Os filmes portugueses tomam conta das telas e as bilheteiras batem recordes. Bom pretexto para, numa edição dedicada à moda, juntar sete atores e realizadores do novo cinema português e mostrar que é também de muito estilo que se faz esta classe de 2014. A roupa? Trouxeram eles de casa.
Soraia Carrega
Atriz de Ruas Rivais
BREVEMENTE EM DIGRESSÃO
Há sorrisos que iluminam um ecrã. O de Soraia Carrega tem iluminado sobretudo pequenas janelas nos computadores portáteis de milhares de adolescentes portugueses. Ela é uma estrela do YouTube, e conhecida neste meio como Djubso. O cinema veio por acréscimo, depois de ela se tornar um fenómeno na rede social de vídeos e de fazer parte de um grupo de outros conhecidos youbers que entrou numa campanha de publicidade na televisão ao operador de telemóveis Optimus. Todos foram desafiados a dar vida às personagens de humor que criaram para a net mas num filme chamado Ruas Rivais. Pela calada, e em poucas salas, fez mais de 36 mil espetadores.
Soraia era a presença feminina mais marcante. Agora, e ainda aos 21 anos, não sabe se vai voltar a representar. «Isto é tudo tão, tão surreal. Ver-me no grande ecrã. E o que é curioso é que se trata de um filme feito para o nosso público, o pessoal do YouTube. Eles não nos podem julgar porque sabem que não somos atores.»
Ao contrário da sua Djubso, o estilo de moda de Soraia é diferente, como começa por ver–se no seu cabelo, naturalmente encaracolado. Reivindica o poder do low cost. «Apesar de ver a ModaLisboa na televisão, não sou muito de marcas. Nem compro revistas. Tento apenas não ficar desmazelada.» Peça fetiche: saias. «Tenho um fanatismo por saias, redondas e subidas. Todo o meu improviso anda à volta da saia», diz.
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André Marques
Realizador de Luminita
EM EXIBIÇÃO NO CIRCUITO DE FESTIVAIS
Parece que isto da sétima arte é para quem não gosta de assumir que liga ao que veste apesar de andar sempre bem-parecido. A desculpa do realizador André Marques é que viveu algum tempo na Roménia, onde filmou Luminita. Por isso, diz, a sua moda é não aderir a marcas. «Visto-me assim um pouco mais à rock, por assim dizer… Prefiro o negro.» Mas hoje ninguém é impermeável ao que se veste, às tendências. No cinema como na moda. «Por muito que queiramos, somos todos influenciáveis. É como no cinema…»
No cinema é André quem anda a ditar as regras. Alguns críticos do cinema português dizem que o próximo grande nome do ofício será o dele. A sua curta-metragem Luminita, de 2013, estreou-se recentemente em sala, arrecadou uma série de prémios importantes em festivais internacionais. O Avô, outra curta, também já está a fazer circuito internacional. Aos 29 anos, lança-se para uma longa-metragem, O Bêbado, já selecionado para apoio pelo Festival de Veneza. E o que espera ele de tudo isto? «Acho que finalmente surgem condições para ajudar a proliferação dos filmes nacionais, a começar por uma série de cinemas, entre os quais o Ideal (Lisboa). Além do mais, o interesse dos media parece genuíno.»
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Maria Leite
Atriz em Canal
BREVEMENTE EM FESTIVAL
Desde os 18 anos que Maria Leite anda a fazer filmes. Tem o chamado rosto de cinema e o cinema adora-a. A moda, essa também lhe assenta muito bem. Isto apesar dos apertos com que se vive sempre a vida de ator, ou de atriz. Diz que não faz muitas compras: «Apanho muitas vezes os saldos a um euro da loja Humana, de segunda mão.» Mas gosta de algumas marcas, como a Kling. Sara Coimbra Loureiro, amiga do peito, tem sido a personal stylist da atriz. «Já passei tardes muito divertidas a comer comida japonesa com ela e a experimentar roupas extravagantes. Eu tenho tendência a vestir-me um pouco mais clássica e a Sara ajuda-me nessa desconstrução.» Varia muito, diz, embora tenha um fraquinho por roupa um bocadinho extravagante. «Às vezes sinto falta de um grande casaco de peles…»
Um segredo de moda? O amor por brincos grandes. Suspeitamos que ficam bem com a voz ligeiramente rouca e sensual que vamos poder ouvir em Canal, a curta-metragem de Rita Nunes, que em breve vai estrear-se no circuito dos festivais. Maria também já participou em Guerra Civil, de Pedro Caldas.
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David Chan Cordeiro
Ator em Capitão Falcão
ESTREIA EM ABRIL DE 2015
Como homem de cinema de ação, David Chan Cordeiro não tem rodeios para falar do seu estilo. «Gosto muito de moda. Se calhar não existe, mas sou um fashionista da moda prática. Quero ter estilo e também ser eficiente. Mas gosto mesmo de estar dentro do que está a passar. Recorro sempre a alguém para me ajudar nas compras, sobretudo a atrizes.» Ultimamente, «meio por acidente», diz, tem deixado crescer uma barba cuidada. «As pessoas acham que já não pareço tanto aquele rapaz asiático.»
