Valter Hugo Mãe

Eleições


Rubrica "Cidadania Impura", de Valter Hugo Mãe.

Há dias, Cláudio Ramos confrontava Cinha Jardim com o facto de esta ser privilegiada, mulher branca protegida pelas elites, coisa que a afasta da mira horrenda do projecto desumano do Chega. Apoiadora do projecto desumano do Chega, a comentadora de trivialidades fez apenas questão de não discutir política com o ar comprometido de quem pretende passar impune quando sabe perfeitamente estar a defender um partido que tem na promoção da exclusão e do ódio o cerne da sua existência.

Não é por acaso que os patrocinadores do Chega não querem ser conhecidos, e não é por acaso que Cinha Jardim guarda o entusiasmo com o Chega para o seu espaço íntimo de privilegiados. O mais certo é que lhe possa acontecer o mesmo que foi no Brasil com Regina Duarte, a quem resta pouco mais do que a demência, porque a sua convicção em prol do projecto desumano de Bolsonaro era já de si uma demência.

Estamos perto das eleições e o aberrante regresso do fascismo à política nacional é reflexo do descontentamento de uma multidão mas também da ignorância e da prepotência. A ignorância de muitos aflitos que julgam mesmo que um ditador alguma vez quis de verdade acarinhar o seu povo ao invés de o usurpar. A prepotência das elites que farão qualquer coisa para manter suas posições de império, favorecidas por sistemas onde se movem com destreza, perdoadas de tudo e sossegadas em suas vistas de Cascais e Sintra, sem pobres senão aqueles que contratam para as servir, convictas de que isso é a piedade que Deus manda.

O projecto desumano do Chega está em curso e é bom que notemos a vergonha daqueles que o apoiam, porque será muito importante lembrar-lhes do rosto, quando em todas as situações da vida tivermos de contar com a solidariedade dos outros, sejam eles brancos ou negros, portugueses ou brasileiros, ricos ou pobres, homens ou mulheres, heteros ou gays, novos ou velhos. Porque se há coisa clarinha é saber que só há gente. E, gente, por norma, procura sobreviver e procura dignidade. Quem não respeita a dignidade dos outros não se mostra digno.

Vêm aí as eleições e, mais do que nunca na nossa democracia, não está só em causa preferir uma ou outra visão de Governo. Está em causa escolher uma visão humana ou desumana. Uma que siga construindo algo que integre todas as pessoas ou uma que nos humilhe com preconceitos ascorosos, medos torpes que uma educação para a decência teria curado.

(O autor escreve de acordo com a anterior ortografia)