Mais uma forma de nos orientarmos

Notícias Magazine

Por estes dias de milagres económicos… Esperem! Ah, ainda não deram por isso? Pois parece que é verdade, dizem os números e a im­prensa financeira mundial. Pois. Estas podem ser boas notícias pa­ra o país, mas serão más para esta crónica. Vejam o título: «Força Anímica». Foi inspirados nestes tempos de incerteza que nós, aqui na Notícias Magazine, nos dispusemos a ir em busca de histórias que nos inspirassem. Queríamos marcar o fim de semana dos lei­tores com um sopro de vida, uma luzinha ao fundo do túnel. Se a partir de agora tudo passar a ser um mar de rosas, então não ha­verá ventos nem marés para resistir, a felicidade reinará em toda a linha, e… nós não marcaremos a diferença.

Como todos conhecemos o perigo de usar a ironia, so­bretudo em crónicas, o melhor é voltarmos à realidade. E essa continuará a ser por uns bons tempos a que sentimos na carne, na pele e no recibo do ordenado – para os que o têm, ainda. Por isso, quer venha daí sol ou chuva, continuaremos, aqui na Notícias Ma­gazine, a dar boas notícias e histórias inspiradoras – sem que isso seja sinónimo de felizes. Esta semana a tarefa calhou à jornalista Carla Amaro. O que ela nos trouxe foi uma história que vai além do mero – e tantas vezes casual – sucesso.

Há uns seis meses publicámos uma capa em que dávamos conta de como os observadores de pássaros de todo o mundo ti­nham tomado conta dos campos portugueses. Vinham ver as aves que por aqui passavam nas migrações sazonais. Nessa altura re­cebemos logo um alerta que nos dirigia a atenção para outro fenó­meno, também escondido: os poderes paradisíacos dos campos portugueses, sobretudo os alentejanos. Eram-no também para os atletas de orientação.

Os amenos e suaves campos alentejanos tornaram Portugal, país onde não há um único atleta profissional da modalidade – por motivos financeiros, económicos e de patrocínio, todos os atletas são amadores, fazem orientação nas horas vagas dos seus empre­gos quotidianos –, a meca da orientação no inverno, recebendo os campeões mundiais que, lá está, vêm todos de países onde o clima nesta altura do ano não permite sequer sair com o nariz à rua, quanto mais andar por aí à procura dos pontos cardeais.

Quando falou com o número dois do mundo para tentar perceber o que Portugal tinha de tão especial, a Carla Amaro ficou surpreendida. Não era só o clima e as condições naturais com que a natureza nos abençoou – e pelas quais nada fizemos de relevante. Eram também «os mapas» e a «organização das provas» que procuravam os terrenos mais propícios, com «mui­tas rochas, muitos detalhes, o que dificulta o desafio.» Ora par­te deste sucesso deve-se ao trabalho profissional de Raquel Costa e Tiago Aires, ambos cartógrafos, e que fizeram o levan­tamento cartográfico dos campos de orientação alentejanos, uma região rochosa, de montado e de sobro, que cria diferentes níveis de dificuldade técnica aos atletas. Fernando Costa, fun­dador da Orievents, a empresa que organiza e divulga as provas e apoia os atletas, fez o resto, numa laboriosa negociação com os donos dos terrenos que chegam a mudar as suas manadas para que os atletas possam fazer os melhores percursos. Esta repor­tagem, que publicamos esta semana sobre o oásis que o Alentejo se tornou para o desporto de orientação, cruza economia, turismo e história e devia funcionar como um exemplo e um caso de estudo para o tão estafado tema de como Portugal tem tantas maneiras de dar certo.

[23-02-2014]