Em Portugal elogiam-se Start Ups, empreendedorismo, diz-se que a solução para um país como o nosso deve ser a criatividade e a criação de alto valor, com baixo custo, que só a imaginação pode proporcionar. Vem aí a Web Summit e o show tecnoideológico da juventude que muda o mundo com novas tecnologias – e os elogios às empresas portuguesas que conseguem brilhar nesse mundo cada vez mais comum e ligado.
Este pensamento é correto. É muito improvável que Portugal, país com cada vez menos massa crítica demográfica, incapaz de concorrer com salários do terceiro mundo, com baixa capacidade industrial – também fruto das variáveis anteriores – consiga obter algum nível de crescimento consistente na economia se não for por esta via da excecionalidade. Podemos, também, render-nos ao turismo e ser todos estalajadeiros. Mas teremos de inovar se não quisermos estar dependentes de flutuações do mercado, ou coisas sobre as quais ainda temos menos poder como atentados e crises.
Ora, o nome desta crónica indicava que era sobre educação e estou para aqui a falar de economia? Pois, isso mesmo. É que aí está um dos busílis da questão portuguesa. Fala-se muito de inovação mas não se liga nenhuma ao ensino. Nem no início do arranque escolar – quando as agendas mediáticas até estariam para aí viradas – se fala dele. Quer dizer, fala-se de ensino, mas normalmente não é para falar de ensino. É para falar das escolas e dos seus intervenientes sociais – professores sobretudo, alunos às vezes, pais mais raramente e funcionários quando fazem greves que nos afetam a todos. Fala-se de resultados: PISA, chumbos ou retenções, médias, rankings de escola. E o ensino – o ato de transmitir conhecimentos – é mandado às urtigas.
O que sabem realmente os alunos portugueses? Ninguém sabe, e ninguém parece estar muito preocupado com isso. Estão preparados para pensar? Para criar? Para lidar com as novas tecnologias? E, sobretudo, estão preparados para lidar com um mundo em permanente mudança – e rápida – que é basicamente a única certeza que temos neste momento?
Nada disto sabemos. Temos uma ideia, os que temos filhos ou conhecemos crianças em idade escolar, que não. Mas as discussões sobre pedagogia, programas e métodos continuam a ser pouco políticas, restringindo-se normalmente a fóruns fechados a gente do próprio meio, com hábitos endogâmicos como todas as classes profissionais. É verdade que o ensino e os seus métodos são temas complexos, é possível que deem poucos cliques e fiquem abaixo nos rankings de artigos mais lidos – mas nem assim se explica como podem criar tão pouco engagement nas redações.
E, no entanto, é ao ensino, que se vai sempre dar quando se debatem as questões económicas que nos afetam, país pobre e sem produtividade. Segundo os dados da Pordata, a produtividade portuguesa não tem aumentado – e os números de hoje são até menores do que no pré-crise. Isto quando Portugal tem cada vez mais trabalhadores qualificados, mais novos, cada vez mais gente com o ensino superior, cada vez menos gente com o ensino básico. Não terá chegado a altura de falar do assunto de forma séria e consistente?