Voluntários ajudaram a identificar 800 casais de corujas-das-torres

1100 voluntários associaram-se ao Grupo de Trabalho em Aves Noturnas da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e LabOr

Estratégia nova para primeiro censo nacional envolveu 1100 pessoas. Recolheram dados sobre espécie que está a desaparecer em Portugal.

Especialistas e voluntários uniram-se para fazer em Portugal o primeiro censo da coruja-das-torres, uma espécie que, na última década, desapareceu de cerca de metade da área que ocupava em Portugal continental, da metade oeste da ilha da Madeira e das ilhas Desertas. Foram identificados 800 casais desta espécie e, a partir daqui, será possível estimar o tamanho atual da população e priorizar ações de conservação.

Segundo Inês Roque, do laboratório de Ornitologia (LabOr) do instituto MED da Universidade de Évora, existe uma tendência negativa da coruja-das-torres em toda a Península Ibérica, que “poderá estar relacionada com o desaparecimento dos locais de nidificação e com as alterações nas nossas áreas agrícolas, como a conversão de culturas tradicionais em culturas intensivas” e que fez esta espécie passar para o estado de “quase ameaçada” na Lista Vermelha das Aves de Portugal. Foi com isto em mente que se avançou para o primeiro censo nacional, no ano passado, recorrendo a uma metodologia inovadora.

Através dos projetos “Ciência Cidadã: envolver voluntários na monitorização das populações de aves” e “Ciência para todos: sustentabilidade e inclusão”, foi possível congregar 1100 voluntários (entre escolas, associações e população em geral), que se associaram ao Grupo de Trabalho em Aves Noturnas da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e LabOr.

Este tipo de censos são geralmente feitos por voluntários com experiência, mas “a coruja-das-torres, por viver muito perto das pessoas e ser fácil de identificar, permitiu-nos testar também o envolvimento de voluntários sem experiência, com uma metodologia simplificada”, refere Inês Roque, especificando que a estratégia permitiu recolher “mais 34% de dados, em termos de distribuição” e chegar à Madeira.

O primeiro censo nacional estabelece uma base de referência. “A taxa de deteção da coruja-das-torres neste censo foi de 30%. O próximo passo é comparar esta taxa com a obtida em censos futuros, a efetuar com a mesma metodologia. São trabalhos como este que permitem identificar prioridades de conservação, para depois podermos promover a implementação de medidas de conservação. Essa implementação está dependente de projetos financiados, porque é muito mais complexa do que a realização dos censos”, acrescenta Inês Roque.