Michael Fassbender: o novo filme e a nova vida do ator em Lisboa

Texto de Rui Pedro Tendinha

Ele próprio não sabe ainda muito bem porque escolheu Lisboa para viver. Michael Fassbender conta muito tranquilamente que há coisas que não se explicam. Mas insistimos. E ele: «Lisboa por que não? Por exemplo, filmei o O Boneco de Neve em Oslo e gostei daquele frio, mas não sei se suportaria aquele clima tanto tempo. Em Lisboa, a temperatura é simpática. Gosto dos lisboetas, mas ainda não sei falar bem a vossa língua… Sei dizer “sim”. Lisboa tem um atrativo: é perto do oceano e, além da temperatura, gosto da comida e dos vinhos, são sempre óptimos. Lisboa é uma cidade menos intensa do que Londres. Sinto que em Lisboa ganho mais espaço».

A conversa sobre Portugal e a sua capital não é algo que o ator queira aprofundar muito, sobretudo porque está num hotel chique de Londres a promover um filme que precisa de todos os cuidados de marketing, o thriller para adultos O Boneco de Neve, adaptação do sueco Thomas Alfredson ao universo de Jo Nesbo, o autor nórdico que é campeão de vendas de policiais com o toque nordic noir.

«O surf em Lisboa é muito bom. Tenho surfado muito, já fui para o sul e também para as praias a norte da cidade. Gosto muito de toda a costa portuguesa e sinto que ainda tenho de a explorar como deve de ser.»

Por isso mesmo, insistimos com cautela e falamos-lhe de fado e do lado nostálgico do seu bairro, Alfama: «ah, isso entusiasma-me menos. Devo confessar que ainda não ouvi bem fado, tenho de experienciar a sério, mas melancolia passo bem sem… Além do mais, o surf em Lisboa é muito bom. Tenho surfado muito, já fui para o sul e também para as praias a norte da cidade. Gosto muito de toda a costa portuguesa e sinto que ainda tenho de a explorar como deve de ser.»

Antes de começar a «vender» o filme, faz uma outra confissão: «sim, sei que a Madonna também mora em Lisboa, que foi para lá devido ao seu filho futebolista. O Benfica é a equipa que se deve apoiar, certo? Mas não sou muito de futebóis. A minha cena é o surf, as corridas de carros e até prefiro o rugby. Agora a sério, a mudança para Lisboa deve-se a uma série de coisas, mas a verdade é que gosto mesmo da cidade, caso contrário não me teria mudado».

«Sei que a Madonna também mora em Lisboa, que foi para lá devido ao seu filho futebolista. O Benfica é a equipa que se deve apoiar, certo? Mas não sou muito de futebóis.»

Quanto à imersão na pele do detetive lendário Harry Hole, um alcóolico que Jo Nesbo escreveu com todos os requintes de vulnerabilidade, o ator irlandês é prático: «atraiu-me este detetive porque ele não é de todo uma personagem heróica. Sempre que se mete em confrontação física sai sempre a perder. Gosto que ele seja um excelente detetive usando apenas a cabeça. Quando li os livros do Nesbo percebi que o homem está cheio de camadas psicológicas sobre ele. De facto, pareceu-me uma personagem real, um tipo que percebe as suas próprias limitações. Gosto também muito da sua anti-sociabilidade e de toda a complexidade da relação que tem com a sua ex-mulher. Enfim, alguém muito credível numa área cheia de clichés…».

O filme tenta então rentabilizar esta febre pelos romances policiais nórdicos, uma febre que se estende também à televisão, em que séries como Borgen ou Wallander, e que já tem batismo: o tal nordic noir. Se este primeiro embate com Hole correr bem, Fassbender pode voltar para mais adaptações ao best-seller.

Sobre a moda dos policiais nórdicos, Fassbender não tem uma teoria, prefere apenas salientar que o público moderno ainda gosta de ser assustado: «as pessoas pelam-se por sentir a adrenalina a bater»

Neste, o seu detetive enfrenta um misterioso serial killer que depois de matar mulheres grávidas ou mães deixa sempre um boneco de neve. Trata-se de um assassino que confronta Harry com notas pessoais e que poderá estar mais perto dele do que se poderia suspeitar. Aos poucos, Harry começa a perceber que a doença deste assassino poderá estar ligada a um trauma maternal de infância.

