Quando Hollywood veio a Lisboa

Texto de Ana Pago/ Fotografia arquivo DN

Conheceram-se em 1937, no teatro, quando Laurence Olivier representava a personagem principal na peça Hamlet e Vivien Leigh fazia de Ofélia – a faísca entre ambos foi imediata. Três anos mais tarde, finalmente livres para casarem um com o outro, os atores britânicos assumiram aquela que seria uma das maiores histórias de amor do século XX, badalada durante 20 anos até terminar em divórcio em 1960.

«Simples, afáveis, despretensiosos, conquistaram imediatamente a simpatia de quantos os aguardavam, com um sorriso que se adivinhava não ser mero recurso do seu ofício.»

Não admira que a passagem por Lisboa do “casal de ouro” a caminho de Londres – a bordo do navio Excambion desde os EUA, para colaborarem no esforço de guerra – tivesse deixado homens e mulheres a suspirar pelo inglês carismático e elegante d’O Monte dos Vendavais, duas vezes mais alto que a esposa de olhos verdes que partiu milhões de corações no papel de Scarlett O’Hara em E Tudo o Vento Levou.

«As duas vedetas cujos nomes estão na berra na atualidade cinematográfica são, desde ontem, nossos hóspedes», noticiava a edição do DN de 8 de janeiro, carregando nos pormenores suculentos da véspera: «Simples, afáveis, despretensiosos, conquistaram imediatamente a simpatia de quantos os aguardavam, com um sorriso que se adivinhava não ser mero recurso do seu ofício.»

Falou-se de literatura e da Segunda Guerra Mundial em curso. Falou-se de cinema: Olivier acabou com três Óscares em vida (um de Melhor Ator e dois honorários), mas Vivien já recebera um de Melhor Atriz antes deste encontro com os jornalistas – em 1939, o primeiro de dois.

Houve ainda tempo para uma ida ao São Luiz Teatro Municipal no dia da chegada, a coincidir com a estreia de um dos filmes mais célebres do galã, Rebecca. Apesar de ambos deverem a celebridade mundial a Hollywood, preferiam o teatro ao cinema. «Os dois artistas não têm projetos definidos, no entanto pensam representar em Londres o seu reportório favorito: Shakespeare.» A guerra não iria separar o que Hamlet uniu.

PILOTO
Ao boato de que ia incorporar-se na Royal Air Force, Laurence confirmou que tencionava apresentar-se por ter experiência como piloto. «O que não quer dizer de antemão que me aceitem. Receio não ser suficientemente bom.»