Graça Mira Gomes: senhora do seu nariz

Graça Mira Gomes é secretária-geral do SIRP - Sistema de Informações da República Portuguesa

Segura, competente, muito trabalhadora ou “figura apagada, um verbo de encher”? As opiniões sobre a secretária-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), agora na berlinda devido ao ‘caso Galamba’, são contraditórias.

“A safe pair of hands”, um par de mãos seguro, expressão de meios políticos e diplomáticos, foi a escolhida por Francisco Seixas da Costa. O antigo diplomata traduz: “Falo de alguém que resolve com competência e eficácia problemas por mais sensíveis e delicados que sejam, alguém a quem se podem confiar tarefas difíceis na certeza de que serão bem executadas”.

Funcionária discreta, competente, muito trabalhadora, dizem amigos e pares de Graça Mira Gomes, secretária-geral do Sistema de Informações da República (SIRP), agora na berlinda, por lhe ser atribuída a ordem que levou o Serviço de Informações de Segurança (SIS) a recolher o computador de Frederico Pinheiro, intervenção polémica. Mais até – ilegal, no entendimento de vários juristas.

“Se o fez é porque achou que o devia fazer, ou seja, não estou a ver a Graça a fazer fretes a quem quer que seja, acredito que houve, portanto, convicção. Dito isto, já tenho muitas, muitas dúvidas, se foi a decisão certa”, frisa José Matos Correia.

O advogado, antigo deputado do PSD, e a embaixadora que desde 2017 coordena os dois ramos das secretas – numa vertente interna, o SIS, e, numa vertente externa, o Serviço de Informações Estratégicas de Defesa – conhecem-se há mais de 30 anos. “A Graça tem o seu feitio. É uma mulher de convicção, de natureza caldeada ao longo dos anos com as obrigações diplomáticas. Mas diria que é muita dona do seu nariz.”

Faz com o marido, o embaixador João Mira Gomes, agora em Madrid, um dos casais mais conhecidos no meio diplomático nacional. Há unanimidade. “Não tem o fulgor do João, diplomata de excelência, mas é uma ótima embaixadora, muito segura e com muita qualidade”, diz um dos amigos.

Ana Gomes, ex-embaixadora, fala de uma diplomata “competente, íntegra, confiável”. E acrescenta: “Se me pergunta sobre a sensibilidade política, direi que a Graça tem a sensibilidade política de um alto quadro do Estado, mas não o traquejo da que se exige a um político”.

A secretária-geral do SIRP é um cargo, dizem-nos, “com a maior importância curricular”, uma vez que é equiparado ao de secretário de Estado para efeitos remuneratórios e curriculares, porque depende diretamente do primeiro-ministro. Pela primeira vez, é entregue a uma mulher. Pela primeira vez, também, a um diplomata de carreira.

Nome pacífico para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, causou dúvidas, desde o primeiro minuto, nos serviços secretos. E nem o facto de já terem passado vários embaixadores pela Direção-Geral do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) contribuiu para que SIS e SIED aceitassem de bom grado a escolha de António Costa, muito baseada também na experiência internacional de Graça Mira Gomes. “Caiu aqui de paraquedas”, ouve-se. “Não está dentro dos dossiês, por vezes afastada da linguagem dos serviços”, dizem. “É uma figura apagada, um verbo de encher”, retrato que choca com o perfil da embaixadora traçado por figuras e amigos da diplomacia.

Nascida em Lisboa em 1959, estava em Viena como representante de Portugal junto da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) quando foi convidada para o cargo. Entre 2011 e 2015, representou o país no Comité de Políticas de Segurança da UE (COPS). Diplomata, entrou para o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) em 1984. Desempenhou vários cargos: foi correspondente europeu adjunta e chefe de gabinete do diretor-geral de Política Externa, entre 1996 e 2000, subdiretora-geral de Política Externa em 2009 e 2010, conselheira para a Igualdade, em representação do MNE. Nos serviços externos, estreou-se na representação de Portugal junto das Comunidades Europeias, em Bruxelas, entre 1989 e 1993. Foi vice-chefe da Base Principal do Grupo de Ligação Luso Chinês, em Macau (1993/1996), representante permanente adjunta na Missão de Portugal junto da OCDE, em Paris (2000/2005), e ministra conselheira na embaixada em Berlim (2005/2008).

Licenciada em Direito pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica de Lisboa, com pós-graduação em Estudos Europeus, tem dois filhos. Não dá entrevistas.

Maria da Graça Diniz Gomes Saraiva Mira Gomes
Cargo:
secretária-geral do SIRP – Sistema de Informações da República Portuguesa
Nascimento: 19/01/1959 (64 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)