Sanna Marin: a rapariga suómi

Sanna Marin é primeira-ministra da Finlândia

Social-democrata e feminista, tem como valores a liberdade, a igualdade e a solidariedade. Cresceu “numa família arco-íris, cheia de amor”, mas sob constante pressão financeira. Trabalhou numa padaria, distribuiu revistas, foi caixa numa loja. É desde 2019 chefe de Governo. A mais jovem de sempre na Finlândia.

Em Kesäranta, residência oficial dos primeiros-ministros da Finlândia, enquadradas pelo arvoredo que cerca a vila e as águas da baía de Seurasaarenselkä, cinco jovens mulheres – apenas uma tem mais de 34 anos -, descontraídas, sorriem. Juntas, governam o país, e a fotografia, colorida e viral, precede a reunião destinada a discutir o orçamento para 2021.

No comando, Sanna Marin. Chefe de Governo mais jovem de sempre, fora eleita em 2019. Um ano depois, podia bem sorrir. O plano do Executivo para combate à pandemia que assolava o Mundo, exemplo reconhecido pelos restantes países, estava a resultar, tornando a primeira-ministra merecedora de uma taxa de aprovação de 85%. Aprovação que mantém, hoje, rosto de uma decisão que ficará para a história do país: o pedido de adesão à NATO.

É social-democrata e, sabe-se, trata os membros do partido por camaradas. Faz questão. No mundo relativamente polido da política finlandesa, o discurso direto e objetivo a que recorre recebe elogios de aliados e de adversários. Mas a forte visão ideológica, a defesa de políticas progressistas – descarbonização, apoio a refugiados, aumento de impostos sobre os ganhos do capital -, que a colocam à esquerda do antecessor, Antti Rinne (de quem foi ministra dos Transportes e Comunicações), fazem temer o centro-direita. Descrevem-na “o primeiro-ministro mais à esquerda que a Finlândia já teve”.

É feminista, nascida no primeiro país do Mundo a consignar os direitos parlamentares às mulheres. Foi em 1906. No ano seguinte, 19 delas foram eleitas para o Parlamento. Em 2000, a república escolheu a primeira presidente feminina, Tarja Halonen. Em 2003, aconteceu a estreia de uma primeira-ministra – Anneli Jaatteenmaki. Em 2010, foi a vez de Mari Kiviniemi. “Agora, temos a mais jovem líder de um país, e o Parlamento com o maior número de deputadas de sempre, mas sem uma mudança radical.”

Ainda a fotografia de 2020. Cinco mulheres. Brancas, de classe média, com formação universitária. “Se realmente olharmos para a igualdade, ela ainda não aparece nesta foto”, diz uma ativista. Um relatório do Conselho da Europa (2019) denuncia que 63% das pessoas de ascendência africana sofrem assédio racista regular na Finlândia – a taxa mais alta na Europa. E atualmente há apenas uma deputada negra no Parlamento (Bella Forsgren).

“É claro que as nossas origens ainda afetam as possibilidades que temos na vida e isso não deveria acontecer”, admite Sanna Marin. Lembra, porém, que a mudança só será possível se ao trabalho dela se juntar o de todos os finlandeses.

Foi moldada numa família operária. “Como muitos outros finlandeses, a minha família está cheia de histórias tristes”, escreveu no blogue pessoal, em 2016. Cresceu em Pirkkala, pequena cidade do sudoeste, ao cuidado da mãe, criada num orfanato, e da namorada desta. Uma “família arco-íris, cheia de amor”, descreve, mas sob constante pressão financeira. O pai, alcoólico, raramente estava presente.

Marin representa o modelo nórdico igualitário da social-democracia. O interesse pela política iniciou-se na Universidade de Tampere, onde obteve bacharelado e mestrado. Em 2012, foi eleita vereadora da Câmara Municipal. Pouco depois, presidente. Eleita vice-presidente nacional dos social-democratas em 2014, concorreu ao Parlamento pela primeira vez no ano seguinte. “Influenciar e participar são direitos civis. Mudar as coisas requer compromisso. O estado de bem-estar social ou as regras da vida profissional não são uma conclusão precipitada, mas o resultado do trabalho árduo.” Tem como “valores fundamentais” a liberdade, a igualdade, a solidariedade. “A liberdade de fazer e de alcançar as coisas, garantindo direitos sociais iguais para todos. A liberdade genuína requer igualdade, e o papel da política é desmantelar e mudar as estruturas que discriminam, na necessidade permanente de solidariedade, de forma a garantir às gerações futuras a oportunidade de terem uma vida boa e digna.”

Adolescente, trabalhou numa padaria, aluna liceal, distribuiu revistas, universitária foi caixa, numa loja de retalho. “Vendedora”, chamou-lhe o ministro do Interior da Estónia e líder do partido de extrema-direita EKRE, em 2019, tentando diminuir a recém-eleita primeira-ministra suómi. A Estónia pediria desculpas oficiais. Sanna Marin é casada e tem uma filha, Emma, de três anos.

Sanna Mirella Marin
Cargo:
primeira-ministra da Finlândia
Nascimento: 16/11/1985 (36 anos)
Nacionalidade: Finlandesa