Teresa apoia órfãos da sida em Moçambique. Fernando passa temporadas na Birmânia a garantir que crianças com cancro tenham acesso ao hospital. Marta está numa favela no Quénia a ajudar 76 rapazes e raparigas a estudar. Helena ajuda meninos das ruas de Moçambique. Carlos faz cirurgias de guerra no Sudão. Todos sentem que há muito por fazer. Eis a história de Teresa Paiva Couceiro.
A primeira grande experiência de Teresa Paiva Couceiro, 47 anos, foi em Moçambique, onde chegou como voluntária em outubro de 1999. Antes tinha estado quatro vezes em Cabo Verde, na Ilha de Santiago, a ajudar no hospital e a pintar escolas, mas só durante as férias escolares, através da Azul, uma associação que ela e mais quatro colegas criaram na Universidade Lusíada, em Lisboa, o que, aliás, a fez demorar sete anos a concluir o curso de Relações Internacionais.
Em 1999, já com a licenciatura acabada, foi para lá por quatro anos. «Já trabalhava na Fundação Fé e Cooperação e despedi-me. Fui para Moçambique». Tinha uma bagagem de quase 100 quilos, mas quase nada era seu. «Levava muitas coisas para as escolas, canetas, medicamentos, material escolar.» Era voluntária numa missão dos Leigos para o Desenvolvimento e foi dar apoio e formação a dezenas de escolas comunitárias para meninos dos 3 aos 6 anos, que se estendiam num raio de 200 quilómetros, na província do Niassa. Vivia numa casa em Cuamba, cidade do interior desta província, com outras voluntárias, e tinha 30 dólares por mês para gastar. «Muitas vezes nem isso gastava», conta, recordando que usava a roupa que encontrou nos armários que tinham pertencido a outras voluntárias que por ali tinham passado ou roupa que comprava nas feiras, como umas calças Levi’s que lhe duraram anos e que lhe custaram o que hoje seriam três euros. Vivia parte do ano sem água canalizada, sem luz. Foi-se habituando.
De Portugal ia recebendo convites de amigos para casamentos e notícias dos novos empregos. «Mas aquela era a vida que tinha escolhido para mim e estava feliz». Além dos miúdos, começou a ir visitar presos à cadeia «Era um cubículo de quatro metros quadrados com um buraco no chão para as necessidades.» Conseguiram melhorar um bocadinho as condições da prisão, e as mulheres foram colocadas num canto, à parte. Voltou para Portugal em 2004, mas manteve-se ligada a Moçambique. Foi convidada pelos jesuítas para lançar uma ONG e assim nasceu a Fundação Gonçalo da Silveira para combater as desigualdades sociais. O primeiro projeto foi a construção de um centro de formação para raparigas até aos 16 anos, onde podem aprender a costurar perto da escola em Npenha, no distrito de Angónia. A organização liderada por Teresa conseguiu também criar casas para órfãos de sida nas aldeias da província de Tete, que todos podem apadrinhar e ajudar.
«São seis casas de tijolo, que acolhem 62 crianças entre os zero e os 12 anos». Em fevereiro esteve lá, a ver como tudo está a correr: «É muito bom ver que aquelas crianças têm possibilidade de ter um futuro». Neste momento, tem entre mãos um projeto em seis aldeias rurais da zona do Nhangau, na Beira, onde se construíram escolas, formaram professores para começar a ensinar português às crianças e ajudam as pessoas a criar associações agrícolas. «Juntam-se e um vai por todos vender os produtos à Beira», resume Teresa, que não se imagina a viver de outra maneira, a não ser tentar ter um mundo um bocado melhor. «Sinto-me bem a ajudar», diz, lembrando que foi educada numa família que já tinha essas preocupações. «O meu pai sempre me transmitiu a ideia de que o ser é melhor do que o ter». Além disso, as suas tias, algumas freiras, sempre passaram a vida a auxiliar os outros. «Ouvia muitas histórias do que elas faziam e via que eram pessoas felizes». Teresa também é. Faz o que gosta e assume-se como uma viciada em pessoas.
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