O Médio Oriente (outra vez) num emaranhado de terror

(Foto: Yahya Hassouna/AFP)

Brutal ataque do Hamas contra militares e civis israelitas motivou resposta colossal por parte do país liderado por Benjamin Netanyahu e mergulhou a região numa escalada de violência como há muito não se via. Entre israelitas e palestinianos, há já mais de duas mil mortes a registar. E a contabilidade do horror prossegue.

O ataque
No último sábado, o grupo palestiniano Hamas lançou uma ofensiva sem precedentes contra Israel. Enquanto cinco mil rockets eram lançados contra Telavive, a capital económica do país, milhares de combatentes do grupo entravam pelo sul do país, capturando e matando indiscriminadamente militares e civis, incluindo os que se encontravam num festival de música que decorria na fronteira entre Gaza e Israel. Os ataques terão apanhado os serviços de inteligência israelitas desprevenidos.

“É tempo de acabar com este círculo vicioso de derramamento de sangue”
António Guterres
Secretário-geral das Nações Unidas
(Foto: Jalaa Marey/AFP)

A reação
Em resposta, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou que a guerra tinha começado e que nada seria como dantes. De imediato, começou um ataque brutal na Faixa de Gaza, visando milhares de alvos, entre os quais hospitais e complexos residenciais. O Governo israelita deu ainda ordens para cortar o abastecimento de energia, água e alimentos à Faixa de Gaza, deixando a população local (mais de dois milhões de pessoas) sob “cerco total”. As autoridades fizeram saber que o cerco permaneceria enquanto não fossem libertados os cerca de 150 israelitas feitos reféns pelo Hamas.

(Foto: Said Khatib/AFP)

O contexto
O ataque do Hamas no último sábado foi o culminar de semanas de tensão ao longo da fronteira de Israel com Gaza e de violentos combates na Cisjordânia, com os palestinianos a acusarem os israelitas de violarem diariamente os limites do território. Mas a guerra entre os dois povos é bem mais antiga. Em 1947, na sequência de uma fuga massiva de judeus para a Palestina e do Holocausto, a ONU propôs a partilha do território entre árabes e judeus, com a criação de dois estados independentes – Israel e Palestina. Sem surpresa, os primeiros aceitaram-no, os segundos não, mas o plano avançou ainda assim, com a guerra a estalar mal Israel declarou independência. Desde então, entre anos de conflito atroz, cessar-fogos e resoluções que não foram cumpridas, os israelitas, que inicialmente controlavam apenas uma pequena parte do território, estenderam largamente as suas fronteiras. Já os palestinianos recusam aceitar a ocupação cada vez mais massiva do seu território. E a guerra prossegue, sem que se vislumbre entendimento.

“Este é o dia da maior batalha para acabar com a última ocupação da Terra”
Mohammed Deif
Comandante militar do Hamas
(Foto: Mohammed Abed/AFP)

300 mil
é o número de reservistas israelitas mobilizados para o conflito em apenas 48 horas, num aparente sinal de que a invasão terrestre de Gaza está iminente.

338 000 mil
O número de deslocados em Gaza ao fim de cinco dias de conflito, segundo o Gabinete de Coordenação da Ajuda Humanitária das Nações Unidas.

(Foto: Ahmad Gharabli/AFP)
“O nosso inimigo pagará um preço que nunca conheceu. Estamos numa guerra e vamos vencê-la”
Benjamin Netanyahu
Primeiro-ministro israelita
(Foto: Ahmad Gharabli/AFP)

“Bibi” em queda
O reacendimento do conflito israelo-palestiniano ocorre num momento em que “Bibi” Netanyahu, o primeiro-ministro israelita, estava em queda nas sondagens e se deparava com grande contestação nas ruas, muito graças à pretensão de enfraquecer o Supremo Tribunal do país quando ele próprio está a ser julgado por corrupção. Agora, é bem provável que a guerra o ajude a recuperar parte da sua popularidade. Na quarta-feira, foi anunciado um Governo de unidade nacional para fazer face ao atual contexto.