1968: Uma saudade de pedra

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As famílias vêm despedir‑se dos marinheiros que estão prestes a embarcar para a pesca do bacalhau. Esta fotografia foi tirada em Lisboa, à beira do Tejo, a 8 de janeiro de 1968. Foi o ano que marcou o início do fim da faina maior.

Em 1968, havia 20 arrastões portugueses que pescavam bacalhau na Gronelândia e na Terra Nova. E havia meia centena de navios que resistiam na pesca à linha, em condições de dureza extrema e perigo constante. Foi o tempo em que a frota de bacalhoeiros nacionais atingiu o seu pico. Sete mil homens trabalhavam nesta altura na indústria. Vinham de todo o país para as campanhas e passavam meses atrás de meses no mar gelado. Carregavam‑se sob pavilhão português 260 mil toneladas anuais do pescado, o que representava 75 por cento do consumo nacional.

Em janeiro, os barcos começavam a largar amarras. Esta fotografia de Jaime Santos, que fez a primeira página do Diário de Notícias do dia 8 de janeiro desse ano, contava tudo. «Horas de vigília», lia‑se no título. E depois uma legenda curta: «A faina da pesca do bacalhau vai começar. À beira do Tejo, a dois passos dos barcos encostados, junto dos familiares que vieram de longe, tomam‑se as últimas decisões, alimentam‑se as primeiras esperanças.» No fim, uma referência ao poema de Fernando Pessoa: «Ah, todo o cais é uma saudade de pedra.»

Foi o início do fim da frota portuguesa nos mares do Norte. Se até 1968 o regime protegia a produção nacional, a entrada em vigor de uma portaria do Ministério da Economia abria portas às importações e, a partir de então, o setor entrou em recessão.
Hoje, existem apenas 13 bacalhoeiros em Portugal. Há um ano, aliás, publicámos na Notícias Magazine um portfólio de uma viagem a bordo do Joana Princesa, fotografada por Pepe Brix. Esse trabalho acabaria por ganhar o Prémio Gazeta de Fotografia.