
Rui Diogo fixou-se em Washington após uma maratona de formação, mas o seu campo de estudo não conhece fronteiras.
Rui Diogo é um curioso nómada deslumbrado com a diversidade do Mundo e empenhado em investigá-la do ponto de vista científico. Dá aulas nos Estados Unidos, escreveu 20 livros, passou por 140 países. E viu que muitas vezes as narrativas com que somos educados sobre outros grupos não são cientificamente corretas e é tempo de envolver quem habita as florestas há milhares de anos na conservação deste Mundo.
Foi o programa ERASMUS que o levou a fazer as malas a primeira vez para o que viria a ser uma maratona de formação. O jovem de Castelo Branco estudava Biologia na Universidade de Aveiro e foi acabar o curso em Liège, na Bélgica. Lá continuou até ao doutoramento, estudando a evolução do peixe-gato. “Envolvia investigação de campo no Benim, em África, e fui ao Museu de História Natural em Washington, nos Estados Unidos”, diz, sublinhando que a viagem ao Benim, um país pobre com “uma diversidade cultural e biológica incríveis”, mudou a sua vida.
Seguiu-se um pós-doutoramento em Madrid, em que abriu o leque de estudo para a evolução de outros animais. Outro pós-doutoramento no King’s College, em Londres, que permitiu abranger a Embriologia e Patologia. Voltou a Washington D.C. para novo doutoramento, agora em Antropologia, na Universidade George Washington. Os laços tinham sido criados quatro anos antes, quando na primeira passagem pelo país assistiu a uma palestra de Bernard Wood, um dos maiores investigadores da evolução humana. Quando terminou, começou a dar aulas na Universidade Howard, onde permanece até hoje.
A base de Rui Diogo é em Washington D.C., um “sítio único em termos intelectuais e científicos”, mas o campo de estudo é o Mundo. Chega a passar metade do ano a viajar (em parte graças a bolsas de investigação, como a que tem agora da National Science Foundation para o projeto Visible Ape), o que lhe permite “investigar e ver o Mundo na sua diversidade humana e biológica”.
No currículo conta 140 países e 20 livros publicados, entre os quais “Evolution driven by organismal behavior” (2017) e “Meaning of life, human nature, and delusions” (2021). O próximo, que deverá sair até janeiro, discute a parte “nobre” e “obscura” da academia e da ciência a partir de um ponto de vista exterior.
O albicastrense tem chegado a aldeias remotas para ensinar, mas foi percebendo que “as coisas estavam invertidas”. “Um europeu ir ensinar sobre chimpanzés em África é como se um esquimó fosse ensinar sobre camelos à Arábia, às vezes não pensamos como não tem lógica. As pessoas das florestas onde vou falar sobre primatas sabem mais sobre a sua conservação do que eu. Sabemos por relatos históricos que até aos europeus lá chegarem havia abundância de gorilas, chimpanzés, etc. Depois disso, o colonialismo e a agricultura dos africanos levaram à catástrofe atual.” Daí que seja preciso fazer um esforço para ouvir quem até aqui não teve voz e perceber o que nos podem ensinar.
Rui Diogo
Localização: Washington D.C., EUA 38° 55’ 10.79” N -77° 01’ 7.20” W (GMT -5)
Profissão: biólogo e antropólogo
Idade: 47 anos