O novo presidente da Ordem dos Arquitectos define-se empenhado, por vezes impulsivo - “tenho o coração ao pé da boca” -, extrovertido. Em debate, gesticula e fala alto. “Eventualmente, poderia ter sido advogado”, diz.
É entusiasta e insatisfeito. “Uma pessoa animada, que busca o cumprimento dos objetivos, obstinado em dar solução prática aos problemas”, dizem os amigos. “Um bocadinho mandão”, diz ele, avisando que reage mal à arrogância. Por outro lado, é “brincalhão, divertido, muito bem-humorado”.
Flaneur, mas também viajante de transportes públicos, não fosse a mobilidade nas cidades um tema que lhe é caro. Aprecia a rotina. O toque diário do despertador às sete da manhã, o mesmo pequeno-almoço, sempre o mesmo café.
Para o novo presidente da Ordem dos Arquitectos, não há casas sem sol e janelas rasgadas. Na dele, as paredes são brancas. O sótão, refúgio favorito, tem uma varanda sobre o mar de Matosinhos.
Não vive sem o mar. Percebeu-o em Bath, a pequena cidade inglesa que o acolheu ao abrigo do programa Erasmus. Gosta de caminhar ao longo do espelho d’água. Na companhia do cão com nome de salame seco. Ao Pepperoni, um spaniel bretão, junta-se a gata Mel, membros da família. Conheceu a mulher, socióloga, num concerto de David Bowie, corriam os anos 1990. Tem duas filhas. Nenhuma seguiu arquitetura.
Ele não pôde fugir. Filho de um engenheiro civil, cresceu entre projetos, papel vegetal, tinta da China, cálculos, obras, desenhos. O desenho, paixão precoce e talento reconhecido pelos professores de Artes Visuais do Liceu Garcia de Orta, no Porto. Adolescente, projetava casas e jardins, enquanto a irmã, mais nova cinco anos, preparava orçamentos com notas do Monopólio.
Usa o desenho para refletir e comunicar. “No café ou no restaurante é normal ele desenhar enquanto falamos”, revela Teresa Sá Marques. Geógrafa e amiga, trabalharam juntos em projetos metropolitanos. “Tem grandes capacidades de liderança, de trabalho, sobretudo de trabalho em equipa. Os arquitetos ganharam um líder.”
A intervenção cívica e política nasce também da influência familiar: enquanto o pai presidia à Junta de Freguesia da Foz pelo PS, o filho militava na Juventude Socialista, participando ativamente nas campanhas eleitorais, nomeadamente nas autárquicas em que, integrando as listas de Fernando Gomes, foi eleito vereador da Câmara do Porto. Carla Miranda, deputada do PS, conhece-o do partido. “Foi uma das pessoas que me fez ficar no PS. Porque se interessa muito por quem chega. Porque é muito bom a fazer pontes entre pessoas que mal se conhecem.” Sabe quebrar o gelo, destaca a camarada.
Jogador de futebol amador e polivalente – “tanto atuava a avançado como a guarda-redes” -, integra o Conselho Superior do F. C. Porto. O clube é outra grande paixão. “A conversar sobre futebol é muito emocional”, diz Carla Miranda.
Escreve poemas de vez em quando. Leitor devoto de Milan Kundera e José Saramago, um dia, garante, estrear-se-á na ficção. “De sorriso rasgado e gargalhada franca”, nasceu no Porto em 1970. Define-se empenhado, por vezes impulsivo – “tenho o coração ao pé da boca” -, extrovertido. Em debate, gesticula e fala alto. “Eventualmente, poderia ter sido advogado”, diz.
A síntese biográfica de Avelino Oliveira é conhecida no meio. “Estudou Arquitetura na primeira metade da década de 1990. Da primeira geração de estudantes Erasmus teve oportunidade de privar na Universidade de Bath, em Inglaterra, com nomes britânicos bem conhecidos, como Peter Smithson ou Patrick Hodgkinson”, pode ler-se. Um ano antes, em 1994, realizou o estágio académico no Gabinete de Planeamento e Urbanismo da Câmara Municipal do Porto. Trabalhou três anos na Câmara Municipal de Vila do Conde. No início do milénio, fez, em Barcelona, a pós-graduação em Projetos Arquitetónicos na Universidade Politécnica da Catalunha. Em 2012, concluiu o doutoramento em Portugal, com uma tese sobre a habitação, plasmada no livro “Casa compreensiva”. Tem trabalhos publicados em revistas de arquitetura e construção em Portugal, Espanha, Itália, Brasil, Alemanha e Letónia. É professor universitário. Integra os órgãos sociais da Ordem dos Arquitectos Portugueses desde 2007. Os pares acabam de o escolher para presidente.
Avelino José Pinto de Oliveira
Cargo: presidente da Ordem dos Arquitectos
Nascimento: 09/12/1970 (52 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Porto)