Texto de Catarina Guerreiro
No último ano, 41% das mulheres teve relações sexuais desprotegidas e um quinto assume que faria um aborto caso tivesse uma gravidez indesejada. As conclusões são de um estudo, a que a Notícias Magazine teve acesso, coordenado pela Sociedade Portuguesa de Contraceção, e promovido pela HRA Pharma, para marcar o Dia Mundial da Contraceção comemorado a 26 de setembro.
Feito com base em entrevistas a 507 portuguesas, a análise revela que, das mulheres que nos últimos 12 meses tiveram relações sexuais desprotegidas, 11% assume que o fez por o parceiro não querer utilizar preservativo. Já 27% justifica o comportamento por «se ter esquecido de tomar a pílula» e 17% alega que decidiu «arriscar por achar que a possibilidade de engravidar era baixa».
Há quem explique ter usado o coito interrompido (17%), outras dizem não ter, na altura, nenhum método contracetivo disponível e outras ainda admitem que pura e simplesmente se esqueceram (7%). Restam as que referem que o preservativo se rompeu (2%).
São as mais novas, que estão na casa dos 20 anos, que, perante uma gravidez não planeada, menos recorreram à contraceção de emergência.
As mulheres que são já mães e trabalhadoras surgem como as que têm mais relações sexuais desprotegidas. O estudo indica também que 22% das mulheres faria um aborto perante uma gravidez indesejada. «E são as inquiridas mais jovens que mais dispostas estão a recorrer a este método para interromper uma gravidez» lê-se no documento.
No entanto, são precisamente as mais novas, que estão na casa dos 20 anos, que, perante uma gravidez não planeada, menos recorreram à contraceção de emergência, a chamada pílula do dia seguinte. Esta é, porém, uma opção usada por 42% das mulheres entrevistadas. E a sua utilizadora tipo, garantem os autores do estudo, «tem 32 anos, é casada ou a viver em união de facto, com estudos superiores e ainda sem filhos».
O estudo alerta para o facto de existir ainda um grande desconhecimento sobre o ciclo mensal e os riscos de engravidar «Uma percentagem elevada de mulheres acredita que só pode engravidar em determinados momentos do mês e, como tal, nos restantes pode ter relações sexuais desprotegidas sem risco de engravidar», refere o estudo, em que as mulheres foram divididas em três gerações: a geração Z (idade média de 21 anos, solteira, com Ensino Básico, pelo menos, sem filhos e estudante), as millenialls (idade média de 30 anos, solteira, com Ensino Superior, casada, sem filhos e trabalhadora) a geração X (idade média de 39 anos, casada, Ensino Superior, um filho, trabalhadora).
Prioridade é a carreira, viajar e poupar dinheiro
Em todas estas gerações, conclui o estudo, as mulheres «dão hoje mais prioridade a viajar, poupar dinheiro ou progredir profissionalmente do que a casar-se, comprar casa ou ter um filho». Só 26% disse querer ter um filho.
Mas depois há diferenças entre os grupos etários. As da geração X, apesar da idade, não têm qualquer intenção de ter filhos (só 17%) mas são menos preocupadas com uma gravidez não planeada, enquanto as millenialls são as que mais recorrem à pílula do dia seguinte. Já as da geração Z são as que mais se preocupam em não ficar grávidas, mas um terço manteve relações sexuais desprotegidas.
«É típico dos mais jovens “pensar que vai correr tudo bem” e, portanto, não valorizam adequadamente o risco de uma gravidez não desejada», diz Teresa Bombas, presidente da Sociedade Portuguesa de Contraceção, sublinhando que «nunca é demais repetir que sempre que uma jovem tem relações sexuais sem proteção deve fazer contraceção de emergência».
A médica diz que «não acredita» que «o aborto seja visto pelas portuguesas como um método contracetivo» e recorda que o uso de contraceção aumentou nos últimos 10 anos e a quantidade de abortos tem diminuído progressivamente.
«O aborto não é utilizado pela maioria das mulheres como contracetivo. Contudo, as mulheres mais jovens sabem que o aborto é legal. E legalidade deve significar segurança.», diz a médica Teresa Bombas.
«Não é utilizado pela maioria das mulheres como contracetivo. Contudo, as mulheres mais jovens sabem que o aborto é legal. E legalidade deve significar segurança. Pelo que, numa situação de gravidez não desejada, sabem que podem e devem recorrer a um hospital autorizado para iniciar o processo de interrupção de gravidez», refere.
Quanto ao facto de as mulheres não definirem hoje como prioridade ter filhos, a especialista diz não ter dúvidas que, em grande parte, está relacionado com a crise económica que atingiu Portugal.
«A população tem expetativas de vida e, com os ordenados precários que existem no nosso país, os jovens têm de estabelecer prioridades. Além de que um filho é uma responsabilidade a longo prazo. Não devemos encarar como uma decisão egoísta e pouco responsável, mas sim como uma liberdade de decisão e uma consciência da instabilidade que se vive na Europa, incluindo no nosso país».