A ideia deste ex-informático é que por detrás de cada bom vinho há uma boa história. Foi por isso que criou a Adegga, uma plataforma que reúne uma série de produtores de excelência, e permite provar e adquirir os eleitos.
Há nove anos, um grupo de informáticos operou uma espécie de revolução no mundo dos vinhos portugueses. Com a assinatura Adegga, com dois gg, os rapazes criaram um novo modelo de negócio: uma plataforma online que permite fazer chegar os melhores vinhos ao consumidor final. A Adegga existe para os chamados wine lovers, organiza mercados com provas de vinho, gere uma rede social em torno deste e aproxima os produtores do público. Os vinhos, sempre nacionais, podem ser encomendados através do site, a preços competitivos.
O cofundador e porta-voz da Adegga é André Ribeirinho, um defensor acérrimo do conceito de que por detrás de cada bom vinho há sempre uma boa história. «Tudo começou a funcionar quando oferecemos um lado físico aos consumidores que usavam a plataforma digital. Agora, as pessoas vão aos eventos e depois voltam à rede social para comprar os vinhos de que mais gostaram», diz André, alguém que há dez anos deixou um emprego «seguro» como craque informático do Sapo (Portugal Telecom) para se dedicar a cem por cento a este projeto: «Antes era muito esquisito. Não bebia vinho e nem percebia nada de vinhos. Nem sequer comia queijo. Não dá para imaginar a quantidade de sensações que descobri. Aprendi a gostar, fiz cursos, entretanto, e hoje é uma paixão. Abriram-se uma quantidade de portas. Sou louco por vinho do Porto.»
SER UM EXPERT DE VINHOS tardio tem vantagens, permite o ângulo precioso da distância. Os prazeres de Baco neste homem de 36 anos ainda têm a efervescência da novidade. Se o vinho terá mudado a sua vida, há antes de tudo isso – muito antes – um episódio determinante: «Nasci com glaucoma. Aos 21 dias tive de ser operado e isso deu-me uma perspetiva diferente: tenho de aproveitar melhor a vida. Estou sempre grato por não ter ficado cego. O vinho é um dos canais através do qual passei a aproveitar a vida.»
Rentabilizando a cada vez maior ligação entre vinho e gastronomia, um dos mais importantes eventos «ao vivo» da Adegga são os jantares vínicos: «as pessoas veem a gastronomia como uma coisa acessível e os vinhos como algo complexo. Todos sabem falar do prato que estão a comer, o que nem sempre acontece em relação ao que bebem. A nossa ideia é fazer aproximar as pessoas do vinho», explica André Ribeirinho.
No décimo quinto WineMarket, o primeiro no Algarve, organizado pela Adegga, percebe-se o trabalhão que uma empreitada destas significa, mas um trabalhão que é feito com um prazer dos diabos. «Já temos uma estrutura que monta eventos com alguma rapidez, mas em cada WineMarket o processo para garantir a alta qualidade que pretendemos é longo e complexo. Há que coordenar muitos produtores: 300 vinhos em cada evento.» Para entrar num evento Adegga e poder provar à discrição vinhos de topo, paga-se 15 euros e recebe-se um copo que se pode levar para casa.
Não é um copo qualquer, é um Smart-Wineglass, cujo chip permite, no momento, dar uma avaliação sobre cada vinho que se prova (posteriormente, recebe-se um e-mail com todas as classificações dadas durante a prova. Não há perigo de amnésia alcoólica…). Ribeirinho garante que esta tecnologia inovadora está bem registada e até já foi premiada no Wine Business Inovation Summit. Há também gente que se conhece ali, com o copo na mão, depois da familiaridade na net. Através destes mercados, muitos amantes de vinho já se conheceram pessoalmente.
JÁ EXISTE UMA LISTA DE ESPERA de produtores que querem trabalhar na plataforma. O critério é a qualidade e só entram 40. «Já se percebeu que fomentamos a ligação emocional ao vinho, que para nós é algo mais do que o conteúdo da garrafa. Tem que ver com a história que está por detrás. Por exemplo, o vinho menos interessante que uma pessoa possa ter bebido pode ser o mais importante da sua vida se estiver associado a um momento importante… Isso é a emoção.»
Para se chegar aqui, um produtor tem de ter uma boa relação preço/qualidade, saber falar com os consumidores sem linguagem técnica e ter histórias para contar. Paulo Laureano, produtor de alguns dos vinhos elegíveis (e até tem uns tantos em exclusivo), é fã: «Trata-se de uma nova forma de atingir um conjunto de clientes associados aos eventos da Adegga e diferenciados dos habituais frequentadores das feiras de vinho. Assim, para além de ocasiões pontuais, como os AdeggaWineMarket, onde podem comprar vinhos, estes enófilos passam agora a dispor de forma permanente de uma oferta alargada de vinhos, muitos deles verdadeiros exclusivos. A venda online é cada vez mais uma realidade e saber ser criativo, também nesta área, fará toda a diferença.»
André Ribeirinho, ao meio, com Celma Carreira e André Cid, dois dos sócios na Adegga.
Ribeirinho e os seus sócios perceberam que, ao contrário dos discos e dos filmes, não havia nenhuma plataforma que tornasse possível a comercialização dos vinhos via internet. O CEO da Adegga faz um paralelismo: «O iTunes fez que pudéssemos comprar a Madonna e, ao mesmo tempo, o disco mais indie. Agora, através de nós, é possível comprar o vinho de topo ou um mais popular. Nem lá fora existia uma plataforma que permitia isso. Porquê? Digamos que o mundo do vinho é tradicionalmente muito fechado e conservador.» Mas, tal como Laureano aponta, uma das principais «revoluções» da Adegga é a forma como leva e promove os nossos vinhos lá fora: «Podemos ajudar o reconhecimento internacional do vinho nacional utilizando a mesma perspetiva de conquista de novos conjuntos de enófilos. Creio que fazem uma promoção crescida, criativa e inteligente dos vinhos portugueses nos mercados internacionais.»
No Brasil, no Rio de Janeiro, durante dois dias, esgotaram a capacidade de uma pista de corridas e atraíram 10 mil pessoas, que se acotovelaram para entrar no mercado. Dia 19 de setembro têm o primeiro mercado em Estocolmo e segue-se, a 3 e 4 de outubro, Berlim, a convite de um evento de comida de rua.
A ESTRATÉGIA DE RIBEIRINHO é dar a provar e vender (o lema, para diferenciar de uma prova de vinhos, é poder também comprar de seguida) cada vez mais vinho português em mercados onde a entrada é complicada. Não é por acaso que a rede social está em oito línguas diferentes. Será isto serviço público patriótico? A resposta vem de pronto: «Há uma grande apetência dos enófilos estrangeiros para o nosso vinho e estamos a ajudar os nossos produtores a vender lá fora. A Alemanha e a Suécia são os nossos dois primeiros mercados internacionais, mas já chegámos com eventos ao Brasil e à Bélgica.»