Miguel Albuquerque: o caçador

Miguel Albuquerque é presidente do Governo Regional da Madeira

Miguel Albuquerque persegue calculosamente objetivos. Porém, perde a calma, não aceita contrariedades. “Está habituado a ter aquilo que quer.” Apareceu na política em 1986, como mandatário jovem, na Madeira, da candidatura presidencial de Mário Soares.

Perdizes, coelhos e javalis, no Alentejo; caça grossa, em África. O homem que acaba de selar um acordo político com o Partido dos Animais e da Natureza (PAN), de maneira a garantir a viabilidade governativa no arquipélago da Madeira, é um caçador de mão certa: “Ágil, obstinado, preciso”. “Não tremo as mãos”, costuma dizer quando fala de caçadas. E de política.

Miguel Albuquerque persegue calculadamente objetivos. Porém, como “menino de boa família, snobe q.b.”, perde a calma, não aceita contrariedades. “Está habituado a ter aquilo que quer”, diz quem o conhece bem. Menos a maioria absoluta. Bem tentou, apostando numa promessa assinada em papel molhado – “vinte e quatro deputados ou a demissão”. Perdeu.

Em 2015, conquistou a presidência do PSD e o governo madeirense a Alberto João Jardim, enquanto delfim revoltoso. “Trouxe com ele uma aragem democrática, um ar limpo que então não existia”, recorda um jornalista da ilha, contrapondo “as atuais relações de cordialidade com a imprensa” aos enxovalhos a que o antigo líder submetia a comunicação social. “Surgiu como uma personalidade oposta, um homem culto e do Mundo, tolerante, cosmopolita, com outra visão.” Mas também há quem recorde a mudança que trouxe o poder. “Está cada vez mais parecido com o Alberto João. Aprendeu a usar o poder do dinheiro e a Madeira vive muito do dinheiro do Governo”. Tal como Jardim, “não tem paciência para o continente”.

Poucos se lembram: Miguel Albuquerque apareceu na política como mandatário jovem, na Madeira, da candidatura à Presidência de Mário Soares. Em 1986, o país estava dividido em duas trincheiras, numa das batalhas mais marcantes da democracia portuguesa: Mário Soares de um lado, Freitas do Amaral do outro. “É ao lado de Soares que Miguel dá nas vistas pela primeira vez”, diz quem mais tarde assistiu à eleição do já então laranjinha para a liderança da JSD/Madeira, no início do percurso político que se lhe conhece e de uma longa amizade com Pedro Passos Coelho.

Nascido numa família influente da Madeira, filho de pais separados, cresceu entre mimos de tias maternas e do avô, militar da Revolta da Madeira de 1931, antifascista e figura central da vida de Miguel, que fez o liceu no Funchal, longe das lides académicas, e Direito em Lisboa.

“Era um rapaz bonito e charmoso, mas sem intervenção na vida estudantil. Não se destacava”, lembra um amigo desses anos. Ricardo Vieira, outra testemunha desse tempo, conhece-o bem: “Não é uma pessoa de reflexão e de decisões amadurecidas. É de decisões rápidas, surpreendentes, colocando acima de tudo o aspeto prático. Tem pouca paciência para filosofias”, adiciona o dirigente do CDS, antigo vereador da Câmara do Funchal, para quem Albuquerque é “um homem do Mundo, com uma cultura interessante, muito viajado, que continua a procurar uma estabilidade interior que parece não ter”.

Colaboradores descrevem “uma boa pessoa, com uma cultura acima da média, bom conversador”. Alguém de convicções monárquicas, que presa “os pergaminhos” e o estatuto social. “Não é um homem popular, que goste de andar no meio da população.” Quem com ele trabalha teme os ataques de irascibilidade, “explosivos quando se irrita”. Não treme das mãos, mas foge à negociação. “Manda sempre outros, depois de lhes dar instruções precisas. Foi assim com o CDS, foi agora com o PAN”, contam. “Aparenta ser decidido, mas no fundo reage mal ao confronto. Ele tem de mandar.”

Foi nadador do CD Nacional, na adolescência ganhava a mesada a tocar piano nos hotéis. A banda Velhos Hotéis é famosa – muito samba e bossa nova. O entusiasta das caçadas é amante de botânica, floricultor e cuidador delicado de rosas, flor a que dedicou um livro. É capaz de virar o Mundo do avesso para ajudar um amigo. “Gosta da chapa quente.” Do risco, da adrenalina. Tem casamentos, cinco filhos, dois enteados. Com 62 anos, não acha graça ao passar dos anos. Já é avô.

Miguel Filipe Machado de Albuquerque
Cargo:
presidente do Governo Regional da Madeira
Nascimento: 04/05/1961 (62 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Funchal)