Américo Aguiar: cardeal antes de o ser

Américo Aguiar é bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023

Sem grande preocupação em ser consensual, vai enfurecendo católicos cá e lá fora. Tanto o acusam de desrespeitar os Evangelhos como lhe louvam a frontalidade que sempre o caracterizou.

Em 22 anos, Américo Aguiar passou de padre no Porto a cardeal em Lisboa, por escolha pessoal do Papa Francisco. O percurso meteórico do agora presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude 2023 aumentou-lhe os amigos, mas também “os outros”, ou como diz Sérgio Carvalho, colega de turma no seminário, “agora tem mais invejosos a olhar para ele”. Aparentemente sem grande preocupação em ser consensual, o bispo auxiliar de Lisboa, D. Américo, vai enfurecendo católicos (sobretudo os mais conservadores) em todo o Mundo. As maiores críticas, além de Portugal, vêm dos Estados Unidos, Brasil e Espanha. Apontam-lhe o dedo, sobretudo, à “falta de conhecimentos teológicos”, ao “desrespeito aos Evangelhos e à doutrina da Igreja” e até à falta de “savoir faire”.

Nas redes sociais e em blogues católicos comentam-se as declarações do cardeal que, numa entrevista à RTP, afirmou que na JMJ “não se quer converter os jovens a Cristo ou à Igreja”. O entrevistado já explicou o sentido da frase, mas não conseguiu acalmar os ânimos. Juntam-se ainda as piadas que o cardeal, que vai entrar para o Colégio Cardinalício a 30 de setembro, em Roma, tanto gosta de fazer. Sobre se a amnistia que será concedida na vinda do Papa a Portugal deveria ser para todas as pessoas e não apenas para jovens, D. Américo disse aos jornalistas que o perdão de penas também seria bom para ele porque tem “umas multazinhas” para pagar. Há dias, ao falar da viagem programada a Israel e à Palestina, fez saber que “não há nada como ir à terra do patrão”. “Ele toda a vida foi assim, frontal, trabalhador e humilde, mas sempre gostou de dizer umas piadas”, diz à NM Sérgio Carvalho, colega do “cardeal”, como era conhecido entre os seus pares. “O único cardeal que o Porto teve foi D. Américo, no século XIX, e havia um retrato dele no seminário. Por ter o mesmo nome, começamos a chamar-lhe Cardeal Américo”, recorda o colega que entende o apelido como “uma profecia”.

Nascido a 12 de dezembro de 1973, em Leça do Balio, no concelho de Matosinhos, entrou para o Seminário Maior do Porto aos 22 anos e foi ordenado padre em 2001. O “empurrão” para ser padre, lembra Narciso Miranda, o ex-presidente da Câmara de Matosinhos, terá sido dado pelo histórico socialista. “Convenci-o a ser deputado municipal pelo Partido Socialista e sempre tive um grande carinho e consideração por ele”, frisa. “Antes de entrar para o seminário estava com muitas dúvidas, pediu para falar comigo e foi jantar a minha casa. Saiu de lá quase com a mala feita”, brinca Narciso Miranda.

Os primeiros anos de sacerdócio passou-os em Campanhã, mas foi no Paço Episcopal do Porto que esteve a maior parte do seu tempo ao serviço da Igreja: dirigiu o departamento de comunicação da Diocese, foi vigário-geral, chefe de gabinete de D. Armindo Lopes Coelho, D. Manuel Clemente e D. António Francisco dos Santos e capelão-mor da Misericórdia do Porto. Durante esse período acumulou também a vice-reitoria do Santuário de Santa Rita, em Ermesinde, e foi pároco da Sé. Foi também presidente da Irmandade dos Clérigos e diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais e presidente do Conselho de Gerência do Grupo Renascença, e sofreu muitas críticas quando, há poucos meses, decidiu alterar o horário da recitação do Terço das 18.30 horas para as 20.30 horas. O horário não era alterado desde 1968 e a explicação para a mudança foi de que o novo horário “é o que mais se adequada ao atual estilo de vida”.

Nomeado bispo a 1 de março de 2019, a cerimónia de ordenação realizou-se no dia 31 do mesmo mês na Igreja da Trindade, no Porto. Nesse domingo, Américo Aguiar fez, de manhã, o funeral da mãe e, à tarde, assumiu funções de bispo auxiliar de Lisboa. Mais tarde recordou que nunca o seu lema episcopal “In manus tuas” teve tanto significado como naqueles dias.

“Ele tem recebido algumas críticas mas conheço-o muito bem e não entendo porquê. É humano, tem defeitos e qualidades mas, sinceramente, não me lembro de nenhum grande defeito”, finaliza Sérgio Carvalho.

Américo Manuel Alves Aguiar
Cargo: bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023
Nascimento: 12/12/1973 (49 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Leça do Balio)