Dicionário ilustrado: O erro

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Dedicado a Maurizio Cattelannm1162_gmtavares

Conheces a ironia. Depois de a inteligência escorregar poderás atingir os melhores pensamentos. A inteligência está­vel, com os dois pés bem apoiados sobre o solo, é a melhor defi­nição de estupidez. O estúpido é um inteligente parado, alguém que administra os pensamentos com a balança de merceeiro e a contabilidade que sente asco pelo erro.
Porém, errar é inventar um novo jogo. E jogar é inventar regras a partir de um erro, de um desvio em relação à realidade.
Ao jogo poderás chamar realidade errada. Mas à realidade também poderás chamar: jogo errado.
Ao imprevisto que te atinge de modo privado poderás insultar: eis um erro!; ou poderás elogiar: eis um erro!
Porque os efeitos de um erro dependem do modo como o su­portas: não o deves embalar como se faz aos bebés nem es­murrar como se faz numa luta. Talvez a mistura entre essas duas maneiras de as mãos actuarem: esmurrar embalando, embalar esmurrando. Isto é: exercer sobre o erro uma violência atenciosa. Eis uma hipótese.

Gonçalo M. Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia
Publicado originalmente na edição de 31 de agosto de 2014