Alentejo é vinho. Agora.

Notícias Magazine

Quando o jornalista Ricardo J. Rodrigues partiu para o Alentejo, na semana passada, levava na agenda um trabalho: dar conta do turismo de vindimas. A ideia era apresentar esta tendência, que tem vindo a acentuar-se nos últimos anos, de fazer programas de miniférias a apanhar e a pisar uvas que hão de transformar-se em vinho. Estes programas nasceram em Portugal há apenas alguns anos mas já eram usados noutros países produtores de vinho pelas casas vinícolas como manobra de marketing para se aproximarem dos seus potenciais consumidores e clientes. Em Portugal, o turismo de vindima nasceu há pouco tempo, mas ganhou rapidamente fôlego – e era disso que queríamos falar nesta revista.

Mas aconteceu, por aquelas obras do destino que nos tiram tantas vezes o tapete e outras nos mostram o verdadeiro caminho, que o nosso repórter partiu para o terreno apenas um mês depois de o Alentejo ter sido eleito pelo jornal de grande expansão americano USA Today como o melhor destino de turismo de vinho do mundo. OK, já sei o que vão dizer. Que a votação neste ranking fora feita online, o que deu aos muitos portugueses e lusodescendentes espalhados pelo mundo a oportunidade de mudar a ordem das coisas. Sim, mas a verdade é que o Alentejo – o longínquo e árido Alentejo – estava a concorrer com regiões de grandes créditos nesta área como a italiana Toscana, o californiano vale de Napa, a argentina Mendonza, o vale australiano de Hunter, ou mesmo o chileno Maipo. E ganhou. E, como diz Vítor Silva, presidente da Agência de Promoção Turística do Alentejo, à nossa reportagem, «apesar de terem sido os leitores a votar, é importantíssimo para a visibilidade da região». Obviamente.

E então o nosso repórter andou pelo Alentejo do turismo do vinho recém-premiado e percebeu que nada acontece por acaso, nem os prémios online. Encontrou gente empenhada e trabalho de qualidade. Muito profissionalismo e paixão. E a reportagem de capa desta semana, que era para ser sobre as vindimas, acabou por mudar de ângulo para se tornar uma reportagem sobre esse fenómeno que é o turismo à volta do vinho e como ele está a transformar o Alentejo.

É verdade que o fenómeno não é novo. Que o Alentejo já anda a mudar há uns tempos. Esta região que move emoções por razões políticas, sociais e económicas, mas também pela sua paisagem tantas vezes arrebatadora, parece ter encontrado no vinho um dos seus leitmotive. Até porque através dele consegue conjugar duas das suas vocações – ser lugar de vinho e lugar de turismo. Ser o outro lugar de tantos outros não alentejanos que aqui encontram refúgio, paz, silêncio e terra. Os «sem terra», como tão bem chamam aos de fora os alentejanos.

O vinho chegou em força ao Alentejo em meados dos anos 90, aproveitando várias coincidências: subsídios europeus, uma nova fornada de enólogos e uma tendência mundial, que nos chegou através de Espanha, de tornar o vinho um assunto sério em que fosse possível levá-lo a sério. Era o caso desta região com solos bons e calor com fartura. Como João Vilar, o diretor comercial do Monte da Ravasqueira, em Arraiolos, disse à reportagem da Notícias Magazine: «Somos o novo mundo do velho mundo.»

E esta transformação é, de facto, a prova de que os lugares-comuns representam pouco quando se decide mesmo mudar. Que o destino não marca sempre a hora. E que os povos, quando querem mesmo, sabem reinventar-se – na medida certa, aproveitando o que é bom e evoluindo para o que pode ser muito melhor.