1.
Em Agosto as cidades europeias mudam de língua e cultura. Que língua se fala em Lisboa em Agosto?
O turismo pode ser também, afinal, o inverso do que se pensa: conhecer quem vem de fora; ficar parado e receber o estranho, o que vem de longe.
Ou seja: ficar na própria cidade em Agosto é uma forma sedentária de turismo. Conhecer outros países através dos seus cidadãos. Hoje, por exemplo, fui a uma parte do Japão, ou seja: estive à conversa com um japonês em plena Baixa de Lisboa. E etc.
2.
Por terra cheguei a Espanha, por mar a Marrocos, pelo ar e pelo verbo a uma catrefada de países.
3.
Uma volta ao mundo; um viajante lento ou sentado. Tentar conhecer, em Lisboa e em Agosto, um sujeito de cada naco do mundo. Eis o projecto.
– Vossa Excelência é de onde?
Ter um mapa do mundo actualizado e riscar cada país que se visite por via verbal (terra, mar, ar e verbo – os quatro meios de chegar a um país).
Escolher a esplanada certa, central e depois, sentado, esperar, tranquilamente, pacientemente, prudentemente.
– O que Vossa Excelência está aí a fazer, sentado, na sua própria cidade?
– Estou a conhecer o mundo – dirá o sedentário turista sentado.
4.
Definição de Agosto (em francês): há mais franceses em Lisboa do que em Paris.
– Vim aqui ver franceses – diz-me um francês, no Chiado, acabado de chegar de Paris.
Definição de Agosto (em italiano): há mais italianos em Lisboa do que em Roma.
E assim sucessivamente. E também etc.
Em Agosto, portanto, os países mudam mais ou menos de sítio.
Gonçalo M. Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia
Publicado originalmente na edição de 24 de agosto de 2014