Especialista em fundos europeus em anos de Programa de Recuperação e Resiliência, para chegar a António Costa havia que passar por ele. Não fazendo parte do Governo, na prática fazia. Não tendo assento no Conselho de Ministros, na prática tinha.
Figura de bastidor, discreto, avesso a objetivas. Eminência de quem poucos portugueses tinham ouvido falar, rosto desconhecido da maioria dos cidadãos. Figura comum a António Costa e a José Sócrates. Do primeiro, foi chefe de gabinete. Do segundo, assessor económico de confiança e destacado interlocutor nas relações económicas do Governo de então com a Venezuela.
Escária, agora nas manchetes e telejornais, é o óleo na engrenagem dos labirintos político-empresariais. Públicos ou privados. O facilitador. O “influencer”, nome da investigação criminal que levou à queda do economista, detido para interrogatório na condição de arguido. E à de António Costa. Escária é o homem a quem o primeiro-ministro exonerado entregou a chave da porta de acesso ao poder executivo. Especialista em fundos europeus em anos de Programa de Recuperação e Resiliência, para chegar ao primeiro-ministro havia que passar por ele. Não fazendo parte do Governo, na prática fazia. Não tendo assento no Conselho de Ministros, na prática tinha. Suplantando os titulares em poder e influência, manipulando cordéis a favor do “interesse do país”. Escária é homem que Costa acusa de traição, depois de o achar merecedor de total confiança, uma e outra vez, relevando o caso Galpgate, em que que o economista esteve igualmente envolvido.
“Envergonhado, magoado com a confiança traída”, o primeiro-ministro não esperou pelas justificações do arguido ao juiz de instrução sobre os 75 800 euros encontrados numa sala contígua ao seu gabinete em São Bento. Dinheiro vivo escondido em livros e caixas de vinho. “Não posso deixar de partilhar que a apreensão de envelopes com dinheiro no gabinete de uma pessoa que escolhi para trabalhar envergonha-me. E peço desculpa aos portugueses.”
Não é fácil encontrar no Governo, ou no Partido Socialista, quem esteja disposto explicar, ainda que em off, as razões que terão levado Costa a entregar a chefia do gabinete a um dos homens mais próximos de José Sócrates. O currículo não desmerece. Pelo contrário: afiança competência técnica do também professor universitário.
“Consultor de diversas instituições públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, coordenando ou integrando equipas de projetos de conceção, monitorização e avaliação de políticas públicas e estudos diversos.” Doutorado em Economia (2004), pelo Department of Economics and Related Studies, University of York, Reino Unido, e com mestrado (1997) em Economia Monetária e Financeira pela Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior de Economia e Gestão, foi professor Auxiliar do Departamento de Economia na Universidade de Lisboa – ISEG – Lisbon School of Economics and Management.
Certo é que o nome queima. Mesmo depois de o juiz de instrução ter aplicado medidas de coação muito aquém das pedidas pelo Ministério Público. Escária, como os restantes arguidos, saiu do tribunal de instrução em liberdade.
Conselheiro e confidente de António Costa aquando do conflito do primeiro-ministro com Marcelo Rebelo de Sousa por causa de João Galamba, ajudou o chefe do Governo a traçar a resposta ao presidente. Adepto da máxima “a melhor defesa é o ataque”, Escária gosta de jogar futebol semanalmente. O mais perto possível da baliza contrária.
Vítor Manuel Álvares Escária
Cargo: ex-chefe de gabinete de António Costa
Nascimento:21/08/1971 (52 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)