Rui Lopes, o fagotista que dá aulas e toca em orquestras

Rui Lopes é fagotista em Basileia, na Suíça

Poderia ter sido arquiteto, escolheu outro caminho. Rui Lopes tem um álbum nomeado para um dos mais importantes prémios da música clássica.

Era o único rapaz na aula de solfejo, estava a aprender piano na Academia de Música de Santa Maria da Feira, pensou desistir, os pais insistiram. Aos 17 anos, no cineteatro feirense, assistiu a um concerto da Orquestra Gulbenkian. No fim, falou com os músicos. E tudo mudou. “Fiquei fascinado com aquele tipo de vida, música, concertos, viagens”, recorda Rui Lopes. Decidiu experimentar mais instrumentos, clarinete, oboé, até que parou no fagote. E aí ficou.

Aos 18 anos, em vez de estudar Arquitetura, como tinha pensado, recuou a um novo 10.º ano na ARTAVE – Escola Profissional Artística do Vale do Ave, nas Caldas da Saúde, Santo Tirso, na altura referência nos sopros. Tinha uma pequena bolsa de estudos, estava seguro da decisão. Correu bem, fez dois anos num, e entrou na Escola Superior de Música do Porto.

Aconteceu tudo muito rápido. Abriu a classe de fagote no Conservatório de Coimbra, ao mesmo tempo era professor na ARTAVE, 1500 quilómetros por semana, 30 horas de aulas, mais ensaios e concertos. Em 1999, deixou tudo e foi estudar fagote para Basileia, na Suíça, com uma bolsa do Ministério da Cultura. Viveu e trabalhou na Finlândia, Holanda e Espanha. Em 2006, voltou a Basileia.

É professor de fagote na Escola Superior de Música de Estrasburgo, França, a hora e meia de carro de casa. Há alturas em que tem concertos quase todos os dias, toca principalmente música de câmara, como solista quando pode, de dois em dois meses em orquestra. “Adoro tocar também em orquestras de câmara sem maestro, onde cada um de nós tem mais responsabilidade, tem de haver um contacto visual muito maior, não há ali ninguém a dirigir, temos de sentir muito mais os outros”, conta. Adora o que faz. “Fazer música, especialmente com amigos, e partilhar essa energia no palco.”

O seu currículo é suculento. Distinguido em vários concursos, entre os quais o 1.º Prémio no Concurso de Interpretação do Estoril, em 2008. Solista em orquestras importantes, a Sinfónica Portuguesa, a da Ópera Nacional Finlandesa, a Sinfónica de Zurique, a Sinfónica do Porto Casa da Música, a de Câmara Checa, entre outras. Tocou em festivais de diversos países. Tem sido elogiado pelo virtuosismo e pela técnica. O jornal “The New York Times” considerou-o “um fagotista extremamente dotado”. Em 2015, estreou-se no Carnegie Hall em Nova Iorque. O seu CD “Close Encounters” está nomeado para um dos prémios mais importantes na música clássica, o International Classical Music Awards (ICMA).

A relação com a música é constante, sólida, visceral. “Acima de tudo, é uma paixão bonita e intensa”, confessa. Há palcos que gostaria de pisar, sobretudo no Japão e nos Estados Unidos.

Voltar, por enquanto, não está nos seus planos. Família, mulher e dois filhos. Localização privilegiada de Basileia, na fronteira com França e Alemanha. “É uma cidade com 170 mil habitantes e 40 museus, três deles de dimensão internacional. Uma cidade muito aberta que oferece muito, seja em termos culturais, seja em termos económicos, sem haver aquela rigidez de outras cidades mais fechadas.” “Num raio de uma hora, temos quatro ou cinco salas das melhores do Planeta, de renome internacional.” E isso interessa-lhe, isso faz muita diferença.

Rui Lopes
Localização:
Basileia, Suíça 47º 33’ 33’’ N 7º 35’ 41’’ E (GMT+1)
Profissão: fagotista
Idade: 48 anos