As amigas da namorada: esse clássico fetiche masculino

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– Posso contar isso?
– Contar a quem?
– A toda a gente. É divertido de mais pa­ra não partilhar.
– Não, não podes contar. A não ser à tua amiga Carla. Para ela saber o tipo de gajo que tem.
– Ela sabe o tipo de gajo que tem.
– Não sei se sabe. Quando gostamos de alguém não reparamos nessas coisas.
– Reparamos, reparamos. Se tu olhasses para alguma das minhas amigas com von­tade de lhe dar uma trinca, julgas que eu não reparava?
– Não, não reparavas. Nós somos discre­tos, fazemos a coisa como deve ser.
– Ah sim. São discretos à brava. Se há coi­sa que os homens são quando olham para outra mulher, é discretos.
– Vocês não topam estas coisas. Só os ou­tros homens é que reparam.
– Mas quais coisas? Tu já te ouviste?
– Vai por mim. Aquele gajo gostava de te dar um amasso.
– Mas qual amasso, qual carapuça!? O João é namorado da Carla. Uma das mi­nhas melhores amigas. Com tantas mulhe­res para ele dar um amasso, logo havia de ser comigo?
– Eu não digo que ele conseguisse. Espe­ro que não. Mas se dependesse dele, garanto-te que o rapaz não perdia a oportunidade.
– Se ele se fizesse a mim, eu não reparava?
– Ele não se está a fazer a ti. Não à descarada. Olha pa­ra ti com ar de quem gostava de te apanhar num corredor escuro para te encos­tar à parede.
– Mas eu sou amiga da Carla.
– E o que é que tem? Achas que por causa disso ele não vai reparar em ti?
– Não, não vai. Tal como ela não repa­ra nos amigos dele. Tal como eu não repa­ro nos teus.
– Ele olha para ti com aqueles olhos de quem gostava de te comer porque tu és gi­ra. E és boa. A amizade não é para aqui cha­mada.
– E tu topaste isso tudo ontem à noite…
– Não. Já da outra vez tinha ficado com a pulga atrás da orelha. Mas não disse nada. Ontem confirmou-se. Nós tomamos isto. E não é nada de extraordinário. Se tu tives­ses 120 quilos e bigode, ele não olhava para ti.
– É uma coisa habitual, então?
– Mais ou menos.
– Portanto, olhar para as amigas da namo­rada ou da mulher, é uma coisa normal. Que vocês fazem com frequência.
– Não digo com frequência. Mas sim, é uma coisa que todos os homens fazem.
– Então também já olhaste para as mi­nhas amigas com vontade de lhes dar um amasso.
– Não, por acaso não.
– Não sei porquê. Não achas as minhas amigas giras? Ou não são suficientemente boas para ti? Olha, a Carla, por exemplo. Se calhar também já tiveste vontade de a en­costar à parede num corredor escuro.
– Ela não faz o meu género.
– Olha que sorte a minha. Mas pelo sim pelo não, amanhã vou perguntar- -lhe se ela já te topou.
– Não sejas parva.
– Não, melhor ainda. Vou-lhe pe­dir para perguntar ao João se ele já te topou.
– Não vale a pena.
– Aliás, vou já pergun­tar. Passa-me aí o meu telemóvel.

Publicado originalmente na edição de 29 de junho de 2014