No vasto leque de criaturas que a Mãe Natureza pariu e a quem a sociedade moldou comportamentos, há uma em particular que costuma suscitar grande animosidade por parte dos seus pares – por «par» entenda-se a pessoa ou pessoas que gostariam de emparelhar com ela. Trata-se dos indecisos. Aquela malta que não sabe o que quer. Que emite constantemente sinais contraditórios das suas intenções. Que tanto diz frito, como logo a seguir faz cosido. Que tanto diz «quero», como logo depois fica em silêncio. Na prática, são aquelas pessoas que uma noite mandam uma mensagem às três da manhã a dizer «tenho saudades tuas», e nas duas semanas seguintes não dão cavaco. Ou aqueles com quem adormecemos embalados pela conversa de «seria tão bom se…» e de manhã vestem o casaco do bloco de gelo, como se tivessem tido pesadelos connosco. Aqueles que, perante a ideia do compromisso, alegam que estão bem é sozinhos, mas só querem é estar acompanhados.
Passo a vida a dizer que homens e mulheres não são assim tão diferentes no que toca às relações. Sobretudo se isso implicar comportamentos descompensados ou disparates à séria. Quando se trata de ser palerma, os cromossomas são igualmente palermas. Mas, neste caso em particular, a verdade é que há mais homens do que mulheres indecisas a deixar a outra pessoa num limbo de esperança. A deixá-las à espera do telefonema, da mensagem, da luz ao fundo do túnel. Pelo menos é essa a ideia que tenho, com base nos casos de que me falam. Estatisticamente falando, portanto, à luz da minha rede de contactos, vejo mais homens a andar para trás e para a frente e mais mulheres à espera que eles tomem uma decisão de uma vez por todas, do que o contrário.
Não é que as mulheres não façam também isto, mas no caso delas a coisa costuma assumir outros contornos. E a indecisão resvala para a manipulação. Levado ao extremo, um homem indeciso é irritante, mas uma mulher manipuladora é perigosa. Muito perigosa. Sobretudo porque normalmente um homem demora demasiado tempo até perceber que aquela mulher não é de confiança e que precisa de terapia, para deixar de achar que o mundo gira à volta dela e que ele seria capaz de tudo em nome do que ela o faz acreditar. Mas isto é tema que dá pano para mangas…
Nem todos os homens têm a capacidade de deixar mulheres à espera. Mas também nem todas as mulheres têm paciência para esperar por caramelos que não sabem o que querem. Nalguns casos, porque elas já passaram por isso e não estão para repetir a experiência. Noutros casos porque são muito decididas e sabem sempre o que pretendem (desconfio desta gente que diz que nunca se engana e raramente tem dúvidas). E também há as que não conseguem aguentar situações destas porque pura e simplesmente não faz parte do feitio delas.
Seja qual for o caso – ou até um caso perdido – há homens que são mesmo capazes de moer o juízo. A paciência. E, em muitos casos, o coração. E, pior ainda, quando o fazem constantemente, porque já não conseguem agir de outra forma, ou quando o fazem durante muito tempo com a mesma mulher, porque a relação – ou seja lá o que desenvolveram – entrou nessa espiral de avanços e recuos até à exaustão. Esta malta que não f*** nem sai de cima (é uma revista familiar, devo evitar a boçalidade, por muito que expresse de forma perfeita uma ideia) pode ser desesperante. E uma vez que encostá-los à parede para se mexerem – para se aproximarem ou se afastarem de vez – não costuma resultar, o ideal é aplicar uma regra de que uma amiga me dava conta há dias: «Quando eles não se decidem, decidem-se elas». É nessas alturas que elas vão embora. E ainda bem.
[17-11-2013]