Helena Sousa: atenta, cordial e sensata

Helena Sousa é presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC)

A nova presidente da ERC não procura a linha da frente. Evita a visibilidade e o conflito. É discreta. Exigente, incapaz de ruturas. Mas sabe levar a água ao seu moinho, através da insistência.

Quando em 1990 recebeu um prémio da Liga Portuguesa Contra o Cancro pela reportagem “Urgências sintetizam desumanização hospitalar”, a jovem de 23 anos, então jornalista do “Jornal de Notícias”, sonhava com uma pós-graduação em Londres, passo primeiro de um caminho académico de mais de três décadas, considerado brilhante. Porém, “uma vez jornalista, toda a vida jornalista”, diz-se, máxima que no caso de Helena Sousa parece ser verdadeira.

Dois anos antes, com 21, havia chegado à redação do diário nascido no Porto. Trabalhou nas secções de Política/Economia, Nacional, Revista de Domingo e Internacional. Escreveu notícias, reportagens, entrevistas e trabalhos de análise. Recebeu galardões. No início de uma nova década, estava na hora de partir.

“Quando chegou à redação era uma menina muito laboriosa, rigorosa, afável, generosa, dizia que não apenas quando era impossível”, recorda César Príncipe. “Durante os anos de JN, a Helena esteve sempre do lado certo da história. Nas liberdades e nos direitos dos jornalistas, mas também nos deveres de cada um e da classe”, acrescenta o jornalista decano. “Sem espalhafato.” Integrou um grupo geracional que levou sangue novo ao jornal. “Muito bem preparada, quer ela, quer o futuro marido, Luís Santos, ou ainda Joaquim Fidalgo, entre outros. De tal maneira que grande parte dessa geração rumou à Universidade do Minho.”

O currículo académico impressiona. Na docência, na investigação, na gestão. Sempre em ligação umbilical ao jornalismo e aos media. “A Helena chegou ao departamento vinda do Reino Unido, já doutorada. E foi um elemento estruturante do departamento. Correu todos os cargos na Universidade do Minho e em todos esteve de forma muito dedicada e competente”, diz a amiga e professora Felisbela Lopes. “A Helena desses anos, não é muito diferente da de hoje. Foi sempre de trabalho, com grande capacidade na motivação de equipas.” Joaquim Fidalgo, também docente na universidade minhota, é disso testemunha: “Tira o melhor de cada pessoa”.

A nova presidente da ERC, eleita pelos pares depois de PS e PSD chegarem a acordo no nome, é especialista em regulação e economia política dos media, com obra reconhecida na academia portuguesa e no estrangeiro, pertencendo a vários organismos e grupos europeus dedicados ao tema. “Como professora, como investigadora, como gestora, tem um percurso invejável. Foi tudo na Universidade do Minho. E tem também uma enorme carreira internacional”, destaca Joaquim Fidalgo.

A docência é talvez o apelo mais forte. Madalena Oliveira, antiga aluna, faz o elogio maior: “A professora Helena é justa”. Mas também “muito acessível, muito atenta, muito próxima dos estudantes”. Madalena releva “a calma, a empatia, a boa disposição, a atitude tranquilizadora”, mesmo nas aflições com os prazos de entrega dos trabalhos. Hoje, Madalena e Helena são colegas: “Continua muito generosa. Sem soberba, apesar de ser a professora mais graduada. Sem sombra de autoritarismo ou sobranceria, o que a torna ainda mais reconhecida e admirada”.

Helena Sousa não fala de cátedra, é ponto assente. Lê os dossiês. Estuda, informa-se. Para Felisbela Lopes, a presidente da ERC “é a pessoa certa no lugar certo”. Não procura a linha da frente. Evita a visibilidade e o conflito. É discreta. Exigente, incapaz de ruturas. “Não é de ruturas, mas sabe levar a água ao seu moinho, através da insistência”, avisa Joaquim Fidalgo. Uma professora “de proximidade”, uma aluna “excelente”. “Foi minha aluna na Escola de Jornalismo do Porto.” Cruzaram-se mais tarde, no Conselho Geral Independente da RTP. “Foi um prazer vê-la tão madura e sensata. Foi uma belíssima surpresa num órgão complicado, onde foi possível desenvolver um bom trabalho. Teve um papel crucial.” E prossegue: “Foi uma excelente escolha para a ERC. Está em boas condições para lidar com grandes questões da regulação. Tem conhecimento, sensibilidade, relações nacionais e internacionais nesses domínios”.

“Precisamos de mais provedores, mais livros de estilo, mais formação e permanente reflexão ética e deontológica. Numa palavra, precisamos de mecanismos de autorregulação mais presentes no dia a dia dos media”, frisa a recém-eleita.

Helena Sousa nasceu em Travassos, freguesia da Póvoa de Lanhoso (Braga), onde o pai tem um pequeno museu de ouro popular e um negócio de turismo rural. É casada e tem dois filhos (15 e 22 anos). É a primeira mulher a presidir à ERC.

Maria Helena Costa de Carvalho e Sousa
Cargo:
presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC)
Nascimento: 03/10/1967 (56 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Travassos, Póvoa de Lanhoso)