Eis que as frases quando surgem espalhadas pela cidade se transformam em esculturas.
Uma frase é escultura se quem a vê tem vontade de a tocar. Como se a frase fosse tão robusta que ganhasse volume. As letras além do seu sentido têm uma forma, isto é: um itinerário de linhas único.
E um trajecto, como há muito se sabe, é a expressão de uma moral. Diz-me por onde andas, dir-te-ei qual a tua moral. As letras são assim trajectos éticos: avanços, perversos ou não, de uma linha através do espaço. E quando essa escultura de sentido – que é a linguagem – surge nos sítios imprevistos, no meio de coisas que não falam, a força muscular de uma frase torna-se quase perigosa; um simples substantivo – aliado a um verbo – pode acertar numa pessoa como um soco.
Espalhar frases pela cidade como quem espalha armadilhas perigosas.
Gonçalo M. Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia
[Publicado originalmente a 16 de novembro de 2014]