Texto de Sara Dias Oliveira | Fotografias de José Sarmento de Matos
José Sarmento Matos não quer parar. Andou pela Índia e pelas Filipinas, de fevereiro a junho do ano passado, a fotografar trabalhadores de call centers. Quem está do outro lado do telefone a dar informações e a prestar apoio a clientes espalhados por todo o mundo? Quem são essas pessoas? O que fazem? Como vivem? Como são as suas vidas?
Nas primeiras e maiores indústrias deste setor, o fotógrafo de 28 anos captou vários momentos de pessoas que estão do outro lado da linha. «São pessoas que nunca vemos, pessoas sem cara que só têm voz. Era importante dar-lhes uma cara», diz o fotógrafo à NM dias antes da inauguração da sua exposição How Can I Help You?, que abre esta quinta-feira, pelas 19h00, no Espaço Santa Catarina, em Lisboa, e onde estará até 4 de outubro.
«Gostava de deixar um registo. Mais tarde ou mais cedo, estas pessoas [trabalhadores de call centers] vão ser substituídas por tecnologia, vão desaparecer, e não há nenhum documento fotográfico sobre elas»,diz o fotógrafo José Sarmento de Matos.
O fotógrafo documental, natural de Sintra, professor de Fotojornalismo na Universidade de Artes de Londres, acompanhou trabalhadores indianos e filipinos nos seus locais de trabalho, nas suas casas, nas suas rotinas.
Depois das fotografias, Sarmento de Matos sonha com um livro como continuidade deste projeto que mostra as vidas por detrás dos call centers e que já teve espaço em várias publicações internacionais, desde o New York Times, à Wired ou à Newsweek, por exemplo.
«Gostava de deixar um registo. Mais tarde ou mais cedo, estas pessoas vão ser substituídas por tecnologia, vão desaparecer, e não há nenhum documento fotográfico sobre elas», revela. O projeto continua e há vontade de fotografar mais pessoas de call centers na América e em Inglaterra para mostrar mais dois lados de uma realidade.
O fotógrafo encontrou melhores condições de trabalho nas Filipinas do que o que conhece na Europa, ouviu histórias de gente que emigrou propositadamente para trabalhar em call centers nesse país.
O fotógrafo português, distinguido com o prémio «30 under 30» da Magnum em 2015, ficou surpreendido com algumas coisas que viu nos dois países que empregam cerca de dois milhões de trabalhadores na indústria dos call centers.
Encontrou melhores condições de trabalho nas Filipinas do que o que conhece na Europa, ouviu histórias de gente que emigrou propositadamente para trabalhar em call centers nesse país, registou vontades de progredir na carreira num trabalho temporário.
José Matos está agora em Portugal com a sua exposição com 20 fotos. Além das imagens de pessoas dos call centers, há mais duas séries fotográficas «Commuting in Mumbai» e «No-where in Manila», desenvolvidas no mesmo período em que esteve nessas duas cidades.
O fotógrafo, que já colaborou com a Notícias Magazine, com uma reportagem sobre o Brexit e os portugueses em Londres, tem publicado com frequência os seus trabalhos em jornais e revistas internacionais, as suas fotografias já estiveram expostas em várias cidades europeias como Paris, Berlim, Londres, Viena, Oslo, além de Lisboa e Porto. E participou num livro que reuniu 12 fotógrafos internacionais no âmbito do Project Sea Change. Há três anos concluiu o mestrado em Fotojornalismo e Fotografia Documental na universidade onde agora dá aulas.