Maria do Céu Antunes: a discreta que gosta de desafios

Maria do Céu Antunes é ministra da Agricultura e da Alimentação

Prefere passar despercebida, embora nunca diga que não a um desafio de monta. Fiel a Abrantes, apenas deixou a cidade de sempre para integrar o Governo. Nunca perde a serenidade.

Maria do Céu Antunes era dos mais discretos membros do Governo até os agricultores se cansarem de promessas não cumpridas e da falta de apoios e terem saído para rua, bloqueando estradas e autoestradas e chamando a atenção de forma visível para os problemas do setor. Nada que a tivesse perturbado sobremaneira, porém. Ou, pelo menos, que a tenha levado a reagir a quente.

“É capaz de manter a serenidade mesmo nos momentos mais delicados”, confidencia uma amiga próxima. “Sempre afável, sempre discreta, sempre empenhada em resolver questões delicadas sem levantar ondas e com imensa convicção”, acrescenta. Mantém uma postura calma nas reuniões com as associações de agricultores, ouve as demandas da outra parte, toma notas, tenta apontar caminhos de solução.

Se discrição é palavra de ordem para Maria do Céu Antunes, tal conceito dificilmente lhe poderá continuar colado à pele depois dos ruidosos protestos das semanas recentes, os maiores de sempre dos últimos anos. A questão apanhou-a de surpresa e trouxe-a para a ribalta. “Não recua perante as dificuldades e neste caso passou-se exatamente isso. Procura perceber as reivindicações e as causas das queixas, equilibrando as exigências com os interesses do país”, conta a mesma fonte.

Mãe de duas filhas, de 28 e 26 anos, uma delas médica, avó de uma neta e sogra de um marinheiro, Maria do Céu Antunes assegura não recear as manifestações públicas que dominam os noticiários a par com as dos agentes da PSP e dos militares da GNR. “Sempre soube lidar com a crítica e com o elogio. Ambos têm para mim um sentido, que é a responsabilidade de fazer mais e melhor”, revelou em entrevista ao jornal “O Mirante”. “Respeito a individualidade de todas as confederações e todos os seus associados para juntos podermos construir uma agricultura mais equilibrada”, resumiu enquanto mote do seu modo de atuação no Governo.

Quando, em outubro de 2019, António Costa a convidou a assumir a pasta da Agricultura, não hesitou. Substituiu no ministério Capoulas Santos, o homem que mais anos desempenhou o cargo, primeiro com António Guterres, depois com Costa. “Ela adora desafios”, revelam pessoas próximas. Tinha então curta experiência governativa como secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, que assumira em fevereiro desse mesmo ano, sob tutela do então ministro do Planeamento, Nelson de Souza. Antes dela, apenas uma mulher tomara as rédeas da Agricultura em Portugal, Assunção Cristas, no Governo de coligação PSD/CDS liderado por Pedro Passos Coelho.

A ida para o Governo coincidiu com a mudança definitiva para Lisboa, onde passou a morar em pleno depois de uma vida inteira na sua Abrantes natal, que apenas deixara quando rumou a Coimbra para se licenciar em Bioquímica. Completaria mais tarde o trajeto universitário com uma pós-graduação em Gestão de Qualidade de e Segurança Alimentar no Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz, em Almada. “Sinto muitas saudades das pessoas de Abrantes, vou lá todas as semanas visitar os meus pais”, confessou na mesma entrevista.

Despertou cedo para a vida política local e aproximou-se do PS, cujas listas integrou em eleições autárquicas. Venceu três corridas à Câmara Municipal de Abrantes, sempre com maioria absoluta, a primeira em 2009, roubando o poder ao PSD depois de um período de três anos em que se destacou como vereadora e principal rosto da oposição. Pelo meio, presidiu ao Conselho Intermunicipal da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo e, entre outros cargos, ao Conselho Económico e Social e do Conselho das Comunidades e Regiões da Europa. Era então conhecida como Maria do Céu Albuquerque, apelido do ex-marido, de quem se divorciou em 2020, depois de um casamento de mais de duas décadas.

Deixou diretamente a autarquia abrantina para integrar o Governo. E nele continua, agora debaixo de fogo de uma classe que se diz abandonada. “Enquanto puder dar um contributo para melhorar a qualidade de vida dos meus concidadãos e deixar um futuro melhor para as minhas filhas e para a minha neta, cá estarei”, promete.

Cargo: ministra da Agricultura e da Alimentação
Nascimento:10/07/1970 (53 anos)
Nacionalidade:
Portuguesa (Abrantes)