Que cuidados ter na hora de ir à sapataria

(Foto: Freepik)

Dedos que de tão apertados vão ficando irreversivelmente encavalitados uns nos outros, bolhas e mais bolhas, os joanetes que não se aguentam, as plantas dos pés doridas, as articulações a ressentirem-se. Quem nunca? É verdade que não há soluções milagrosas, mas uns quantos cuidados na hora de escolher o que vai calçar podem fazer a diferença. A podologista Carla Ferreira, do grupo Lusíadas, aponta os aspetos que deve ter em conta na hora de escolher o próximo par de sapatos. Para miúdos e graúdos.

Sapatos fechados

  • A parte da frente deve ser larga o suficiente para não andarmos com os dedos apertados (pelo que o uso contínuo de sapatos bicudos está obviamente desaconselhado).
  • Idealmente, o calçado deve ter atacadores, na medida em que estes permitem adaptar a parte da cima do sapato/sapatilha ao arco do pé.
  • Em termos de materiais, quanto mais absorverem a transpiração melhor (o cabedal é uma ótima opção).
  • Em relação ao formato, na dúvida, o melhor será colocar o pé por cima do sapato para garantir que o contorno é o mais adequado.
  • No caso concreto das botas de cano alto, o “cano” deve ser flexível e não demasiado apertado, para não comprometer o movimento articular do tornozelo.
  • Ah! E saltos altos? São um grande “não”. Dois, três centímetros são o limite.

Chinelos e sandálias

  • Devem ser usados esporadicamente e para curtas distâncias.
  • Os chinelos com uma barra larga à frente são preferíveis aos chinelos de dedo, na medida em que dão mais estabilidade.
  • Em relação às sandálias, devem evitar-se as tiras que rocem zonas mais proeminentes do pé.
  • Pelo contrário, ajuda apostar em chinelos ou sandálias que tenham uma tira atrás, para evitar que o calcanhar esteja permanentemente a “descolar” do chinelo.

Calçado infantil

  • Evitar sempre sapatos apertados à frente, por causa da justaposição dos dedos.
  • Preferir os que tenham um ligeiro reforço no calcanhar.
  • Idealmente, devem ser maleáveis sem ser demasiado moles.
  • Devem ter cordões ou velcro para um melhor ajuste ao pé.
  • Optar por materiais laváveis e respiráveis.

Calçado barefoot. (Quase) como andar descalço

Nos últimos anos, o conceito de calçado barefoot tem vindo a ganhar força e visibilidade, sobretudo no caso de bebés e crianças. Barefoot, na tradução à letra, significa “pé descalço”. O que na prática resume bem o conceito que subjaz a este tipo de sapatos. “A ideia é proporcionar um caminhar que se assemelha em grande medida ao de um pé descalço. Não há uma interferência nem nos movimentos nem na funcionalidade do próprio pé”, resume Carla Cristina Pereira, também podologista. Note-se que o calçado barefoot se caracteriza por ter uma sola fina e flexível, proporcionando uma maior sensibilidade e contacto direto com o solo. A propósito, e fazendo aqui um parêntese, a especialista lembra, por oposição, que as sapatilhas que muitos adolescentes usam atualmente, com amortecedores que se traduzem numa altura considerável na parte do calcanhar, não são de todo uma boa opção para uso diário. “Ao dar altura no calcanhar, os músculos da cadeia posterior vão ficar encurtados”, salienta.

Mas voltando ao barefoot. Carla aponta outras características que lhe parecem relevantes. “A ‘toe box’ [caixa dos dedos] é mais larga, a palmilha é reta, não têm o chamado contraforte e é tão flexível que dá para enrolar quase como um charuto.” Características que, no seu entender, têm vantagens inegáveis. Desde logo “a estimulação de pontos de pressão”. Como os pés são ricos em terminações nervosas sensíveis ao toque, a sola fina vai permitir que as crianças sintam o solo e sejam mas responsivas aos diferentes estímulos táteis. “Além de que ajudam a fortalecer a musculatura intrínseca, melhoram o equilíbrio e a própria postura”, considera. Mas então podem ser uma boa opção também para nós, adultos? Carla admite que ela própria tem vindo gradualmente a render-se, mas destaca que, “como não estamos habituados, é preciso fazer uma transição gradual”. E ressalva que não serão uma boa aposta no caso de pessoas de idade ou com patologias específicas.