Margarida Rebelo Pinto

As quatro idades


Rubrica "A vida como ela é", de Margarida Rebelo Pinto.

Os homens são como as casas: de década em década, os gostos das mulheres mudam em relação ao que pode ser o parceiro ideal.

Por exemplo, quando temos entre 20 e 30 anos, qualquer T1 serve. É o espírito do Erasmus, Residência Espanhola for ever. Pensamos que descobrimos o mundo e que o mundo é aquilo: águas-furtadas em prédios pombalinos, quartos pequenos e interiores com colchas indianas, janelas de madeira podre, as trousses da vizinha da frente penduradas na corda e seu respetivo canário a entoar fadunchos populares, tudo parece irresistivelmente romântico. Entre o início e o fim da universidade, os tipos mais populares são os boémios, os livres-pensadores, os artistas, os poetas, os aventureiros, os visionários e os desalinhados. É a Idade da Inocência, das grandes paixões e das grandes desilusões para rapazes e raparigas, convencidos de que já são homens e mulheres.

Entre os 30 e os 40, as mulheres procuram um bom marido, capaz de pagar metade ou a totalidade das contas, um bom pai e um companheiro com paciência para aturar os sogros e que saiba organizar viagens à neve e passeios de bicicleta ao sábado de manhã para os filhos, para que sobre tempo às mulheres para irem às compras, ao cabeleireiro e almoçar com as amigas. É a Idade do Conforto.

Quando as crianças começam a crescer e os casais recuperam algum tempo para si, entram, não raro, numa fase de em busca do tempo perdido e perdem-se em inúmeras discussões e desentendimentos que dariam para encher o equivalente ao número de páginas da obra de Proust. Ou já não há libido, ou já não há libido nem conversa, ou já não há libido, nem conversa, nem paciência. E quase sempre aparece um terceiro elemento que reúne esses três encantos numa só pessoa e um dos membros do casal bate com a porta e vai tentar uma nova vida.

Depois dos 40, ou o ser humano se acomoda, ou decide voltar aos 20. Para quem dá o salto, começa a terceira idade, a Idade da Segunda Volta. E lá vão eles ao Ikea de mão dada e olhar sonhador comprar jogos de cama e atoalhados, sofás e candeeiros, pratos, copos e tachos, velas, guardanapos e almofadas.

Como o tempo passa cada vez mais depressa, eis que, de repente, os 50 aparecem na curva e tudo muda, porque chega a Idade do Sossego. Independentemente do sucesso ou fracasso no período da segunda volta, que pode incluir mais do que uma tentativa, os guerreiros estão cansados e prontos para entregar as armas. Querem companhia e alguém que cuide deles quando a velhice chegar. A solidão pode tornar-se num monstro que é fundamental vencer. Para levar o plano adiante, caso queira entender-se com uma mulher da mesma geração, recomendo que não lhe mexa no telemóvel, leve o cão dela ao veterinário e seja amigo dos filhos dela. Lembre-se que as mulheres que estão sozinhas podiam estar com um qualquer se não fossem exigentes, por isso aplique-se. Os investimentos de hoje são o sossego de amanhã.