Sobre a moda dos policiais nórdicos, Michael não tem uma teoria que o justifique, prefere salientar que o público moderno ainda gosta de ser assustado: «as pessoas pelam-se por sentir a adrenalina a bater. Dá-lhes prazer. A nível de suspense, o que eu mais gosto é da sugestão em vez da imagem explícita. Não sou particular fã dos filmes com imagens gráficas fortes… Prefiro mesmo que seja o público a construir as imagens de choque. Pensamos sempre em coisas mais maradas do que aquelas que acabamos por ver no ecrã».

Curiosamente, neste filme a sugestão é o prato forte mas também há imagens de cabeças cortadas e algum sangue sobre a neve, um pouco a repisar o imaginário de Millennium 1- Os Homens que Odeiam as Mulheres, o thriller «nórdico» de David Fincher.

«Pilotar a alta velocidade é aquilo que mais gosto. Trata-se de testar os limites, os meus e os da máquina. Adoro essa mistura.»

E se a mudança de Londres para Lisboa é um sinal acerca do seu desejo de se reinventar aos 40 anos e viver à vontade a paixão com a sua mulher, a atriz sueca Alicia Vikander, acaba por também ser um sinal de mudança de carreira.

Neste encontro, confirmava que num futuro próximo quer escrever e realizar: «mas nesta altura ainda nem sei bem o quê. Tenho dois projetos em curso, vamos ver. Não gosto de estar a dizer o que é pois, na volta, não se faz, e torna-se chato ter estado a anunciar. Sim, gosto de mudanças, embora como europeu Lisboa não seja um local estranho…»

Logo depois de ter terminado esta rodagem, fez mais uma vez de Magneto na novíssima sequela de X-Men, mas logo depois teve finalmente uma paragem no muito exigente calendário de filmagens.

Por isso, foi surfar para a África do Sul e diz que amou. Amou também um convite da Ferrari para pilotar em competições promocionais por toda a Europa, as famosas NA Challenge, em que lhe deram para a mão um carro de corrida 488 Challenge, com o qual há três semanas se despistou num dos circuitos.

Um despiste sem consequências, garante: «pilotar a alta velocidade é aquilo que mais gosto. Trata-se de testar os limites, os meus e os da máquina. Adoro essa mistura. Não pense que o que me atrai é o perigo, nada disso. Atrai-me mesmo o sentido da velocidade».

E, como nos conta, o seu ídolo é Michael Schumacher. A vida e carreira do piloto alemão dariam um bom filme? «Possivelmente! Creio que ele é o maior de sempre, tirando o Fangio, mas dos contemporâneos é o melhor, de certeza. É o meu herói».

No final deste encontro, sorri com cumplicidade e despede-se com «vemo-nos em Lisboa, vizinho!». Michael Fassbender é um homem mais sorridente. Lisboa e umas férias quase inéditas fazem dele um homem feliz…

O maior ator da sua geração?

São muitos os que consagram este ator irlandês nascido na Alemanha há 40 anos como o melhor da sua geração. Maior… melhor… é complicado de dizer, talvez seja mais fácil afirmar que é aquele que tem mais sucesso. É considerado também um símbolo sexual e já esteve nomeado aos Óscares por duas vezes.

Desde que Quentin Tarantino pensou nele para Sacanas Sem Lei, em 2009, nunca mais parou, apesar de antes já ter provado a todos que tinha talento em Fome, de Steve McQueen («foi essa a minha oportunidade e não a deixei largar por nada!», revelou ao nosso microfone) e também no cinema francês, em Angel – Encanto e Sedução, de François Ozon.

Depois disso, papéis fortíssimos para realizadores como Ridley Scott, David Cronenberg, Steven Soderbergh e Terrence Malick, já para não falar de um certo franchise chamado X-Men, onde interpretou até agora Magneto jovem (o papel que era de Ian McKellen na primeira fase) já por quatro vezes. Quando era jovem, o seu sonho era ser músico. Agora, sonha continuar a ser produtor e, num futuro próximo, tornar-se realizador.

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