ser impedimento para iniciar um novo relacionamento”, sublinha a ginecologista. O uso de estrogénios tópicos vaginais são recomendados, resolvendo muitos dos sintomas de secura vaginal e sintomas urinários, bem como as queixas do foro sexual, contribuindo para uma melhoria na relação sexual.

A abordagem não farmacológica também é importante. “Nunca é tarde de mais para implementar hábitos de vida saudável, como por exemplo a prática de exercício físico regular, evitar o consumo de álcool e tabaco, e estimular hábitos alimentares adequados. O paradigma da prevenção em saúde tem nesta área da menopausa a aplicação perfeita”.

E o receio de desenvolver cancro da mama nessa fase da vida tem fundamento clínico? Não parece. “Fala-se muitas vezes da associação da menopausa e tratamento hormonal (TH) com o cancro da mama, mas sabe-se hoje que o risco de cancro da mama atribuível a esta terapêutica é reduzido – apresenta uma incidência inferior a 1 por 1000 mulheres por ano de utilização. Este valor é equiparável ou inferior ao risco associado a alguns fatores como o sedentarismo, a obesidade e o consumo de álcool”. “O risco de cancro da mama varia consoante o tipo de terapêutica hormonal, o início da exposição e a duração do tratamento”, acrescenta a médica.