Gel, gelinho, pó. Afinal, o que é melhor para as nossas unhas?

Cosmética à parte, há cuidados que podemos e devemos ter se quisermos garantir a saúde das nossas unhas

O problema não são propriamente os produtos que usamos, é mais o que a aplicação dos mesmos implica. Brocas e limas agressivas são (idealmente) para esquecer. E há outros cuidados a ter.

Primeiro, era o gel. As unhas impecavelmente arranjadas durante mais tempo, aquela liberdade de não ter que andar a aplicar e a retocar o verniz a cada passo. Mas chegava a hora de o tirar e as unhas mirravam, mais frágeis, mais finas, quem nunca? Depois, as técnicas multiplicaram-se, vieram o gelinho, o verniz gel, todos dão um ar elegante às unhas, aí não há grande discussão, todos prometem causar menos dano do que os anteriores, há até quem garanta que o produto aplicado tem vitaminas que farão as unhas prosperar, plenas de vitalidade. Será? E afinal, alguma destas opções é francamente melhor do que as restantes?

Neste ponto, Rita Guedes, dermatologista do Hospital Lusíadas Porto, não tem dúvidas. “Os vernizes de cor não têm malefícios nenhuns”, atira, objetiva. Quanto às outras opções em cima da mesa, a história é mais complexa. “Eu não tenho nada contra o gelinho em si mesmo. Tenho tudo contra a forma como ele é aplicado e retirado. Todas as técnicas que destruam o prato ungueal [a unha propriamente dita, que se estende da matriz até à extremidade] devem ser evitadas.” E aqui entram tanto as limas agressivas, como as brocas. “São uma desgraça. Destroem-nos as unhas por completo. As nossas unhas têm três camadas, imaginemos que são três papéis. Se passamos uma broca, um dos papéis vai à vida. Só aconselho broca numa unha perdida, quando não tenho mais nada a oferecer-lhe. Nesse caso, pelo menos, o doente pode melhorar a parte estética. ”

Para quem esteja menos familiarizado, a especialista detalha os riscos. “Costumo dizer aos meus doentes que Deus nos deu a unha para alguma coisa. Se lhe vamos passar uma broca em cima, vamos-lhe tirar força e vai ter de acontecer alguma coisa. Desde logo, se lhe tiramos força, a polpa [tecido mole na ponta dos dedos] vai retroceder e pode dar-se o caso de haver um encravamento distal [na extremidade da unha].” Já quanto aos secadores de unhas de luz ultravioleta, entende que não é questão. “Volta e meia perguntam-me sobre isso, por causa do risco de melanoma. Mas a verdade é que a quantidade de raios ultravioleta emitida pela máquina é irrisória.”

Juan Ocaña, coordenador do serviço de dermatologia no Hospital CUF Tejo, em Lisboa, reforça a mensagem que gostava que passasse: embelezar as unhas sim, claro que sim, desde que com determinados cuidados. “Obviamente, pode pôr-se gel e gelinho, as unhas têm uma função social muito importante, sobretudo para as mulheres.” Mas há uma exceção, logo à cabeça. “A não ser que seja uma unha que está com algum tipo de problema, um fungo, uma infeção, nesse caso será sempre preciso tratar primeiro.” E quanto aos cuidados? “Chegam-me muitos casos de problemas periungueais [à volta da unha] e ungueais produzidos por má técnica ou por más condições de higiene”, reconhece, frisando que “a prática tem de ser correta”, que “tudo o que seja limar a unha à superfície vai torná-la mais débil”, que “quanto mais suave for a lima que utilizarmos melhor”.

Deixa ainda outro conselho que, no seu entender, pode fazer a diferença. “Temos que deixar a unha respirar um bocadinho, não pode estar permanentemente tapada.” Neste contexto, explica que prefere sempre “um produto que seja menos oclusivo”. E aí, em teoria, o gelinho leva vantagem sobre o gel. “É menos denso e, portanto, menos oclusivo.” Em suma, eis os três princípios que entende fundamentais para que se possa ter as unhas arranjadas sem correr riscos: “Recorrer a um bom profissional, usar o produto correto e não o usar de forma permanente.”

E quantos aos riscos? Além dos já referidos encravamentos distais, o especialista elenca outros. “Infeções, fungos, deformidades das unhas, com alteração do crescimento.” O que nos leva a outra questão: os eventuais problemas causados por más técnicas adotadas no processo de embelezamento das unhas são resolúveis? A maior parte deles sim. Rita Guedes lembra que as unhas das mãos crescem, em média, três milímetros por mês (e as dos pés um), o que por si só ajuda a explicar esta capacidade de regeneração. Mas há exceções, assinala Juan Ocaña. “Se o problema está na lâmina ungueal, tudo indica que é solucionável. Se está na matriz [a zona responsável pela origem e crescimento da unha], à partida não. Ou pelo menos será muito mais difícil.”

Guia para unhas saudáveis

Seguimos para outra questão pertinente: o que fazer quando as unhas estão fracas e quebradiças devido às más técnicas. A resposta é óbvia, na verdade, embora possivelmente vá desiludir quem andar por estas linhas à procura de solução para um mal já feito: esperar que elas voltem a crescer. E pouco mais. “O que pode fazer é aplicar uma base protetora, eu costumo dizer que pode ser qualquer uma. Isto porque a unha tem as tais três camadas e a base protetora vai permitir agregá-las. Dessa forma, a unha desidrata menos facilmente.”

Cosmética à parte, há outros cuidados que podemos e devemos ter se quisermos garantir a saúde das nossas unhas. A primeira regra é a que se aplica a quase tudo. “Ter uma vida saudável e uma alimentação saudável”, realça Juan Ocaña. A própria forma como as cortamos pode ser relevante. “As das mãos devem ser cortadas de forma redonda e as dos pés de forma mais reta, porque têm mais tendência para encravar.”

Mas há todo um manancial de outros cuidados a considerar, como enfatiza Rita Guedes. “Evitar o contacto prolongado com a água e agentes irritantes, nomeadamente detergentes, sem o uso de luvas, usar calçado confortável e reduzir o desporto de alto impacto nos pés, vigiar possíveis alterações ósseas.” Já em termos de conselhos mais práticos, usar as unhas curtas e não retirar as cutículas. “São uma proteção entre a unha e a pele e se não a tivermos vão entrar microrganismos que podem causar infeção”.

Deixa ainda um outro conselho que, parecendo algo insólito, tem a sua relevância, a avaliar pelo número de doentes que procuram por situações relacionadas com o assunto. “Tirar o lixo debaixo das unhas com limas grossas é a pior coisa que se pode fazer. Isso vai fazer com o que o prato ungueal descole do leito e cada vez vai entrar mais lixo. É um círculo vicioso. Às tantas as pessoas procuram um dermatologista porque acham que têm uma micose mas não, é mesmo de andarem ali a mexer. A fazê-lo, o ideal é usar aquelas escovinhas próprias.” E por último, vernizes de casco de cavalo, supostamente fortalecedores das unhas, pós que contêm alegadas vitaminas, e outras promessas afins, são para ser levadas a sério? A dermatologista dos Lusíadas é perentória: não. A única solução “milagrosa” para ter unhas saudáveis é mesmo cuidar delas devidamente.