«Ainda estás no supermercado? Traz-me pensos higiénicos. Normais, com abas. Os que eu uso. Beijo.» Bolas. E agora? Respondo à mensagem? «Eu não percebo nada disso, é melhor comprares tu»? Ou telefono a pedir explicações detalhadas sobre a marca, a quantidade, a cor e formato da embalagem??
Mas por que raio há-de ser o homem a comprar pensos higiénicos para a mulher? Pois, boa pergunta. A única resposta possível, porém, é mesmo a mais óbvia: elas pedem-nos para comprar porque… precisam dos pensos. Simples. E, tratando-se de uma coisa tão básica, convencem-se que somos capazes de o fazer. Quando fazem a lista de compras ou quando nos telefonam ou enviam SMS com o pedido de última hora, talvez lhes passe pela cabeça: «será que ele é capaz? Não vai baralhar-se?» Mas rapidamente concluem que «qualquer pessoa consegue, não há que enganar. Não estou a pedir para trazer verniz, anti-olheiras, champô ou tinta para o cabelo. São só pensos.» Ou seja, aquilo não é propriamente uma armadilha para ver se nós nos safamos. É uma necessidade. Apenas isso.
Mas não, os homens não vêm a coisa assim. Alguns talvez recusem, mas nós, os outros, encaramos aquilo como um desafio. Olhamos para aquelas palavras entaladas no papel amarelo entre os «cotonetes» e o «gel de banho» e vemos uma prova de fogo a superar. Uma etapa na relação. É aqui que se distinguem os homens dos meninos. É nestes momentos que temos de estar à altura das exigências destes tempos. Ao pé disto, os doze trabalhos de Hércules são coisa de mariquinhas. Homem que é homem corta as cabeças da Hidra com uma mão e compra pensos higiénicos com a outra, enquanto pensa no que vai fazer para o jantar.
E lá vamos nós, confiantes, pelo corredor central, com o carro cheio e o peito inchado. «Yes, we can.» O mundo é nosso. A nossa mulher precisa de nós e nós estamos lá para ela. Estamos orgulhosos. Somos cool. E percebemos o suficiente do universo feminino para chegar ao corredor certo, à prateleira certa, e escolher a embalagem certa… Errado! Aquilo não é um corredor. É um labirinto cromático. Podia ser uma prova para um teste psicotécnico.
Escolhemos a embalagem errada e pimba! Ficamos logo vocacionados para engenharia, apesar de não gostarmos de matemática. O raio do sítio está cheio de cores – e mulheres –, com tantas, tantas variedades de pensos higiénicos que é impossível acertar à primeira. Raios, vamos ficar aqui horas. E o peixe a descongelar no carrinho.
Já é difícil comprar detergentes. Entre tecidos delicados, roupa escura, roupa de bebé, cores fortes, sintéticos, aditivados, amigos do ambiente não concentrados, amigos do ambiente concentrados, a variedade é tanta que envelhecemos naquele corredor. Mas aí a obrigação é tanto nossa como delas. Se queremos a casa limpa e a cheirar bem, temos de passar por aquilo. Agora o raio dos pensos…
«Ora bem, normais com abas. Vamos lá… Maxi, tanga, mini, ultra-normal (porra, o que é ultra-normal?), com bolsas individuais, com toalhitas (isto deve dar jeito), longos, largos, diário, diário ultra-fino, fino, light, protecção total com alas, protecção total sem alas, normal sem alas…» Maldito marketing. Tantas palavras.
Se ela tivesse pedido discos desmaquilhantes era mais fácil. Ou acetona. Mas pensos higiénicos… Antigamente só havia os Reglex e os Modess. Era mais fácil. O nosso pai não comprava pensos higiénicos, mas se tivesse de o fazer, só tinha de lutar contra o preconceito. Agora temos de lutar contra o espaço: são 14 (exacto, qua-tor-ze) passos de pensos higiénicos. Do início do corredor até ao fim da zona onde há pensos, são 14 passos bem contados de embalagens coloridas, divididas por oito prateleiras.
Até elas ficam baralhadas com tanta variedade. Andam ali alguns minutos para trás e para a frente, a desenhar ziguezagues com os olhos, até encontrarem o que querem. A diferença é que elas depois vão-se embora, decididas. Já têm o que precisam. Nós não. Quando encontramos – «normais com abas, cá está» – pomos a embalagem no carro e avançamos a medo para a caixa enquanto vamos pensando: «serão mesmo estes? A marca não parece esta. Os que ela usa são de outra cor. Acho que também havia normais com abas de outra marca. Se calhar fiz asneira. É melhor ir buscar outra embalagem. Levo duas, só por segurança. Ou três. Se ela está a pedir pensos é porque o período deve estar a aparecer. Deve estar com mau feitio. Maldito SPM. Se chego a casa com os pensos errados fica pior que estragada. É melhor ir buscar os outros. Mas se apareço com várias variedades vai-se rir de mim. Pior, muito pior que isso. Vai dizer: «Pois, eu logo vi que tu não sabias. Nunca sabes nada. Nunca prestas atenção às minhas coisas. Eu vivo contigo mas não sabes nada dos meus gostos.» Pois, é melhor não. É melhor deixar a porra dos pensos na mala o carro, just in case.
Rai’s parta. Da próxima vez que ela vier às compras peço-lhe para comprar lâminas de barbear. Aí é que eu me vou rir. E até vou esperar para ela estar no supermercado e envio-lhe uma mensagem com a marca e modelo. Depois é só esperar para ver o que ela consegue fazer.
[Publicado originalmente na edição de 14 de agosto de 2011]