A manhã em que um Avro Lancaster amarou em Vila do Conde

Frame de filme realizado por Bruno Costa

A rubrica "Máquina do Tempo" desta semana recorda o dia em que os pescadores de Vila Chã ajudaram um grupo de pilotos da RAF durante a Segunda Guerra Mundial.

A manhã mal começara a despontar e o roncar dos motores já agitava a vila. 17 de setembro de 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, o Avro Lancaster MkIII EE106, parte do 619º Esquadrão da RAF realizou uma amaragem forçada na zona costeira de Vila Chã, em Vila do Conde. Pescadores, mulheres e crianças acorreram ao local, resgatando os sete tripulantes.

A história tinha começado na desafiadora noite de 16 de setembro. O bombardeiro, baseado em Coningsby, Inglaterra, descolou às 20 horas para uma missão ousada: atacar viadutos de ferrovia em Antheór, no sul da França. Sob o manto da escuridão, a tripulação enfrentou o perigo iminente da antiaérea, mas escapou com danos leves. Só que o retorno à base não correu como esperado. Com o mau tempo e a visibilidade reduzida, a aeronave perdeu-se. Quando finalmente conseguiu orientar-se, a tripulação percebeu que estava no norte da Espanha, no Golfo da Biscaia. O combustível escasso tornou impossível alcançar Inglaterra ou Gibraltar. Só havia uma solução, a costa portuguesa.

Rickard, J

Depois de duas passagens arriscadas em baixa altitude, a equipa decidiu amarar nas águas das praias de Vila Chã, parando a menos de 200 metros da Praia do Puço. Ajudados pelos locais, saíram ilesos do avião, mas só depois de destruir todos os equipamentos eletrónicos considerados secretos. Inicialmente, os sete foram levados para o Porto. Posteriormente, seguiram para Lisboa. Chegaram a Elvas a 28 de setembro e foram repatriados a 18 de outubro.

A 22 de novembro de 2015, a população ergueu um memorial no local, que desde então tem sido visitado por diversas famílias de membros da tripulação, honrando o episódio, uma lembrança poderosa de que, mesmo nas situações mais adversas, a compaixão e a solidariedade podem prevalecer.