Esta origem não a pode negar, o que lhe dá um certo exotismo no mundo certinho das artes portuguesas. David é mais conhecido no meio por ser o responsável pelos melhores duplos em Portugal, a Mad Stunts. Por ser o único rapaz de origem chinesa na escola de Portimão, onde nasceu, ficou obcecado com artes marciais. Agora, em Capitão Falcão, de João Leitão, vai pular, pontapear e bater em comunistas barbudos. O filme estreia-se no próximo ano e ele será o Puto Perdiz, o companheiro de aventuras do super-herói fascista capitão Falcão, interpretado por Gonçalo Waddington. «Digamos que encontrei uma personagem que entra dentro da minha zona de conforto.»
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Maria João Pinho
Atriz em Os Maias
EM EXIBIÇÃO
Se há filme que está na moda é este. Um sucesso, na bilheteira, junto da crítica e nos media. Mas quando lhe perguntamos se perde tempo a pensar no que leva vestido, por exemplo, para uma estreia tão badalada como a deste filme de João Botelho, Maria João Pinho é direta: «Não estamos em Hollywood, não gosto de fantasiar nesse sentido. Temos de ter noção onde estamos. Apesar do glamour associado ao cinema, não podemos exagerar.» Aos 36 anos, não tem um estilo coquete, mas gosta de variar. Aprecia o trabalho de alguns criadores de moda, mas, sobretudo, gosta de usar o que tem no roupeiro – o que pode comprar. Uma fraqueza? Alfinetes, brincos e coisas antigas. Até pode ser uma camisa velha da avó… Tudo bom para misturar. Afinal de contas, isso é coisa de composição. Coisa de atriz…
Esta é uma atriz de cinema que faz teatro. E uma atriz de teatro que faz cinema. Não importa decifrar o enigma, é uma atriz de que a câmara gosta. A de Fernando Lopes (Em Câmara Lenta), João Salavisa (Montanha), Vítor Gonçalves (A Vida Invisível). Os Maias, foi um desafio. «Fazer esta personagem de época, sobretudo quando temos de viajar nesse tempo na condição feminina e fazer que aquelas palavras fossem minhas», diz ela sobre a subtil e inesquecível condessa de Gouvarinho na adaptação da obra de Eça de Queirós.
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Aya Koretzky
Realizadora de Yama no Anata – Para Além das Montanhas
BREVEMENTE DISPONÍVEL EM HOME CINEMA
É a belgo-japonesa mais portuguesa que existe. E realizadora de cinema documental, e a sua longa-metragem Yama no Anata – Para Além das Montanhas – um relato na primeira pessoa das suas memórias (e imagens) de infância – fez furor em festivais (chegou a triunfar no Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira) e teve direito a estreia nas salas. Filha de mãe belga e pai japonês, chegou a Portugal com 9 anos e por cá ficou. Até hoje, com 31. Está a preparar mais um documentário sobre a volta ao mundo que o pai fez. «Há uma nova linguagem do cinema documental em Portugal trazida pela nova geração. Sinto que há cada vez mais cineastas que filmam de forma mais solitária e ensaísta.»
Com os seus cabelos longos negros, procura na moda uma forma de simplicidade. «Tento sempre encontrar roupa que seja fácil de vestir e pouco cromática. Talvez seja uma influência indireta nipónica, nem sei…» E avisa logo que não é moça para perder muito tempo em escolhas de shopping. «O importante é experimentar e sentir que estou confortável. A única peça de designer que tenho é uma criação do Rui Duarte…» Mas se lhe dessem carta-branca para ir a uma loja reabastecer o guarda-roupa ia à Lidija Kolovrat ou à Alexandra Moura.
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Graciano Dias
Ator em Os Maias
EM EXIBIÇÃO
O mais recente galã do cinema português é um dos atores mais ativos do teatro. Uma descoberta do encenador António Pires que João Botelho tem aproveitado para os seus filmes. Em Os Maias é o protagonista, Carlos da Maia, com uma segurança irrepreensível. Sem esforço, sem excessos. O resultado está à vista: sucesso de público e de crítica, no filme português mais visto neste ano (83 mil espetadores até ao início de outubro). O que não deixa de o surpreender, admite. «Como é cinema português, ficamos sempre a pensar: será que o público comparece? Mas claro que este sucesso proporciona uma sensação única. Se calhar… rara! Estou bastante contente!»
O seu Carlos da Maia na adaptação do clássico da literatura portuguesa é todo ele refinamento. Quase ao contrário do seu próprio estilo. Com 33 anos, não é fashion victim nem um «novo hipster», e tem uma perdição por roupa velha. «Provavelmente é uma tendência, sei bem disso. As pessoas preferem coisas mais simples. Isso ajuda tipos como eu, que não percebem nada de moda. Ainda assim, nunca aceito sugestões. Compro sempre em função do meu instinto. Frequento aquelas cadeias mais baratas, tipo H&M e Zara… Depois… Depois combino com umas camisas da Massimo Dutti, mas não tenho grandes preocupações. Muitas vezes, até adoto um tom mais sport, com calções ou fato de treino…»
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CABELOS: TARECA DIAS DE ALMEIDA MAQUILHAGEM: SUSANA MOURA AGRADECEMOS A CEDÊNCIA DO ESPAÇO AO CINEMA SALDANHA RESIDENCE